domingo, 23 de dezembro de 2018

Giro de Moto pela América do Sul - Parte V - Final


Na moto, quando em viagem, uma música sempre insiste em se alojar em nossos pensamentos e, silenciosamente,  entoar-se repetidas vezes e por si mesma. 

  Por Enquanto, letra e música de Renato Russo, era a mentalmente entoada naquele 25 de novembro de 2018.  .... 
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está  . . .

                                                             Estamos indo de volta pra casa  ...
Gilberto Cesar, Porto Alegre Cleto Pacheco,  Bagé 
Nelsi e Afonso, Moto Casal Os Aliens,  Santa Cruz do Sul


Corumbá: a início do retorno



Corumbá, no  "Pantanal Matogrossense", foi o local do nosso primeiro pernoite em solo  brasileiro.
Ali chegamos no final da tarde do domingo, 25 de novembro de 2018, já visualizando algumas belezas naturais ao longo do pequeno trecho, desde a aduana ao centro da cidade. Um grande lago, muita vegetação, enormidade de pássaros sobrevoando árvores e campos e um clima bastante quente e úmido foi o que encontramos na cidade.
Estávamos ingressando, em parte, da maior planície de inundação do planeta e no mais extraordinário patrimônio natural do Brasil.

            Uma pequena busca e encontramos a hospedagem pretendida para aquela noite no Hotel Santa Mônica
      De plano, mantivemos contatos com nosso parceiro, Arli Figueira, em Cochabamba, para saber como foi o domingo e como ele estava:
- Passeei por toda esta cidade, foi a resposta primeira. Quanto ao pessoal do seguro, não mantiveram nenhum contato. Foi o que disse.
        No mesmo instante, ainda que sabedor de que estávamos em pleno final de domingo, enviamos notas para os corretores da Porto Seguro, com obtenção de respostas quase que imediatas:  ...  fiquem tranquilos, o guincho já está a caminho ....
                          Ainda conversamos com Arli outros assuntos e depois tratamos de sair para ver melhor a cidade de Corumbá.
       Dado ao calor, muitas famílias estavam muito bem abancadas em frente das casas, bem ao estilo cidade do interior.

N
a praça principal, agora já noite, as luzes - em postes relativamente baixos -  deixavam  exibir um grande número de insetos de toda espécie e grandezas. Farta era a quantidade desses animais, atraídos pela luminosidade, é claro. Destaque para um grande coreto-  pela sua beleza arquitetônica e notória antiguidade.



Ao entorno da praça, a igreja bem iluminada, com troca de cores na iluminação, compondo parte da decoração de Natal



 








               Um grande número de pessoas estava também ocupando os bancos da praça, outros tantos caminhando pelo entorno e uma criançada corria pelos recantos e passeios públicos.

Depois da caminhada, nos dirigimos para um das equinas, onde um restaurante e burgueria estampava cartazes oferendo seus produtos. Ali, nos alimentamos. Nos demoramos um pouco e tratamos de retornar para o hotel. Hora de  repousar, pois o dia havia sido longo, calorento, com paradas curtas e com uma grande quilometragem.

Voltando à Bolívia para os trâmites de saída.
                               farto café da manhã no Santa Mônica nos prendeu por mais de meia hora e, somado às conversas com brasileiros que também estavam indo para La Paz e depois Deserto do Atacama. Ajudamos a desfazer alguns mitos, quanto às polícias daqueles países, bem como da tranquilidade em, por eles, se rodar.

              E tratamos de novamente cruzar a fronteira, para na aduana e polícia boliviana, sacramentar as nossas saídas, tanto das pessoas quanto dos veículos. 
Aguardando a vistoria de saída
pela polícia boliviana
                        Esse trâmite, no tangente à aduana, foi rápido demais. Na polícia, no entanto, a espera foi mais de hora, visto que o início do expediente começa bem depois do início dos trabalhos  aduaneiros.
                          Tudo pronto, então de volta a Corumbá. Agora, direto para à concessionária da Yamaha efetuar a troca de óelo da Migdnight Star 950.

Na concessionária, Pacheco que também precisaria efetuar a troca de óleo na sua Honda CB 650, consultou da possibilidade, obtendo um positivo do pessoal da recepção. Nada de problemas.
          Assim, ambas as motos receberam "sangue novo" para o  prosseguimento da viagem. Eram mais de 11 horas, com muito sol e calor, quando deixamos a revenda da Yamaha para o recomeço da viagem.






 


Ganhando novamente as estradas. 
             Deixamos então Corumbá, rumando para a BR 262, tendo logo em seguida, em ambos os lados da rodovia, as grandes extensões de terras. Algumas já alagadiças, assim como a exuberância da fauna e flora muito presentes. Isso por muitos e muitos quilômetros.



