sábado, 15 de dezembro de 2018

Giro de Moto pela América do Sul - Parte III

O legado dos Incas, as vestes, os agasalhos coloridos, a música, a arquitetura, as comidas, Machu Picchu, Cusco, Puno e tantos outros. 
Tudo isso bem ali a nossa frente, a poucos quilômetros ...
Estávamos ingressando vagarosamente no mágico Peru. Devagar, para que os sonhos não escapulissem, mais ....


  Em solo Peruano  
Em 11 de novembro,
num ensolarado domingo, foi quando começamos a conhecer de perto os encantos peruanos.

Estávamos iniciando a segunda parte da nossa jornada.


                               Os primeiros registros
Alberto, Geomário, Arli, Dani, Telma, Márcio, Gilberto Cesar, Nelsi e Afonso
Na imagem registrada pelo Pacheco, o tão sonhado portal peruano.
Alberto, Márcio Arli, Geomário, Gilberto Cesar, Pacheco
Telma, Nelsi e Afonso


Não é repetição, mas  na foto registrada pela Dani, agora está o Pacheco - ainda de que com capacete na cabeça - um outro registro do Portal de Ingresso no Peru.

                  Os trâmites na fronteira, de ingresso no Peru, não foram dos mais simples não! As repartições não se encontram lado a lado, como é comum em quase todas as fronteiras. É preciso ir de um prédio para outro, retornar a um outro, pegar um formulário acolá e retornar ao ponto de origem.
                  Afonso, Nelsi e eu,começamos esses trâmites sem a presença dos demais parceiros. Nos desencontramos em uma da rótulas, já nos arredores da saída da cidade de AricaA existência de  uma só rodovia que levaria para a fronteira, sendo apenas 15 quilômetros nos separando desta, nos deu firmeza em ir em frente. A turma logo chegaria, foi o raciocínio que por fim deu muito certo.
          Na verdade, quando os demais chegaram ao posto fronteiriço, servimos nós de guias e facilitadores, uma vez que já efetuáramos, praticamente, todos os trâmites. 
O calor reinante  e um vento forte complicaram bastante as nossas vidas ali, chegando quase ao ponto da irritabilidade para alguns. O que faço? ... como faço?  ... onde pego o formulário ?   e depois vai onde? .....  Tens uma caneta aí?  Eram estes e outros tantos questionamentos aos quais estávamos respondendo, mantendo a calma com os nossos parceiros.
Pacheco, preencchedo o formulário
do SOAT
Mas tudo deu certo. Logo passamos a alfândega e, de plano, já atendendo a uma solicitação de lei, tratamos da aquisição do SOAT, o seguro peruano de rodagem para os estrangeiros.
    Várias bancas com vendas de  outros produtos, tais como águas, refrigerantes, sucos e frutas, também vendem o seguro. Você preenche um formulário, paga o valor correspondente e está pronto. São muitos os corretores a beira da estrada!

                As corretoras, que estavam nos atendendo, preenchiam alguns campos dos formulários, ao mesmo tempo em que eram também bombardeadas com perguntas a respeito da validade e veracidade daqueles preenchimentos, daqueles formulários e daquela facilidade, sem que houvesse envolvimento bancário ou coisa do gênero.  Tudo é quentíssimo!  ... respondiam.
            Ao final, elas faziam a chamada por passaporte:  fulano... aqui!.... beltrano.. aqui! e  iam entregando o passaporte mais o SOAT.
             Quem é Márcio? ... perguntou uma delas ....  Eu aqui, respondeu o macapaense, se apresentando.       Churros!!  disse ela numa espantada expressão, ao mesmo tempo em que alcançava os documentos para o parceiro que, totalmente ruborizado, ouviu imediatamente apupos e zombaria da galera....   que em bom tom repetiam:  .... Churrus!   Dulce!  Xuxú !  Bombom!  ..... e tal.


E as corretoras solicitaram uma foto com a rapaziada.

                     Depois desta parada obrigatória, saímos em direção à cidade de Tacna, a 50 km, destino de orimeiro pernoite em solo peruano.. Para tal, utilizamos a rodovia Panamerica Sur.

Tacna, a primeira cidade
 Peru dava continuidade às belas paisagens naturais, as quais vínhamos tendo ao longo do Chile. Razão para mais uma parada. Agora em um mirante, para poder admirar melhor alguns desfiladeiros, penhascos e, ao longe, em uma montanha, algumas inscrições e desenhos rudimentares.


           Era final de tarde quando adentramos nas ruas centrais da cidade. O movimento de veículos era igual aos da grande maioria das cidades de médio porte, ou seja:  deslocamentos lentos, típicos de passeio e voltinhas pela cidade.
Com o nome e a indicação de endereço do Hotel, os três GPS's  indicavam o que não conseguíamos visualizar. Não existia a indicação em frente à fachada. Para piorar, a garagem, até então também procurada, se encontrava na rua posterior, na parte dos fundos e sendo esta rua contra-mão. 
                              Algumas reclamações. Outras gesticulações. O calor. A falta de paciência de uns. A calmaria de outros. Tudo isso foi acontecendo em plena rodagem, até que se parou de vez e uns cambistas, instalados nas proximidades da praça central, acabaram por nos orientar. Aproveitaram, também, para nos oferecer o câmbio de moedas, ao que prometemos fazer assim que nos encontrássemos instalados.
Depois de instalados, o hotel estava situado na avenida principal em área muito central. Realmente voltamos às imediações da praça central para a feitura de câmbio. Na fronteira onde passáramos há poucas horas, a utilização da moeda chilena é de tranquila aceitação. Porém agora, já em Tacna, o melhor seria possuir os respectivos soles, (sol ou novo sol)- o dinheiro peruano.
                                Lograda  então esta etapa, sair para conhecer Tacna e também tratar da alimentação.

Em frente da igreja fica o Arco Parabólico, um dos cartões postais da cidade. A obra tem 18 metros de altura e  homenageia os soldados que lutaram na Guerra do Pacifico, um grande confronto que envolveu o vizinho Chile, de 1879 à 1883, ocasião em que Peru e Bolívia perderam grandes porções de terras ricas em minerais.



T
ambém a catedral se configura como um cartão postal. Frente a ela, grandes canteiros com  flores naturais se estendem, passando inclusive pelo Arco Parabólico. Vistos de  longe, ambos parecem se completar, tal as respectivas  belezas arquitetônicas.  





Depois dos passeios, o grupo adentrou numa pizzaria para tratar de  recompor as energias, efetuar os comentários do dia, bem como para acertar o dia seguinte, como costumeiramente se fazia  a cada final de jornada.
Na pizzaria na cidade de Tacna
Alberto, Dani, Pacheco, Arli, Geomário e Márcio
Gilberto Cesar, Afonso, Nelsi e Telma.
Todos provando da boníssima cerveja Cusceña

Um pouco mais à noite, depois do jantar, uma outra caminhada pela praça principal. Lá se apresentavam um grupo musical e um  grupo de danças típicas da região. Um pequeno público assistia a esta apresentação.
                              
          Por acerto, a retomada da viagem, na manhã seguinte, seria um pouco mais tarde, em função de que alguns não se sentiram muito à vontade em realizar o câmbio de moedas com os cambistas na praça da cidade.Daí, esperar a abertura das agencia de turismo ou casa de câmbio, as quais começariam seus expedientes a partir das nove horas da segunda-feira.

Em função disso, o café da manhã foi com mais vagar. Sobrou tempo para uma caminha por uma outra rua nas proximidades do hotel, cujo plantio de grandes árvores e de várias esculturas, a tornam mais uma verdadeira beleza da cidade.  Também uma passada rápida por um dos cassinos, também nas redondezas do hotel, onde a segurança não achou de bom tom a tentativa de fotografar o ambiente. O recado foi entendido e logo deixamos o local.
Gilberto Cesar, Pacheco e Arli,  ... passeio matinal em Tacna


A caminho de Puno   
                  Foi por volta das 10 horas que praticamente todos estavam prontos para o recomeço da viagem. Aqui, Arli constatou que o aro dianteiro da sua motocicleta estava um pouco amassado. Certamente em função de algum buraco, ou coisa assim, que tenha passado por uma das rodovias.  .... Mais um aro ... disparou Arli... recém coloquei este e já está amassado.  
Alberto vistoriou a roda dianteira, dizendo logo em seguida... Não é nada parceiro Arli ... pode tocar tranquilamente.
                                   O grupo foi deixando a cidade de Tacna, ganhando, aos poucos, a rodovia. O destino final do dia: a cidade de Puno.
Na primeira hora de viagem, uma parada obrigatória na aduana e posto de controle na localidade de Tomasiri. Aqui, todos os passaportes foram recolhidos e xerocados. Havendo ainda exame aleatório em algumas das bagagens e checagem quanto à propriedade dos veículos, por meio de cada um dos  certificados.  Também neste posto, um dos policiais indagou a respeito do nosso destino:  Cusco, Machu Piccho e depois La Paz, foi o que falamos, ao que ele ponderou:  terão que ir a Puno e depois retornar tudo novamente até Puno para para pegarem o rumo da Bolívia. 
Pelo nosso trajeto d'antes traçado, é claro que sabíamos disso, mas um dos nossos, penso que meio desavisado, assim mesmo  lascou:  ...    mas não tem outro caminho? ....  refazer tudo de novo?  ....   Ao que respondemos ... Não! Não há um outro trajeto
                                        Feita a tramitação. Tudo bem legal e deixamos o posto aduaneiro de Tomasiri.
       Aos 47 km rodados, desde esta última parada, fizemos o reabastecimento nas proximidades  da cidade de Camiara. Aqui foi o primeiro reabastecimento das motocicletas e camionete em solo peruano. 
      Diferenciou-se dos demais, quanto ao volume abastecido. Contam eles por galões abastecidos, onde um galão corresponde 3.700 litros. O apontamento consta na própria bomba do posto.

                                              A hora do almoço,  no entanto, estava já bem próxima. Um restaurante começou a ser buscando. De preferência à beira da estrada mesmo, de modo a não se gastar muito tempo. Conseguimos um, não tanto fora da estrada, porém numa rua desprovida de calçamento. Estávamos na localidade de Moqueguá.
Em pouco tempo, vimos uma placa que indicava para o El Conde, onde paramos para efetuar a refeição.
Pelas indicações do cardápio, um "achado" para uns. Eis que o prato da casa apresentava o "cuy" como primeira opção. 
       Cuy é uma espécie de Porquinho da Índia, nativo da Cordilheira dos Andes. De plano, Arli, Geomário, Telma e Márcio solicitaram o Cuy frito. Os demais foram então de Pollo ou Carne de Cerdo, com saladas e batatas.

O proprietáro do El Conde
      No restaurante, um pouco empoeirado por todos os lados, a cobertura era feita  em palhas, muito espaçadas entre si, de modo a aliviar o calor. Essa foi a explicação dos atendentes. No caso, o  próprio casal  proprietário, Daniel e Elza.  Ele se esmerava no atendimento aos clientes. E ela na cozinha, na preparação dos pratos.



             De clientes, somente nós, até aquele momento. 

Alberto e Dani
um prato a base de batatas


Nelsi, Afonso, Pacheco e Gilberto Cesar
prato à base de Pollo

 Geomário, Telma, Márcio e Arli, a espera do Cuyo frito. 

Mão ou pata to Cuyo
sobre a mão da Telma
uma brincadeiro do
Geomário
Ao chegar o prato deu para ver que a aparência  não era das mais agradáveis. Telma prontamente abriu mão e solicitou então um outro prato, e ...  ... às pressas.
Os dois bichinhos solicitados vieram super inteirinhos em um prato  para a mesa

 Disseram Arli, e Geomário: ... vocês perderam! o prato estava sensacional!
                                Ao deixamos o El Conde, dois outros clientes estavam ingressando no recinto. Os relógios já estavam marcando 14 horas. 
Local da parada em Torata
Nós tratamos de deixar um pouco a poeria para trás, e voltamos para a estrada. Nova parada em Torata para reabastecimento. Quase todos sentindo novamente a altitude. Agora eram 2.200 metros. A troca acentuada de temperatura também se fez sentir.
                                      Já passava das 16 horas, quando  a ausência de postos de combustíveis começou a preocupar. Principalmente ao parceiro Pacheco, pois a autonomia da sua 650 vai a pouco mais de 200 km. Arli Figueira então atentou para uma pequena placa, tipo feita em casa, onde se lia:  venta de combustible.

Um verdadeiro achado, num povoado no meio do quase nada.

Uma senhora, lá com seus mais de 70 anos, era quem atendia em uma pequeno compartimento com chão batido e apenas uma porta. O cheiro de combustível era tremendo.
De pouquíssimas palavras, a anciã não permitiu visualizarmos os líquido que iria colocar nos tanques. Não permitiu fotografias, limitando-se tão somente a pegar os 15 soles equivalentes ao combustível colocado nas motocicletas.
Aí não deve ter nem dois litros de gasolina! Foi o comentário que o Arli fez.
E seguimos em frente. Continuando a subir serras com o frio muito presente e já o prenúncio do final de tarde.
Nova parada em uma espécie de mirante, mais para a colocação de roupas apropriadas para o frio, que estava começando a nos castigar. Algumas poucas palavras e, ao sinal positivo de Alberto e Dani, que ainda não estavam sobre a motocicleta, e o restante recomeçou o deslocamento.
Contrário ao que acontecera em todo o trajeto até ali percorrido, a frente agora iam Pacheco, a camionete e eu.
Márcio e Geomário que sempre pontearam, deixaram-se cruzar. Arli ficara no meio desta composição.

Noite e muito frio 
Caiu a noite rapidamente. Um vento gelado começou a soprar. Aos poucos, somente o brilho dos faróis é que eram vistos.
Com este cenário, chegamos à localidade de Titire, a 168 km desde o último reabastecimento. Fomos diretamente para o posto de combustível, dentre outros, aguardar pelos parceiros.
Passaram-se pouco mais de trinta minutos, quando a preocupação começou a se agigantar. Olhos para a curso da estrada e somente a escuridão. Nada de reflexos ou sinais de faróis. Inquietação, indagação e uma quase saída de retorno para a estrada.
Bem depois, as motos roncaram no início do pequeno povoado.
Onde andavam? ... Por quê a demora? .... o que houve?
Perguntas que efetuamos, ao estilo metralhadora.