         Aos 60 km, na localidade de Porto Morrinho, uma parada para reabastecimento, o primeiro desde o  retorno ao Brasil. Almoço foi no restaurante Acuã, oportunidade em que compramos um souvenir do local.



Uma boiada em pleno asfalto. 

   Foi na direção de Miranda, logo na virada do meio dia, e sob um intenso sol, que o diferente aconteceu em plena rodovia: uma grande manada tocada por mais vinte boiadeiros. Com seus berrantes, tocavam o gado em plena pista de rodagem. Obviamente que  o trânsito só não estava quase parado, como todos acompanhavam a andança lerda dos animais. Um animal que outro desgarrava em direção aos campos, descendo as ribanceiras e indo para os matagais laterais da estrada. Lá ia um ou  dois  boiadeiros, cercando, apupando e reconduzindo o animal.
Foi muito interessante cruzar em meio aos bois, em pleno asfalto


Os bois do pantanal
                           

           Foi assim que suportamos a marcha lenta por mais de 5 km, onde o sol e o motor das motocicletas disputavam qual ficaria mais quente naquele ambiente já quase tórrido.
Em um brejo, os boiadeiros foram abrindo clareiras e conseguimos deixar a boiada para trás.

Por volta das 16 horas, nova parada. Agora em  Miranda, cidade que é considerada o "Portal do Pantanal". onde o calor e o abafamento eram consideráveis. No quente asfalto que percorríamos, eram  as belezas do pantanal que continuavam a nos acompanhar, amenizando assim as altas temperaturas ali reinantes.



      Passado isso, fomos ganhando terreno, sempre pela rodovia BR 262. Nova parada em Nioaque, a 372 km de Corumbá e 153 km desde a última abastecida em Miranda

Neste percurso, a definição em desviar da cidade de Campo Grande, a capital, rumando em direção a Dourados, para com isso evitar o ingresso o trânsito de uma grande cidade.


Depois de rodarmos por muitas horas, começou o prenúncio da noite, onde, em plena estrada, pudemos ver os últimos raios do sol sobre as grandes plantações de variadas especies, predominando a soja. Um verdadeiro espetáculo e uma mostra da grande pujança do agricultor mato-grossense. Neste contexto, chegamos à localidade de Maracaju para o pernoite. 
   Do excelente hotel, que leva o mesmo nome da cidade, direto para um bom "espetinho de carnes" feito por um estabelecimento  comercial especializado. A dica fora dos próprios atendentes do Hotel.


A dois dias de Casa.

 Dia 27, a terça-feria, já tomados pela  vontade de estar em casa, acertamos manter o ritmo acelerado, com paradas curtas.

Assim, paramos em Itaporã. Cruzamos pela área central de Dourados e, mais tarde, já beirando as 14 horas, reabastecimento e lanche na cidade de Mundo Novo. Devido ao alto calor, abrimos mãos do almoço, preferindo algo mais leve.
Hora do Lanche de Meio Dia


       
Em pouco tempo, fomos deixando o Mato Grosso do Sul, bem como as suas grandiosas belezas naturais. 
Nos encantou também, em muito, a qualidade das rodovias que cortam aquele Estado. São de ótima qualidade, o que não se consegue dissociar, é claro, do peso da agricultura, cujas safras precisam de boa infraestrutura para o devido escoamento.

 Na fronteira dos estados do Mato Grosso do Sul com o Paraná, o exuberante Rio Paraná os divisa. 
        De um lado ficara Mundo Novo e do outro se apresentava Guaíra.
               
                     Pouco mais tarde, uma grande cidade bem a nossa frente: Marechal Cândido Rondon. Por ela passamos direto, quando então os relógios marcavam 16 horas. Cruzamos por Toledo uma hora depois, e em mais trinta minutos estávamos reabastecendo na cidade de Cascavel.


 Quando a tarde começava a dar  sinais de seus últimos instantes, e quando as placas indicativas da rodovia anunciavam a cidade de Realeza como em sendo a mais próxima, definimos por parar. Adentramos e, sem dificuldades nenhuma, encontramos o Hotel Fratelli. Um bom local atendido pela  família proprietária.


               A cidade de Realeza, que jamais esteve em nossos plano de pernoite, nos surpreendeu muito. Ora  pela farta arborização na praça principal e algumas ruas; ora pela aparente calmaria, limpeza e conservação prediais.                     

       Por algumas ruas, efetuamos boas caminhadas naquele quase anoitecer.


Em um "X Burguer", aproveitamos para efetuar o lanche da noite.


O último dia da Jornada.

      Começamos então o último dia  de deslocamento, bem em conformidade com o  previsto em nosso cronograma de viagem. Era o dia 28 de novembro.  Aproveitamos para madrugar, uma vez que o que o hotel não disponibilizaria o café da manhã. 