Como não escutáramos o barulho do ronco dos motores na chegada ao povoado, quando os escutamos, pensamos estarem chegando, quando na verdade já se encontravam por ali e a pouco mais de 150 metros do posto de combustível onde estávamos.



O Alberto encarangou! ... respondeu o Arli.


Eu tive que emprestar minhas roupas segunda pele para extremo frio, foi que disse o Geomário.


Ele passou mal, disse a Dani. Até a minha jaqueta de chuva ele está usando.



Nós paramos ali, perto daquela praça, aqui mesmo disse o Márcio. Batemos naquela casa, entramos, e tratamos de aquecer o Alberto .....



Nós abraçamos ele, completou a Dani, de modo a impedir uma hipotermia,.... .... e deu tudo certo!




hipotermia ocorre quando a temperatura normal do corpo, que é 37ºC desce para menos de 35ºC . A hipotermia é normalmente causada pela longa permanência num ambiente frio ou pela exposição prolongada à chuva, ao vento, à neve ou a imersão em água fria.
                                   Pelos rápidos relatos, constatamos que fora trágico o que se passara com o macapaense Alberto.
Tudo restabelecido, e em comum acordo, fomos tocando rodas para Puno, o destino traçado para o final daquele dia. Antes, pensáramos pernoitar naquele povoamento. Mas restavam pouco menos de 100 km, onde chegaríamos a uma altitude de 3.820 metros.
Noite escura, ronco de motores, velocidade média e preocupação. Parecia ser somente isto o que tínhamos naqueles quilômetros que ainda nos separavam de Puno. Ao longe, as luzes desta cidade foram se deixando ver e, seguindo os GPS's, dos novamente ponteiros, Márcio e Geomário, fomos indo em direção ao hotel, já devidamente reservado.

Susto e Nervos em Puno 
Já na cidade, o ingresso em uma rua à esquerda. Uma descomunal e íngreme subida. Então, acelerar as motos para chegar ao topo. Foi o que fizemos, seguidos de perto pela camionete,
No topo, duas surpresas:
a primeira: uma vala, de porte avantajado, para escoamento das águas das chuvas rasgava todo o topo.
a segunda: um trânsito intenso na rua de cima, com parada obrigatória para quem a lomba subia.
... um verdadeiro Deus nos acuda!
E o pânico se instalou de vez ......


Geomário teve a roda dianteira presa na vala ! Telma, desceu rapidamente da motos e tentou "segurar" o trânsito para que a motos completassem a subida:
O barulho dos motores era por demais forte!
Consegui cruzar pelo Geomário, depois o Arli e mais o Márcio.
Praticamente largamos as motos na rua plana e retornamos para ajudar os parceiros, empurrando e equilibrando as motocicletas.
A camionete, quase que num balet, estava sendo segura na embreagem, ao mesmo tempo em que protegia as motocicletas na retaguarda.
Na correria, todos foram concluindo a subida com imediata parada. Na verdade, obrigatória!! Necessária para a recomposição e o descanso. Tudo num silêncio quase profundo. Quebrado, pouco depois, pelo Pacheco que disse: eu me superei ... achei que iria descer lomba a baixo com moto e tudo.....
eu também, disse um outro ...
e eu quase, replicou mais um ...
Um verdadeiro Deus nos acuda!! foram, com certeza, aqueles longos minutos.
Recuperados, continuamos rapidamente para o hotel. Já passavam das 21 horas. Hora de merecido descanso. Porém, não foi bem isso oque se sucedeu. Os GPS's indicavam a proximidade do comboio ao local de hospedagem.
Mas cadê o hotel? Se perguntavam todos quase ao mesmo tempo, agora já parados em uma rua muio estreita. Uns chegaram a "meio que estacionar". Outros, simplesmente pararam as motocicletas no próprio leito da ruela.
  Aqui, descobrimos o quanto os peruanos se utilizam do elemento buzina de veículo. Os táxis buzinavam, cada qual,oferecendo seus serviços. Outros tantos, cumprimentavam o comboio, mal sabendo do desespero e cansaço do grupo. Outros, buzinavam para que a ruela ficasse mais liberada, pois se já estreita, agora era diminuta.
Márcio resolveu então ligar para o hotel, obtendo como reposta: vocês na rua de cima. Desçam a lomba.
Lomba? mais uma? onde está o hotel? Ao que voltou a responder o atendente: venham até o estacionamento da próxima rua. Venham devagar que é uma lomba grande. Vou esperar você lá e depois subimos a pé para o hotel.
Em meio a isso, Afonso reclamou que algumas motocicletas estavam buzinando para que a camionete abrisse espaço para as motos. ... Mas não tem como, vejam o espaço que tenho !
Não fomos nós, disse o Pacheco. São os carros que cruzam!
Eu escutei Pacheco, replicou o santa-cruzense.
Então tu sabe que não fomos nós, atalhou o Arli.
Gente, vamos nos acalmar e nos concentrar no hotel. O que precisamos é uma hospedagem rápida, foi o que ponderei ao trio que, sabidamente se encontrava, tal qual a todos, esgotados no tangente a tolerância e serenidade.
E chegamos ao estacionamento terceirizado, é bem verdade. Lá estava o sujeito que se apresentou como dono do estabelecimento.
Aqui, foi a vez do Arli reclamar da minha motocicleta. Embora colocada obliquamente, na citada rua estreita antes referida, teria prejudicado a colocação da sua e das outras motocicletas em linha correta de estacionamento.
Deixei a situação por assim mesmo. Entendo que era minha a obrigação de saber que o desequilíbrio gera o descontrole e este por sua vez gera a rispidez que se materializa na forma de palavras ou de ações. Se a isso alimentasse, no afã dos acontecimentos, o que teríamos seria uma cadeia de vitimados por uma ação tantã.
E subimos uma grande lomba, Coisa de setenta metros. Enfim, ingressamos no hotel, cada qual em sua verdadeira gritaria. As duplas falavam alto. Três ou quatro comentavam tudo quase ao mesmo tempo.
Um tanto surpreendida, a proprietária do hotel que nos aguardava para os devidos registros, largou tudo e começou a servir, imediatamente, copos com chá de coca a todos. Um copo, dois copos e, assim, aos poucos, o silêncio foi quase que total. Cada qual fez seu registro e pegaram o caminho dos quartos.
Um tanto depois, perguntei a respeito de um restaurante. E sozinho me dirigi ao local, que distava uma quadra e meia, também lomba a baixo.
Minutos depois, adentraram no mesmo restaurante Afonso e Nelsi seguidos depois pelo Pachedo e por fim o Arli.
Silenciados, e com poucos monossílabos, tratamos de nos alimentar. Os macapaenses, exaustos - soubemos por meio de nota - resolveram ficar no hotel.
Afonso aproveitou o intento para dizer que havia comentado, ainda que rapidamente, com o proprietário do hotel a respeito do nosso trajeto, pois fora perguntado.
Acho melhor vocês fazerem a base para Machu Picchu em Ollantaytambo. É de lá que saem os trens para Águas Calientes e desta partem os ônibus para Machu Picchu, teria lhe dito o indivíduo.
E tem mais, me disse Afonso: o sujeito irá fazer uma proposta de agenciamento com passagem de trem, hotel, e ingresso para Machu Picchu. Ele quer nos mostrar a proposta agora quando do nosso retorno ao hotel. Que te parece?
Vamos sentar, ver e discutir, foi o que respondi, Depois, precisamos mostrar para o grupo entender e decidir, visto que isso altera o trajeto em muito a maneira pela qual estávamos nos propondo até a este momento.
E de fato, ao retornarmos para o hotel, lá estava o proprietário e o agenciador turístico, com diversas anotações em folhas soltas, as quais passou a detalhar para Afonso e eu.
Depois de inúmeras considerações, adequações, vários telefonemas por parte dele para outras pessoas em Cusco e Águas Calientes, ele nos entregou um rascunho final, que seria a tal proposta. Já passava da primeira hora da manhã daquele dia 14 novembro, quando dissemos ao sujeito que faríamos uma reunião com todos, bem cedo, para a apresentação da proposta.
A proposta estava cotada em dólares.

De volta ao quarto, o qual iria dividir com o Pacheco, cheguei em tempo de corrigi-lo quanto à cidade em que estávamos naquele momento. Puno, disse eu. Nós estamos em Puno. Pacheco contava os acontecimentos do dia para sua companheira, a Betinha, lá em Bagé. Lá pela tantas estava disse: nós estamos em Kune .... em Kune ... ao que certamente a Betinha, que estava acompanhando a viagem pela internet, não encontrava Kune, via rede social.
Por volta das 5 horas, com o dia já totalmente às claras e com bastante sol, encaminhei nota ao grupo atentando para a necessidade uma reunião durante o café. Solicitei que cada qual tentasse não ser o último a se apresentar.

A mudança de rumo 
Na foto de Telma, a reunião com o grupo na cidade de Puno
Aquietados, todos compareceram um pouco antes, inclusive, do horário marcado para que o café fosse servido.
De plano, tratei de esclarecer os motivos da reunião, bem como imediatamente os posicionei a respeito da proposta, passando logo a seguir ao detalhamento.
Do exposto, foi aprovado tão somente a questão do deslocamento da base, que ao invés de ser na cidade de Cusco, passou para a cidade de Ollantaytambo.
.... Eu já estive nesta cidade, atalhou o Geomário, em uma outra vez que fui a Machu Picchu com a Telma. É uma cidade bastante turística. Vale muito a pena conhecer, ponderou o macapaense.
A provado isso, ficou acertado então que precisaríamos rodar uns 300 km a mais do que os previstos até então para aquele dia. Cruzar por fora da cidade de Cusco, para desta forma evitar o trânsito de final de tarde, e com isso encurtar as distâncias, foi o que ficou acertado com a turma dos GPS's.
Certo, foi que responderam todos, estabelecendo-se ainda que não haveria grande parada para almoço, mas sim um lanche ao meio dia. Também as paradas seriam curtas para reabastecimentos, de modo a se ganhar tempo.
Quanto aos passeios, deslocamentos e compra de ingresso para o sítio arqueológico, ficou ratificado que o grupo buscaria por si , tal qual previsto na programação estabelecida.
E tratamos então de deixar o hotel, subir a lomba até o estacionamento, pegar as motos e partir.
 Todos se aprontando e Nelsi ainda atentou para a necessidade de parar em uma farmácia. Precisava comprar um produto.

No estacionamento tomamos conhecimento de um pequeno veículo, com três rodas, muito parecido com as antigas romi-isetas que rodaram no Brasil nos anos 60. Trata-se de um triciclo indiano, que no Peru, a partir desta região, é muito utilizado como táxi e também para transporte de pequenas cargas.


E começamos a deixar o estacionamento rumo a Ollantaytambo.
Já no primeiro segundo de deslocamento a primeira fragmentação do comboio. Afonso com a camionete, seguido do Arli, saíram do interior do estacionamento, alcançaram a rua e o semáforo fechou. Camionete e motocicleta foram " obrigados" a continuaram e logo viraram à direito e se foram.
Sinal novamente aberto, o comboio saiu cadenciadamente, ganhando a rua e os motociclista da ponta. Márcio e Geomário recusaram ingressar à direita, eis que havia uma lombada íngreme. Continuamos então por mais dois quarteirões e paramos para esperar a dupla que se adiantara, pouco antes. Eis que surgem Arli à frente e logo na sequencia a camionete. Pararam e Afonso então relatou que ingressaram em uma rua muito íngreme. A moto do Arli apagou lá em cima e o parceio deitou ao solo.
Foi horrível a correria. Consegui cruzar, estacionar a camionete e voltar para ajudar o parceiro.
A moto praticamente virou de lado, ou seja, a parte da frente virou totalmente para trás, complementou o Arli. Daí o Afonso pilotou para mim até a rua plana. Foi um sufoco, concluiu.
Feito isso, agrupou-se o comboio e continuamos a jornada. Aos poucos fomos deixando Puno, que aliás, é a cidade base para visitação ao Lago Titicaca do lado peruano.
Para esta cidade havíamos programado passeios por duas ilhas e também passeios pelo centro da cidade, onde tem muitas atrações.
Consciente de que nossa desastrada chegada à cidade foi puro acidente de percurso, e que ainda ingressamos por um dos lados mais complicados para pilotagem e deslocamentos, fez com deixássemos passar em branco a agenda, antes programada para esta cidade.

Em 48 km chegamos a Juliaca, uma cidade até então nada conhecida pelo nosso grupo, mas que em questão de minutos surpreendeu, assustou e apavorou.
Juliaca é cortada por uma grande avenida. Praticamente não dispõe de semáforos. O trânsito é caótico ao extremo. onde impera ferozmente a lei dos mais audaciosos no volante ou no guidão.