Foi na localidade de Salgado Filho, ainda em solo paranaense, quando paramos para a refeição matinal.  Aos 96 km, já em Flor da Serra do Sul, foi que começamos a divisar o Estado de Santa Catarina, com parada em Palma Sola, para reabastecimento e descanso.

Nesse trecho, final do estado do Paraná e início do solo catarinense, a serra é bastante acentuada, com muitas curvas e alguns cenários muito bonitos de serem visualizados. Predomina muito as comunidades rurais,  com a existência de algumas cidades de pequeno porte.


                                Passando um pouco das 11 horas, cruzamos então a fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, sobre o conhecido Rio Uruguai
            
Foi uma verdadeira festa. Estávamos retornando aos pagos ... de onde, há muitos dias, havíamos saído, ... 26, exatamente ....  Depois de cruzarmos a ponte, sobre o lendário Uruguai .... nos sentimos em casa...   e tal qual um guri, bradou, em plena estrada, o nosso parceiro Afonso dizendo: 
 .....  De volta ...   de volta ao melhor estado desse amado Brasil !

Os derradeiros instantes juntos.                             

Um pouco depois da divisa, nova parada, agora em Iraí. O tempo começara a prenunciar chuvas. O dia ficara escuro e os trovões passaram a ecoar seus sons pelas coxilhas do local.
E veio muita  chuva, a qual nos segurou bastante em termos de velocidade. Todo o cuidado era pouco. 
Uma névoa também se fez presente. Tudo isso até por volta das 15 horas, quando tudo se amenizou.
              
           Passando a localidade de Jaboticaba, paramos  para nos despedir do Pacheco.
Este pegaria a rodovia 158, indo em direção a Cruz Alta até Santa Maria e, posteriormente, a 392 até Caçapava do Sul, para enfim pegar a rodovia  153 até a sua Bagé.
              Nós prosseguimos pela Br 386 até a de cidade de Lajeado, quando Afonso e Nelsi tomaram as RS 244 e em seguida a BR 287 para Santa Cruz do Sul
              DLajeado, segui então solito pela BR 386, pegando mais tarde da rodovia  448, chegando em minha casa  quando os relógios estavam marcando 19 horas na capital dos gaúchos.

                                                       
                       Chegou ao fim, assim, a jornada pela América do Sul. Gratular firmemente a Deus pela oportunidade da empreitada, pelo convívio dos amigos e parceiros, e também pelas  ocasiões e pelas situações que se apresentaram. 
                   Foi, com certeza, uma honra ter liderado este grupo, alternando, muitas vezes, com a  condição de seguidor ao invés de ser seguido. Isso em função do bom time que formamos:  AfonsoAlbertoArli, Daniela, Geomário, Márcio, Nelsi, Pacheco e Telma.
            Sabemos, que nem tudo  sempre sai a contento e, se assim não o fosse, é bem possível que as histórias seriam bem mais curtas ou bem menos interessantes.
                    Agradecer aos familiares e  amigos que nos apoiaram, nos acompanharam e conosco vibraram. 
                                       

     Guardaremos em nós a tudo isso!! 
Temos o asfalto como testemunha!!

Foi um privilégio ter relatado mais uma ousadia motociclística.
Gilberto Cesar Barbosa de Oliveira 
Moto Grupo Com Destino 
 Porto Alegre - RS



Datas das respectivas chegadas :

Telma, em  Macapá, dia 21 de novembro, em razão de compromissos profissionais;
Geomário e Márcio em Macapá, dia 23 de novembro;
Gilberto Cesar, em Porto Alegre dia 28 de novembro;
Afonso e Nelsi em Santa Cruz do Sul, dia 28 de novembro;
Pacheco em Bagé, dia 29 de novembro. Ficara um dia em Palmeira das Missões, em função das chuvas.
Arli em Porto Alegre dia 1º de dezembro. Veio junto a motocicleta em uma Van, que saiu de Foz do Iguaçú para Cochabamba, na Bolívia, para resgate motociclístico,  por meio da Porto Seguro.
Alberto e Dani em Macapá dia 1º de dezembro. O casal, que rodou  11.940 km, foi para Belém do Pará, aproveitando o trajeto para   belos tour e, da capital paraense,  foram  de barco para Macapá. 
 
Fim!    
                        

                   










quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Giro de Moto pela América do Sul - Parte IV

A última etapa internacional da nossa viagem previa rodar e conhecer um dos dois únicos países da América do Sul sem saídas para o Mar. Estar na capital mais alta do mundo. Nos transportar na rede teleférica mais alta do mundo. Navegar sobre o lago natural mais alto do mundo. E, é claro, mascar folhas de coca para combater os efeitos colaterais da grande altitude.   