Aqui, os carrinhos de três rodas, os indianos, de tantos que são, se parecem mais com pulgas a se multiplicarem em um hospedeiro.
Todo o cuidado era pouco. Toda a atenção foi necessária de modo a evitar abalroamentos..
Os GPS's por suas vezes, não nos ajudavam muito e por mais de uma vez paramos em ruas sem saídas ou numa outra, totalmente desprovida de calçamento e com presença de buracos muito similares a crateras.
Irritação, calor, lentidão, buzinas para todos os lados, corta-corta a frente, o lado, a traseira.... corta-corta de tudo... Juliaca foi realmente o caos do caos. Uma sensação de babel ao vivo.
A muito custo, deixamos Juliaca. Continuamos o percurso cruzando por uma série de pequenos povoados, onde o destaque ficou mesmo por conta das lombadas. Eram tipo quebra molas, que além de diversas, a cada localidade se destacavam mais pela altura. As motos custons, se por um descuido, batiam com a parte posterior no concreto.
Em uma dessas localidade, uma parada rápida para que Nelsi pudesse ir a farmácia, pois não pode ir lá em Puno. Dani aproveitou também para ir ao mesmo local e depois em um pequeno bar para utilizar o banheiro. Agradecida, deu a a senhora que cedera o banheiro, um chaveiro alusivo à viagem, ao que a peruana ficou muito grata. Ao sair, Dani escutou da senhora: o baño custa um sol, senhorita. Dani obviamente que sem jeito, pagou.
Em Puacará, já beirando o meio dia, todos ao lanche e, praticamente, a mesma pedida: sanduíche com pollo de modo a não atrasar o comboio, conforme combinado.
Às 14h30 reabastecimento na cidade de Sicuani, com uma parada um pouco prolongada. Afinal, as fisionomias denunciavam algum cansaço.
Não prevista e fora dos padrões até então adotado para as interrupções da jornada, a parada na localidade de Urcos aconteceu em plena praça principal. Mais precisamente em uma das esquinas. Com um movimento razoável para aquela terça-feira, 13, passando um pouco das 16 horas, estacionar as motos já foi um pouco complicado, o que se configurou dificílimo para a camionete.


Afonso até tentou, dando uma volta na praça, porém sem sucesso. , Prosseguiu em direção à estrada que leva para os 106 km que nos divisavam de Ollantaytambo.
A turma das motos ainda ficou por um bom tempo ali se refrescando e mirando o movimento para depois, sem que se soubesse quem indicara,ou quem iniciara a tal interrupção, reiniciar o percurso.
A camionete se fora. Seguimos então para a cidade destino daquele dia.

Uma queda e um estrada deserta
Assim, chegamos à cidade de Cusco. A primeira estranheza é que já estávamos rodando por uma larga avenida, com um movimento intenso. Sem chances de retorno, foi o que pensei, para em poucos minutos concluir: erramos o percurso e entramos na cidade de Cusco.
A lentidão do trânsito era intensa. O que de certa forma dava para olharmos para todos os lados. Tudo ali era muito novidade para todos.
Seguindo os dois GPS's, - das motos de Márcio e Geomário - eis que Afonso estava bem à frente. Logo ingressamos em uma rua lateral contrária e contra mão. Um sufoco para retornar e ingressar novamente na via. Dois tentaram e conseguiram. Depois quando da vez de Arli, Pacheco, Márcio e Geomário, o primeiro acabou caindo em plena via ao tentar o retorno, tendo o segundo quase arrancado a bolha da moto caída com o alforge.
Restou ao Márcio e Geomário socorrerem Arli, inclusive alertando aos motoristas que vinham empregando velocidade considerável, dada a agilidade requerida na via.
Foi um susto e tanto. Todos pararam ao longo da rodovia, quando constataram o ocorrido, para recomposição dos sobressaltados, cabendo ao Alberto os trabalhos de endireitamento da bolha da moto do Arli.
Eu quase caí disse o Pacheco. Quando vi, o Arli estava aterrizando e quase não tinha o que fazer.


Tudo recomposto, deu ainda para assistir mais um pouco do complicado trânsito da cidade de
Cusco ali no entorno, e seguimos em frente, agora com a noite muito presente.

Nas proximidades de Ollantaytambo, mais uma vez os GPS's nos deixaram em maus lençóis. Agora estávamos frente a uma estrada ainda em construção.
Um sujeito abriu uma cancela e começamos a rodar, sentido por vezes resquícios do asfalto se soltando dos pneus e obviamente se prendendo aos para-lamas. Uns quatro ou cinco quilômetros e um pedaço de chão batido, novamente asfalto e uma grande subida, do tipo areião.
Todos pararam. Disse Geomário: pessoal, alguma coisa está errada .... nós estamos indo para uma cidade turística, e ademais, não cruza ninguém por nós. Foi tempo suficiente para a queda solitária da moto de Geomário, naquela  terra fofa, com afetamento em um manetes e um dos alforjes laterais.

Vamos em frente, disse Alberto. Vou antes dar uma olhada nesta subida e retorno. Deixou a Dani em solo e logo pôs a sua Super Tenéré para desbravar o terreno.
Em pouco tempo retornou dizendo: dá para subir. Talvez as custons e a esportiva apanhem um pouco, mas dá para ir.
Alguém pilota a minha moto, disse Arli, ao que Alberto se propôs imediatamente.
A minha também, disse Pachedo, ao que Geomário se ofereceu para pilotar lomba a cima.
Assim subiram a lomba. Foram caminhando as caroneiras Telma e Dani, e mais os parceiros Arli e Pacheco.
Por meio dos ocupantes de um único carro que cruzou por nós, ficamos sabendo que o trecho sem asfalto e com total ausência de qualquer sinalização, ainda teriam uns 10 km. Para nós, essa era a questão: continuar ou retornar ...
Continuar e devagar, foi a sugestão de Alberto, sendo acatada por todos. E lá fomos nós.
Já vislumbrando as luzes da cidade, e por orientação de um morador, já estávamos nos arredores da cidade. Acabamos por cruzar do quarteirão indicado para se dobrar e cruzamos. Terminou a estrada. Para efetuar o retorno um baita areião. Foi outro drama.
Logrado isso, ingressamos na cidade, cujo calçamento é feito em pedras grande e irregulares. Novo drama para conduzir as motocicletas, principalmente as estradeiras custons e a esportiva do Pacheco.

Devagar e com as pernas abertas e muita atenção, foram as recomendações unânimes. Assim conseguimos chegar ao hotel Casa de Mama, onde fomos recebidos pelo Afonso e Nelsi, que passaram a nos entregar as bagagens levada na camionete.
Os "causos" do deslocamento então começaram a ser contados.
Afonso disse que também errou e acabou ingressando na cidade de Cusco, mas que porém efetuou o retorno e viu quando nós passamos... Ele estava de um lado da pista, retornando e nós do outro, indo .....
Ainda nesta oportunidade, Geomário voltou a falar a respeito dos problemas que o Márcio dissera estar experimentando. Muita saudade da família, bem como da dificuldade que teve em se comunicar com o Brasil nos últimos dois dias.
Como aprendi nas leituras feitas em André Luiz, em que toda a conversação prepara acontecimentos de conformidade com a sua natureza, pensei no drama que o amigo Márcio estaria passando e naquilo que isto poderia ensejar.
Sei perfeitamente que a saudade é um sentimento de esmorecimento, que certamente estariam interferindo nas coisas belas, que a partir de então não seriam tão prazerosas para ele.
Encerramos a noite em uma pizzaria da cidade, Alberto, Arli, Pacheco e eu. Os demais preferiram o descanso merecido depois de um dia cheio de emoções.

A caminho de Machu Picchu 

Gilberto Cesar, Alberto e Pacheco
Estação de Trem em Ollantaytambo
A emoção de Machu Picchu, somente se agigantou novamente a partir do café da manhã, quando começaram os preparativos para irmos para a estação de trem para a compra das passagens para a cidade de Águas Calientes. Como a estação distava pouco do Hotel Casa de Mama, fomos caminhando.
Já haviam definido que não iriam ao passeio: Geomário, Telma e Dani.
Compramos ingresso: Afonso, Nelsi e eu. Não estavam portanto passaporte naquele instante: Alberto, Márcio, Arli e Pacheco, que tiveram que retornar ao hotel, pegar o documento citado para depois efetuarem a aquisição dos bilhetes.
No trem, rumo a Águas Calientes
Trem para Águas Calientes - Machu Picchu

 O trem, que leva uma hora e meia de percurso, deixou a cidade às 11 horas. Um excelente trem, tipo panorâmico, com serviço de guia via auto-falantes e uma refeição por conta da passagem paga.
Em questão de minutos a tripulação já estava bem ambientada com o nosso grupo, como se de muito se conhecessem.


Chegados a Águas Calientes, então a pernada para a compra de ingresso para Machu Picchu. O pequeno povoado é muito mais turístico do que a cidade de nossa procedência. São lojas, restaurantes, bares, atrações e muitíssimos turistas por todos os lados. Uma cidade verdadeiramente "viva, acelerada e muito colorida". A vontade que se teve era logo de se sair passeando, comprando, vendo e desfrutando, porém a terra sagrada inca estava logo a meia hora e nos esperando.
Tomamos então um micro-ônibus e começamos uma longa subida por uma estradinha muito estreita e em meio a matas. O visual é dos mais privilegiados, o que colabora em muito para que a emoção aflore, a ansiedade comece e a expectativa venha a se traduzir nos olhares, pelas palavras e sorrisos esboçados.
E chegamos.


Estávamos vendo bem de perto as montanhas que, em última análise, são os lugares mais visitados do mundo, aqui na América.


Nós estávamos a questão de alguns passos, de alguma corrida ou uma caminhada normal do nosso grande segundo objetivo da viagem.
Machu Picchu! .... Nós Chegamos !
Machu Picchu, a cidade sagrada dos Incas 

Na chegada, ao pé da montanha principal, um verdadeiro batalhão de guias ficam (gritando) oferecendo os seus serviços de modo a facilitar e deixar entendível o passeio.
Nós nos socorremos de um, cujo nome era Matias, que logo cotou o trabalho e foi aceito. Logo começamos a subida em direção ao topo da montanha.
Em poucos metros, o guia parou para falar de algumas regras básicas as quais devíamos atentar, tais como: não pisar no locais indicados como de não circulação; a proibição do consumo de alimentos e a não existência de banheiros. Quanto à caminhada, falou ele: teremos duas horas, oportunidade em que eu lhes falarei de todos os lugares sagrados, das montanhas, das construções e dos templos aqui existentes.
E partimos.
No segundo topo da subida, Nelsi avisou que não acompanharia o grupo, eis que tem problemas com a altitude. Melhor então, disse o guia, pois subiremos até aquele topo lá, (e apontou para o alto .. um muito alto pela nossa frente). Nelsi então retornou para a parte plana e nós tratamos da caminhada.
Os caminhos são estreitos e a subida é constante. São várias as pessoas que param para descansar, respirar com mais vagar e outras tantas, seguem o ritmo imposto pelos guias.
Ao longo das paradas para as explicações dos guias, diversos são os idiomas que se escutam. Diversas são as formas das admirações, e contemplações deixadas transparecerem. Os pensamentos voam, num voltar no tempo quase que sem explicações. A viagem imaginária é memorável.
E assim, a concretude de um Machu Picchu ali, todo seu e a seus pés, a seus olhos e a seu toque, espantavam qualquer expressão de cansaço, isto até mais da metade do percurso.
Pelas tantas, uma parada para uma água, um bom comentário e o retorno para a caminhada.



Como pode?
Como conseguiram?
Quem sobreviveu?
Qual a razão ?


Eram as perguntas mais recorrentes entre nós mesmos, cujas respostas, por mais que pretendêssemos tê-las, estas se refugiavam e ficavam mesmo no imaginário, no quem sabe .... no talvez....

Eis o topo.
Eis a principal montanha sagrada.
Eis a nossa felicidade!
Arli, Alberto, Márcio, Gilberto Cesar, Afonso e Pacheco



Templo do Sol

Mirando a Montanha


Nesta foto, a formação da montanha principal  se parece com o rosto de uma pessoa deitada.
Se virada tal qual a foto da direita, ver-se-á melhor o contorno de um rosto.
perfeitamente o rosto de uma pessoa.






                   Mais de duas horas e pouco depois, e esgotado o tempo de visitação do turno da tarde (antes as visitações eram o dia todo) retornamos ao pé da montanha, para dali, novamente pegarmos o micro-ônibus para retornarmos para Águas Calientes.
Como o trem de retorno seria por volta das 23 horas, tivemos bastante tempo para passeios, alimentação, compras e registros fotográficos. Estávamos fechando com opulência as portas deste 14 de novembro do ano 2018.









                           Em Ollantaytambo, pouco depois da meia noite, fomos direto para o Hotel, pois que exaustos estávamos. Ainda se teve pouco tempo para conversas com Geomário e Telma a respeito do passeio. Não vimos a Dani. Ela se encontrava repousando.