BOLÍVIA: a nossa última fronteira     
Em 17 de novembro, ingressamos na Bolívia, ou melhor no Estado Plurinacional, onde são reconhecidos os regimes diferenciados de justiça, autoridade, conhecimento e propriedade para as comunidades ditas como originárias, quais sejam: os índios. Para exemplificar: um julgamento realizado em uma aldeia indígena é soberano, desde que não venha a ferir o texto constitucional.                                        Foi sob uns quarenta graus que conhecemos, em um pouco antes da  aduana, o Lukasz Mierzejewski. Um jovem Polonês, pilotando uma motocicleta 125 com placas da Colômbia, que também estava a caminho de Copacabana, o nosso primeiro destino em solo boliviano.
Gilberto Cesar, Lukasz, Arli  e Pacheco
Aduana em Copacabana - Bolívia
Juntos, efetuamos o processo alfandegário, tendo o mesmo se demorado um pouco mais, pois teve que dar algumas explicações e fazer prova do por quê ter saído da Argentina, sem que fosse dada a baixa em seu passaporte, dias atrás. Com domínio um pouco arrastado do espanhol, Lukasz  conseguiu dar as suas explicações. Concluiu os trâmites  e conosco rodou a Copacabana, pouco mais de 15 km de onde mais tarde, estaria voltando para a Polônia.
   Foi o próprio Lukasz que nos indicou o hotel onde o mesmo estaria se hospedando, Hotel Tresure, depois de termos tentado outros dois estabelecimentos. O Tresure primava pela simplicidade, porém a existência de garagem, ou cocheira, como se chama por lá, foi o diferencial para nós.

EM COPACABANA
             Era final da tarde de sábado em Copacabana e não tão distante de nós, o som de músicas ao vivo, a falação em microfones e por vezes alguns gritos e aplausos evidenciavam que uma grande festa estava ocorrendo nos arredores.
Então, s'imbora ver a festa.
                                       No entanto, no deslocamento, tratamos das informações a respeito dos passeios para o domingo, Ilhas De La Luna e a Del Sol, ambas no Titicaca. Efetuamos a compra dos ingressos via barco, em uma agência de turismo.

A Festa ...
A  cinco quarteirões do Tresure, uma verrdadeira multidão estava em uma ampla praça. No palco, um conjunto musical, vestindo trajes típicos, mandando ver uma música muito embalada. Um locutor que estrépitamente convocava o povo para as danças e as cantorias. Em solo, bolivianos e bolivianas, tipicamente trajados, muito embalados, e cada qual - na sua grande maioria - empunhando uma cerveja Pacena  nas mãos.

           A cena era bem esta. Muitos engradados de cervejas espalhados em meio  às pessoas, as quais simplesmente trocavam a garrafa vazia, depositando-a  no engradado e, automaticamente, pegando uma outra garrafa, agora com o líquido.
Olhamos, caminhamos entre o povo e até tentamos comprar umas cervejas para acompanhar o embalo.
"No tiene cerveza helada. Aquí se toma así mismo ... Tiene comidas también" . Disse-nos um dos vendedores ambulantes.  
         Estávamos assistindo a uma festa comunitária religiosa, com participação de pessoas de Copacabana, La PazCochabamba, Santa Cruz de La Sierra, Oruro e outras comunidades próximas. 
Ainda no hotel, quando chegávamos, vimos diversas pessoas, tipicamente trajadas, deixando o estabelecimento rumo à festa.    


                  
      Agora, na festa, Arli, Pacheco, Gilberto Cesar, Nelsi e Afonso identificamos algumas faixas que distinguiam a procedência de alguns grupos.



 Mais algumas caminhadas por ali, porém  o forte cheiro de chouriços sendo assados em pequenas churrasqueiras, a fumaça, batatas fritando, somando-se  à cerveja quente, foram então os motivos que nos levaram para o centro da cidade de Copacabana em busca de um restaurante.
Área central de Copacabana
            
               Lá, ainda dava para ser ouvir o som e ver alguns fogos de artifícios que estavam rolando  na festa.

                Ingressamos em um restaurante, folheamos os cardápios e na sequência a constatação de que a cerveja também não era das mais geladas.
Trocamos, e sem dissimular algum silêncio, para o ambiente em frente. Um outro restaurante que se encontrava, inclusive, com um grande número de clientes.
Mal nos acomodáramos quando um dos garçons do primeiro restaurante, atravessou a rua, ingressou no recinto e nos entregou a bolsa da Nelsi, dizendo: " ... la señorita había olvidado en la silla ..."  Foram segundos de profundo silêncio e o automático agradecimento, eis que perder uma bolsa, ou qualquer objeto, é sempre complicado demais.
                                                    Bem mais tarde, tratamos de retornar para o Hotel, onde, na recepção, alguns participantes da festa religiosa davam continuidade aos festejos com  altas conversas, risos, abraços e muitas cervejas. Nesta alegre continuação de festa, vimos o rapaz que nos recepcionara à tarde,  junto aos hóspedes, todos numa verdadeira alegria, incomum.
E tratamos de nos recolher.

Navegando pelo  Lago Titicaca
Veio o domingo, onde a temperatura estava relativamente baixa, muito embora com a presença do sol. Mas o prenúncio era de um ótimo dia para passeios.
       Na recepção do hotel, Afonso e Nelsi aguardavam pelo serviço de café quando ele falou: ....  não há ninguém por aqui .... e pelo jeito a festa foi grande ... vejam quebraram a mesa de centro e há garrafas por todos os lados ...
        A isso constatamos, e concluímos, que a festa teve realmente continuação até altas horas ali naquela recepção.
          Neste ínterim, apareceu o jovem da recepção, meio "tipo amassado", sonolento, e com uma grande bandeja em mãos, com xícaras, garrafas térmicas e pães. Era o café que estava chegando via aérea .....
Good Morning .... disse o rapaz, ao que respondemos:  bom dia!
Here is coffee. complementou . 
        Olhamo-nos, sem entender muito, porém com uma conclusão rápida: ou ele havia esquecido quem éramos, em termos de nacionalidade, ou o estado etílico da noite anterior o havia afetado em alguma parte.
Chegando mais perto, deu para sentir fortemente a exalação de um odor conhecido. Em outras palavras, era o fedor do álcool que estava muito presente naquela massa corporal.....
           Do café quase nada tomamos. A água estava morna, o pão estava duro e  com ausência de outros produtos de acompanhamento.
Recolheu ele parte da louça, na mesma bandeja que tudo trouxera.
Disse: thank you, e se retirou.
           Em questão de segundos, escutamos a barulheira de alguma coisa desabando na cozinha, ali próxima. 
Era o rapaz que, juntamente com a bandeja, haviam arriado ao solo. O vimos em seguida, sem jeito, se levantando, se limpando e começando a juntar o estrago .....



Descemos então para os lados do Lago Titicaca. Agora não tão somente para vê-lo de perto, tal qual fizéramos no Perú, e sim para também navegar sobre as suas águas.

 A espera do nosso barco, uma olhada para o Titicaca, enquanto uma grande fila com turistas se encontravam alinhados, tanto para aquele, para como outros tantos  barcos que, daquele cais, partiriam para a Ilha de La Luna e também para a Ilha Del Sol.
                                     Devidamente embarcados, Arli se acomodou na parte superior do barco, para sob a luz direta do sol, poder mirar melhor o Titicaca bem como acompanhar o deslocamento lá do alto. Nós optamos pela parte interna, eis que das grandes janelas e com uma acomodação um pouco melhor, também daria para ver tudo, associado ao fator sombra, pois a temperatura, típico da Bolívia, costuma ser oscilante por demais.


 Depois de mais hora e meia de navegação, oportunidade em que pude então dialogar bastante com a boliviana Paola de Carli e com a espanhola Martinez Ferraz, chegamos então ao primeiro destino, a  Ilha de La Luna. Um passeio de quarenta minutos, sem a necessidade de guia, explicou um dos tripulantes da embarcação, posto ser pequena a porção de terra que iríamos visitar.
E o desembarque então começou, assim como que, imediatamente, os registros fotográficos, a peregrinação e a visitação à Ilha.


São vários os vestígios e algumas edificações que dão conta da existência, em um tempo distante, de uma civilização denominada Trwanacu, que teria utilizado o local como santuário de clausura para jovens e bonitas mulheres, as quais deveriam se casar com os chefes das diversas tribos ou com o próprio Inca. 






       
                                    De volta o barco, agora então para a segunda e mais importante da Ilhas do Titicaca: a Isla Del Sol. Para a visitação, disse um dos componentes da tripulação, aconselha-se a contratação de um guia, pois a Ilha é muito grande e existem muitos pontos a serem visitados.
Por consenso, optamos pela não contratação de guia.

               Com a aproximação do barco, a constatação de que realmente a Ilha é enorme. Quatro grandes hotéis, bem ao alto, são logo identificados. Alguns restaurantes na sequência e uma grande escadaria, lá com seus mais de 100 degraus, local de subida para se conhecer o interior da Isla Del Sol.   
Trucha, um saboroso peixe,
 era o prato principal
A orientação era: caminhadas pelo arquipélago, por duas horas, uma hora e meia de almoço e retorno para Copacabana.
Nós preferimos sair almoçando e depois efetuarmos os passeios.  A oferta de peixes era enorme, associado ainda ao horário, quase meio dia.
        No almoço, nos demoramos mais do que o previsto, eis que a vista do local era extraordinária. A temperatura já se encontrava muito agradável e em frente o Lago Titicaca, que não se parava de mirar

Passado algum tempo, então saímos para os passeios. Subimos alguns degraus da escadaria; descemos outros; margeamos um outro caminho; vimos alguns turistas bem no alto da montanha, cruzando as trilhas e, visitamos algumas das feirinhas ali existentes.
               Arli  e eu  nos aventuramos e subimos a totalidade da escadaria, onde uma grande fonte d'água se encontra no topo. Por ambos lados desta fonte é que começam os caminhos para a visitação ao sítio arqueológico.  Fomos até as proximidades da vila onde moram nos nativos. Olhamos os produtos locais que se encontravam para vendas, e de longe apreciamos duas das edificações que compõe as ruínas.