A antecipaçao da volta pelos macapaenses


A quinta-feria, amanheceu com um belo sol, parecendo dar mais vida ainda ao verde e ao colorido que rodeava o Hotel Casa de Mama.
Na ladeira acima, os escolares passavam, se dirigindo para a aula matinal. Todos com uniformes coloridos. Em comum, tinham um chapéu com abas largas para o proteção desse mesmo sol.
Um pouco antes do café, aproveitei para uma caminhada pela pracinha central de Ollantaytambo, como que em despedida. Em poucas horas estaríamos partindo dali.
No retorno, uma troca de meias palavras com a Telma que me indagara se o Geomário já falara comigo?
Não, foi a minha resposta. E sobre o que seria? indaguei.
Não, nada ... espera que ele vai fala contigo.
E realmente, mal ingressei no ambiente principal da Casa de Mama e o Geomário me chamou para uma conversa.
- O Márcio está indo embora. É decisão dele e parece que não temos nada a fazer. A saudade bateu. Ele está desesperado e vai tocar sozinho.
Não podemos deixar este menino viajar sozinho, foi a primeira reação minha.
Também acho, disse o Geomário. Neste caso, terei que ir junto, mesmo que de coração partido.
Vamos falar com ele e faremos uma reunião logo após o café, concluímos.
Nossa conversa foi rápida e incentivadora para que o seu intento fosse cumprido, ao que em meio a monossílabos, nos pareceu bastante aliviado o nosso parceiro.
Esgotado o café, então o chamamento para uma reunião, onde então colocamos a situação aos demais. Alguns já sabiam, pois que os rumores inevitáveis, já haviam antecipado alguma coisa.
Lágrimas, Antecipação do Retorno e Emoção.
Então, na reunião, passada a palavra ao Márcio, este justificou o seu retorno antecipado. Saudade da família, os dois últimos dias os quais foram os mais difíceis para si, as mais de duas dezenas de telefonemas recebido de casa, aos quais não pode atender ... enfim, disse o parceiro: não quero estragar o passeio de ninguém ... mas eu preciso voltar. E, entre lágrimas, que logo começaram a percorrer caminhos sinuosos por aquele rosto amigo, por conseguinte fizeram calar de vez a voz do macapaense.
Rapidamente, Geomário disse o que a mim já falara."é com o coração partido, mas Márcio não se preocupe não .... eu retorno com você" ...
Começou então uma sucessão de despedidas:
Alberto disse que não lhe restava uma outra alternativa, pois junto com Márcio e Geomário teria vindo. Que adorou muito ter rodado com o grupo e que iria sentir muita saudade. Incrível o Arli, o Pachedo, do Gilberto nem se fala, ... do Moto Casal. Foi tudo ótimo!
Dani disse ter gostado muito do grupo .... Nossa, esta viagem foi incrível .... sem mais palavras, concluiu.
Pacheco disse que lhe pegaram de surpresa, mas fazer o quê?
Arli lamentou dizendo que entendia a situação do Márcio.
Nelsi também lamentou e disse que a família deve estar em primeiro lugar. Pediu escusas se por se por ventura tivesse feito algo que tivesse desagradado o grupo que agora partia.
Afonso disse que entendia a situação do Márcio e dos demais parceiros e desejou boa sorte e bom retorno.
Telma também lamentou a antecipação, ao mesmo tempo que disse: chega uma hora que a saudade bate e ninguém segura.
Por fim, lhes disse: percorreremos os mesmos caminhos da volta. Os macapaenses num ligeiro voltar. Os gaúchos num mais vagar. Porém com a certeza de que os objetivos serão alcançados. Viajar é conhecer, é se conhecer e conviver. E este grupo sai vitorioso por tudo isso que fez.
Nossas famílias, tenham certeza vocês, estão sempre no topo, no ápice das nossas vidas e dos nossos sentimentos. Atender ao chamado íntimo é nobre, e por tal desejo, toda a sorte. Um ótimo retorno e a ratificação de que foi uma honra termos rodados mais de meia jornada juntos. Foi o que lhes disse.

Façamos uma oração, sugeriu alguém do grupo. Como até então, Márcio até começou a reza, que embargada pela comoção, por mim foi concluída.
Na foto de Alberto
o último registro fotográfico juntos da viagem


Geomário, Gilberto Cesar e Márcio

Márcio, Gilberto Cesar
Pacheco e Telma

Esgotado isto, hora de arrumar os alforjes e tratar do recomeço da viagem. Ainda em frente à Casa de Mama, um tempo para que Alberto, com todo o ferramental disponível, trata-se do cabo de embreagem da moto do Arli. O cabo voltara a ficar rídigo de mais. Quem sabe trocar o cabo, sugeriu o Afonso ...Eu tenho um cabo novo, disse Arli. Não é cabo ... este aqui está novo disse Alberto. Minha sugestão, disse por fim, é que quando puderes vá na revenda Honda e verifique isso.

Arli, manda ver que vai dar tudo certo, disse Geomário se somando ao grupo de gaúchos que partiriam um pouco antes. Nós vamos é tocar direto para Brasília, onde Márcio e eu deixaremos as motos para revisão. Como já disse, Macapá não tem concessionária da Triumph, então de lá seguimos de avião para as nossas casas. Depois voltamos para pegar as motos ..... O Alberto e a Dani vão de Brasília rodando até Macapá e a Telma vai pegar um avião em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.



E os gaúchos então trataram de concluir a arrumação das bagagens, recomeçando em pouco tempo a viagem.
Eram 9h30m daquele dia 15 de novembro de 2018.


A caminho de Cusco 
A saída de Ollantaytmbo, tal qual quanto a chegada, requereu alguma atenção especial. O calçamento é por demais irregular e escorregadio, em função das pedras serem similares as dos rios. O diferencial a favor, era que estávamos em plena luz do dia.
E assim deixamos aquela bela cidade turística.
Alguns poucos quilômetros foram percorridos, quando em um grande mirante o grupo, agora composto somente por gaúchos, parou.

Além do excelente visual, uma enorme feira com produtos artesanais típicos do Peru estavam sendo amplamente comercializados. Também as tradicionais fotografias com Lhamas e com as Alpacas eram possíveis se fazer, mediante um pagamento simbólico.
Estávamos na localidade de Pachar, onde logo em seguida chegaram os macapaenses. Estacionaram as motos, miraram rapidamente, houveram algumas conversas rápidas, e os mesmos tocaram em frente, onde se perderam nas curvas da estrada, logo em seguida.
Nós rodamos os 220 quilômetros que nos separavam de Cusco, com uma parada para almoço, atingindo o nosso objetivo quando já passavam das 16 horas.
O trânsito em Cusco, o que já experienciáramos dias antes, não é dos mais fáceis. Além disso, o calor também estava castigando em muito. No entanto, tratamos de ir logo para a Concessionária da Honda, para tratar do cabo de embreagem da moto do Arli que estava dificultando a pilotagem.
Em um grande e confuso cruzamento, passamos eu e o Pacheco, ingressando em uma avenida lateral. A camionete com Afonso e Nelsi, seguidos pelo Arli, tocaram em frente. Foi uma mão de obra retornar e recompor com os parceiros. Mas deu tudo sufocadamente certo.
Neste deslocamento, uma forte chuva tida como de verão, caiu sobre a cidade, o que fez elevar mais ainda o abafamento.



Na foto-registro, Arli acompanhando
o trabalho do mecânico na Honda em Cusco
Na concessionária, um jovem mecânico distensionou o cabo, lubrificou, pediu os documentos para, após a chuva, dar uma volta, testando assim, as condições da embreagem. Mas está ótima, disse o mecânico.
Chamado pelo Arli, Afonso subiu na moto, debreou, experimentou ali mesmo na loja e disse: está ok ... podemos ir. Eu também penso assim, disse o mecânico. E saímos com a moto e com alguma chuva ainda, em busca de um hotel por ali mesmo. Trata-se de uma região turística, próxima à Praça das Armas.

Nossa hospedagem se deu no Hotel De La Vila Hermoza, quando então, mal estávamos efetuando o check-in quando disse Arli: os documentos da moto ficaram na honda. Me propus imediatamente a buscá-los, afinal estávamos próximos e notei que os parceiros estavam esgotados e querendo tomar um banho. E me fui. Andei duas quadras retas, dobrei aqui dobrei a li e não encontrei a tal da Honda. Retornei ao hotel, me banhei e junto com Arli e Pacheco saímos em direção à Honda. Perguntamos, demoramos um pouco, e lá chegamos.

Com os documentos em mãos, um pouco depois, e já quase ao entardecer, retornamos ao hotel para que juntos com o Moto Casal Os Aliens,  fôssemos tratar da janta. O que se deu em um grande mercado de artesanias, bem próximo ao hotel.