A Ilha do Sol, na verdade, é passeio para dois ou três dias, dada a sua extensão. Há sítios arqueológicos tanto do lado norte, como do lado sul e são distantes uns dos outros. Daí a necessidade de guias para que se efetue o recorrido.
                       De volta ao barco para retorno, o bom encontro com seis jovens brasileiros, mineiros, estudantes de medicina em Cochabamba, com os quais travamos largas conversas até chegarmos novamente à cidade, o que até encurtou o trajeto.
Uma pequena passada pelo  hotel, para guarda das mochilas, e de volta ao centro. Agora, para conhecer e visitar a Catedral de Nossa Senhora de Copacabana, bem como o centro histórico.
O templo religioso, é de uma beleza arquitetônica fantástica, com predomínio da cor branca, uma característica das principais construções da Bolívia. O  interior da Igreja é até considerado simples, porém é na parte exterior que a grandeza desponta,  onde os pátios e os monumentos se destacam, demonstrando inclusive  a enormidade do complexo.
É neste santuário que se encontra uma das imagens mais cultuadas da Virgem Maria.
No século XIX, uma réplica da imagem foi trazida por comerciantes espanhóis para o Rio de Janeiro, onde foi criada uma pequena igreja que cresceu e acabou por dar o nome ao atual bairro carioca. 
Em frente ao prédio,
uma feirinha permanente
para venda de produtos
religiosos

Portal principal da Catedral





 
Uma das portas do
santuário
Esgotado o passeio pela catedral, uma passada pelas praça em frente ao templo para a compra de algum souvenir, caminhada pelas ruas, já no  final da tarde, estavam lotadas de turistas  e de vendedores ambulantes. Também fizemos alguns registros fotográficos.
Alguns dos nossos, aproveitaram para efetuar  cambio de moedas, uma vez que, o forte comércio se encontrava em plena atividade. Em mercado, a compra de amendoins para o consumo antes do jantar, porém acompanhados de cervejas. 


Veio o final da tarde e retornamos ao mesmo restaurante - o de sábado à noite - para o jantar. Não que não houvessem ofertas de outros estabelecimentos, porém preferimos repetir o local, com a intenção tão somente na troca do prato a ser solicitado.
Ao deixarmos o estabelecimento, e já a poucos metros, fomos alertados pelo garçom, em plena rua, o qual trazia em mãos o saco plástico com o que restara dos amendoins, dizendo: "los señores olvidaron esto ..."  nos entregando a sacola.
                                  Chegamos ao hotel, o atendente de portaria e recepção era um outro rapaz e tratamos de ir para os quartos.

Indo para La Paz
                                    Na segunda-feira, 19 de novembro, começamos o café da manhã, sendo atendidos, com um acanhado "bom dia", pelo mesmo rapazote que deixara cair a si e a bandeja no sábado.
            Rapidamente nos alimentamos e  tratamos de nos agasalhar melhor. A temperatura  era bastante baixa. Logo a seguir pegamos a estrada rumo a La Paz.


          
      Neste mesmo dia, nossos parceiros macapaenses nos informaram que estavam cruzando a fronteira Bolívia com o Brasil.
                                   
No gelado deslocamento, logo na saída, pegamos uma névoa bastante densa. Mais tarde um pouco de chuva e muito gelo na pista. Frente a isso, duas paradas. A primeira para reforçarmos o sistema de proteção das mãos, com a colocação de mais luvas e depois para contemplar a paisagem que nos brindava, onde tínhamos do lado direito, o  Lago Titicaca, ao centro uma pista muito serpenteada em subida e do  lado esquerdo grandes vales, e ao longe imensas montanhas.
                 Com este cenário, fomos chegando a Estreito de Tiquina de  para a travessia, em balsa, pelo Lago Titicaca, pra depois a retomada da rodovia ruma à capital boliviana.

San Pedro de Tiquina
San Pablo de Tiquina
A chegada para tomar a balsa, vindo de Copacabana, acontece na cidade de San Pedro de Tiquina. Ao se atravessar o braço do lago, chega-se à cidade de San Pablo de Tiquina.


São inúmeras as balsas. E pela concorrência, devem ser privadas, pois mal se chega à beira do lago e logo as "solicitações" de embarque acontecem e com muita veemência.
     Afonso, Nelsi e a camionete foram embarcados de plano em uma das balsas, junto com um outro veículo.

   Arli, Pacheco e eu, e mais as motos, numa outra, junto com um ônibus de turismo.
Antes de ingressarmos na balsa, demos uma olhada no entorno, onde haviam vários turistas desembarcados de um ônibus. Arli vistoriou a balsa bem como a rampa (tábua solta) pela qual teríamos que cruzar. Tem uns buracos lá dentro e precisa de reforço no espaçamento da rampa para a balsa, se não alguém vai cair ... disse Arli.
       Senõres, vamos a embarcar ....   Por delante ! ... disseram os controladores e já gesticulando. 


Lá fui eu. Mirei a tábua e acelerei. Tudo Certo!
Lá foi o Pacheco. Mirou, acelerou  e tudo certo!
Lá foi o Arli. Mirou, oscilou, colocou o pé num buraco e caiu com moto e tudo. Tudo errado!
          Chegou a turma da embarcação, somado a nós  e colocamos moto e condutor em estado normal.
 
Afonso que de longe assistia tudo, ao chegar do outro lado desceu da camionete e ficou na espreita a nos esperar.
Ao final da travessia, algo em torno de 20 minutos e no interior da própria balsa, tivemos que virar a posição das motos, eis que chegamos de frente. Foi um drama manobrar as pesadas motos com o piso da balsa escorregadio  e com bastante falhas.  Mas deu tudo certo, preferindo Arli que o Afonso efetuasse a condução da sua motocicleta até  terra firme.

Na Capital Boliviana                         
                 A chegada em La Paz aconteceu pouco antes do meio dia, e se deu por  uma movimentada via  declivosa e em curvas. Assim fomos adentrando a capital, com o GPS direcionando para o Hotel Berlina
                    Para chegarmos ao estacionamento, foi necessário o auxílio de um guarda de trânsito, eis que o tráfego precisou ser parado momentaneamente para que os nossos veículos pudessem ingressar em uma rua lateral. Nesta, uma lomba  e tanto, onde foram grandes as dificuldades para ingressar no estacionamento. que ficava no topo e com grande movimento de pedestres em frente à garagem. No interior do estacionamento, uma estreita rampa em descida caracol, exigiu habilidade de nós.
            Aqui, foi o Pacheco quem falou: ... quero ver nós sair desse labirinto, amanhã ....


Tudo superado, então correr então para conhecer La Paz via teleféricos. São mais de seis as linhas aéreas que recortam a grande capital,  o que dá perfeitamente para ver a grande metrópole em detalhes. Para este tour, nos foram indicadas as linhas "amarela , a verde e a azul". Utilizamos um táxi, cujo motorista aproveitou para passar um monte de dicas. E chegamos à estação amarela.


Sabedora dos seus problemas para com as alturas, Nelsi preferiu ficar no hotel nos aguardando para os demais passeios do dia.
  
Foi mais de hora e meia que gastamos para os passeios aéreos pela capital boliviana. Se trata, na verdade, da maior e mais alta rede de teleféricos do mundo. 
É muito diferente. Lá do alto tudo se vê, chegando-se a identificar a "verdadeira panela de pressão" que constitui aquela geografia  que está envolta por enormes montanhas. A vastidão e a grandeza dos casarios e das edificações, parecem estar adormecidas sob o manto montanhoso.


Impressionante!
De primeiro mundo!
Sensacional o passeio!
   Foram estas e tantas outras expressões que escutei dos parceiros com relação ao enorme giro que efetuamos em três das linhas teleféricas.

De volta à área central. Esta já recebia uma verdadeira multidão de pessoas, pois se aproximava das 18 horas. Por lá demos uma passada pela Igreja Matriz, Mercado da Bruxas e ruas das adjacências, onde se multiplicam as lojinhas com venda de produtos artesanais bolivianos.

No bom restaruante
velas para o jantar
   Ainda pelo centro da cidade, e exaustos pelas subidas e descidas pelas ladeiras, hora de parar para o jantar, o que se deu em um bom restaurante. simpatia dos proprietários, que se esmeraram em muito para desfazer o gosto pelas cervejas quentes, foi o fator preponderante para que nos retivéssemos ali até por volta das 22 horas, quando tratamos de rumar ao o hotel. Acordáramos sair bem cedo rumo a Cochabamba.