Em Cusco, num dos vários mercados de artesanias
Os  gaúchos em sua primeira refeição
sem os macapaenses.
Aqui aproveitamos para provar um peixe preparado  à moda regional, bem como para irmos às compras. Havia mais de uma centena de bancas a nos rodear.

             

                                   Já passava das 21 horas quando Afonso, Nelsi e eu saímos para conhecer o centro histórico de Cusco. Arli e Pacheco preferiram ficar no hotel descansando.
Um primeiro contato com aquela cidade cuja beleza e frequentação turística impressionam na belíssima Rua Caracoles, a principal via que proporciona  ao visitantes uma verdadeira viagem histórica da Cusco.
Na manhã do dia seguinte, voltamos ao centro histórico para novas caminhadas e ver mais de perto o patrimônio histórico da cidade.
Na lenta caminhada, o encontro com um senhor, saído de um grupo de executivos, que nos saudou e se apresentou como já tendo morado em São Paulo. Falou da sua admiração em  ver os motociclistas pelas estradas. Que estima a coragem para as longas viagens e historizou  muito a respeito dos Incas, do povo e da trágica conquista espanhola, em tempos idos.
                         Da conversa, continuamos a caminhada. Podíamos, agora, efetuar um contemplação à luz do dia.






 A visitação  ao grande Museu Inka, ali nas imediações da Praça da Armas foi, sem dúvidas, outro grande momento da nossa estada em Cusco, pois nos colocou em contato com  a brilhante história daquele povo, por mais de uma hora .



Um descanso após a maratona por Cusco
Esgotados os passeios na área central de  Cusco, começar então os preparativos para a retomada da viagem. Sabíamos perfeitamente que os caminhos que nos levariam para a Bolívia, ensejariam  de novas cruzadas por lugares pelos quais já passáramos, tais quais Juliaca e Puno.

Os últimos caminhos pelo Peru
Então tratamos de rodar.
Uma parada na localidade de Combapata para reabastecimento e descanso. Um pouco mais tarde, nova parada agora para almoço, na cidade de Sicuani
A ideia era poder chegar em Juliaca, porém, uma mudança repentina no tempo, nos fez ficar pernoitando na cidade de Ayaviri. Mais para os lados da rodovia do que para o centro propriamente dito.
Em um pequeno bar, ficamos sabendo pela proprietária, a Dona Maria do Socorro, que o centro da cidade distava uns 10 km dali. Por insistência do Arli, fomos para lá, por meio de uma van. Agora em plena noite e com uma temperatura de 8 graus. Queríamos conhecer e também buscar algo para jantar.
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 Na pequena cidade, um grande número de pessoas enfrentavam o frio castigante na praça central. Estavam à espera do desfile e depois de uma espécie de rally de carros turbinados. 
Nós que estávamos no interior de uma pizzaria, até saímos à rua para ver do que se tratava. O frio na rua era muito mais gelado do que a cerveja que nos foi servida na pizzaria.
                                 De volta ao hotel, o acerto de que sairíamos por volta das 6 horas, no intuito de recuperar um pouco o que se deixara de percorrer, em função da mudança do tempo. 
                            E mal clareou o dia e já estávamos prontos para a estrada. O café da manhã foi deixado de lado, com a promessa de o fazê-lo na primeira parada para abastecimento.
Assim, cruzamos por Juliaca enfrentando novamente o desordenado do trânsito. Passamos nos arredores de Puno, com almoço na localidade de Pomata, à beira do Lago Titicaca. Nestas cercanias, as comunidades sobrevivem muito em função do pescado do Lago, que é servido largamente em bancas e feiras à beira a estrada. 


Nós vimos diversas bancas e não tivemos dúvidas em provar e aproveitar alguns momentos com uma dessas comunidades. 

                          Nosso firme propósito era cruzar a fronteira com a Bolívia, chegando assim à cidade de Copacabana, ainda na parte da tarde daquele sábado.
Feita a última refeição em território peruano, chegamos à pequena cidade de Yunguyo, situada a 1 km da fronteira com a Bolívia. Nesta há apenas um posto de combustível, onde pudemos encher os tanques e com isso gastar os últimos, ou quase isso, de dinheiro peruano. Mais do que isso, era importante chegar à Bolívia com bastante gasolina na motocicletas e na camionete, uma vez que naquele país teríamos que enfrentar as restrições de abastecimento para estrangeiros.

Outras motos no caminho
                              E quase chegamos na fronteira, uma competição de "motocross", com algumas baterias para motos de baixa cilindradas, interrompia o trânsito na rua que leva para o posto fronteiriço.
                                             Una hora, disse o agente de trânsito peruano. La competicione es de lá ciudad! concluiu o guarda.
                         Não acredito!  disse o Pacheco.
                          Ferramo-nos, disse eu.
                           Vamos assistir, disse Arli.
                            Com esse calorão? ponderou a Nelsi.
                               Vamos para a sombra, disse o Afonso.
      E a tal competição, quase interminável para nós, nos segurou por mais de uma hora e meia. Arli ainda fez algumas fotos e filmagens de algumas das baterias da tal corrida. O que, para tal, eu não tive nenhum ânimo. 
Quase ao final da disputa, e com a mudança de um dos guardas, conseguimos negociar a circulação das motos, pelo menos para irmos adiantando os trâmites de saída do Peru e ingresso na Bolívia. Temíamos, inclusive, o horário. O posto fronteiriço de Kasany fecha ao final da tarde.
       Conseguimos com isso, efetuar os trâmites de saída. Fomos adiantando alguns passos e  depois de algum tempo, foi a vez de Afonso e Nelsi com a camionete.




                 Enquanto cruzávamos a fronteira, nossos parceiros de Macapá haviam passado pela cidade de Oruro, na Bolívia, 358 km à frente. Nos enviaram fotos e  alertas a respeito da precariedade das estradas que os estavam levando para Santa Cruz de La Sierra.

                                                        
      Foi isso do mágico Peru. Um país cheio de encantos. De coloridos. De mistérios. De musicalidade. E uma gama cultural enorme,  que sempre nos fascinaram  conhecer. 
Subimos uma das  montanhas mais famosas do mundo. Sem dúvidas, a mais sagrada para o povo andino. E, com certeza, a mais desejada a ser galgada pelo motociclismo estradeiro.
      Foi excelente ter caminhado por lugares emblemáticos, de onde onde ecoaram, num longínquo passado, as determinações e as regulamentações para a vivência, sobrevivência e resistência heroica de um povo.
            Ganhar nem sempre é participar, vencer  ou estar no combate. O Inca, chefe,  ordenou o abandono da terra sagrada, de modo a preservá-la do invasor e saqueador que  já arrasara Cusco, ali bem próximo.                        
     Ficou o legado, a inteligência e o belo  santuário que, hoje, é conhecido no mundo todo. 
                   Machu Picchu! Não cansamos ao subir tuas inclinações e tuas encostas. Não cansaremos de lembrar que ali estivemos e que reverenciamos a imensidão de tua silenciosa paz! 
                                                  

Fotos: diversos integrantes do grupo
Texto:   Gilberto Cesar 

Moto Grupo Com Destino


                             
                              
Porto Alegre - RS 
































                                  
                    





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