Uma moto estragou
                          Deixar La Paz, naquele dia 20 de novembro, foi o que nos movimentou cedo das camas. Rumo ao café e o pensamento na tal rampa do estacionamento em caracol acentuado, agora em subida.
- Eu fico lá em cima, disse a Nelsi. E, ao meu sinal, vocês aceleram, claro que um de cada vez!
- Acho melhor, disse o Pachecovai um em cima da moto, devagar e os outros dois um em cada lado, para a moto não cair e não voltar lá de cima.
- Vamos tentar sair com uma aceleração razoável, foi o que eu  disse. Estas motos são fortes!
- Dá para sair tranquilamente. Quando o primeiro for, os demais irão sem problemas, disse o Afonso.
- Vamos pensar bem ... disse o Arli.
                    Nelsi deu  o sinal. Fui eu, foi o Pacheco e também o Arli, todos numa boa. Afonso sofreu um pouquinho, porque a parte dianteira da camionete, ou a carroceria, tendiam a bater nas paredes da estreita e íngreme rampa.
                        E começamos o nosso deslocamento, muito embora ainda cedo da manhã, o trânsito já estava bem movimentado, num verdadeiro anda e pára.
               Afonso à frente, Arli, Pacheco e depois eu. No terceiro quarteirão dessa mesma rua Afonso e Arli, bem à frente, Pacheco - quase parando - e depois  eu.
         A moto não está querendo andar, disse Pacheco.    A partir daí,  eu empurrava a moto do Pacheco. Voltava para trazer a minha até um determinado local. Voltava a pé, empurrava novamente a moto do Pacheco
O trânsito estava infernal. 
O calor insuportável. 
A falta de ar era medonha e,
 a rua era,  pra ajudar,  uma baita lomba.
         Pelas tantas e para alegria enorme, Afonso, Nelsi e Arli estavam parados. Não conseguiam retornar  dada a mão única desta rua.  Que houve, perguntaram os parceiros?
A moto do Pacheco não anda, foi a resposta.
Vamos sair dessa zoeira e parar em uma rua mais plana, foi a proposta vinda dos parceiros.  
E voltamos a empurrar a moto, agora revezando com Arli, para um lugar mais brando.
                                 A embreagem da moto deixou de atender aos comandos. O cheiro de queimado denunciava que os "discos" estavam danificados.
                                  Vamos chamar o seguro, disse Afonso.
                                   Vamos tentar uma revenda Honda, disse Arli.

Já numa rua plana,
pensando no que realmente fazer
Nervoso, Pacheco não encontrava nenhum papel do seguro feito, e o celular não autorizava, apesar de habilitado,  ligar para o corretor dele em Bagé.
       Foi por meio do corretor Jorge Stravalacci, da Porto Seguro, em Porto Alegre, que acionamos o corretor Renato em Bagé que nos disse: pelos sintomastentem consertar a moto aí ... se não obtiveram sucesso, daí vamos acionar a companhia
                          Fomos, então,  Arli e eu, para a revenda da Honda, que soubéramos não ser muito distante dali. Uns dez quarteirões, nos informou um motociclista. Utilizamos um táxi para tal.
     Na revenda, ficamos sabendo que era um dos dias em que era proibida a circulação de veículos de carga naquela área da cidade. 
Es grande la multa! disse o gerente da concessionária. Busquen un vehículo  que ya esté en esa zona. Concluiu ele.
                          Arli e eu saímos  rumo ao local onde se encontravam os demais. Faltando umas quatro quadras, eis que surge a nossa frente um enorme caminhão guincho transportando um automóvel. Sem dúvidas, nos colocamos praticamente na frente do caminhão e gesticulando muito.
Arli fez a conversação e os devidos acertos.
         De volta, informamos aos parceiros: em  trinta minutos o guincho chegará aqui... e vamos todos para a Honda.
        A alegria foi geral. Principalmente do Pacheco, que dizia a todo o instante:  Tchê meninos... estraguei o passeio de vocês ......

  Já na Honda, a constatação de que realmente os discos haviam sido danificados e que teriam que reaproveitar o primeiro disco. Não haviam encontrado a totalidade no mercado.
      Na concessionária, ficamos das 11 horas até o meio dia, quando esta fechou as portas para almoço, com retorno às 15 horas. Quando retomaram os trabalhos, concluíram o conserto e  liberaram a moto por volta das 18 horas.
                  "Buen  viaje", foi o que nos desejou o pessoal da Honda. Pacheco, era só alegrias. Estava com a sua moto de volta às ruas.

O drama para o abastecimento   
         Por acerto nosso, iríamos em busca de um posto que vendesse combustível para placas estrangeiras e trataríamos de um outro hotel, já que pernoitaríamos mais uma vez em La Paz, devido o adiantado da hora.
Cadastro em sistema especial para
abastecimento de placas estrangeiras.
Foi complicado achar um posto. Um motociclista, ao ser consultado a respeito, foi quem nos levou ao um distante local. Neste,  depois de um complicado cadastro, checagem de passaporte, da autorização para se rodar na Bolívia e da confirmação da numeração da placa, é que foi autorizado o abastecimento. 
              Não são todos os postos de combustíveis, tanto nas cidades quanto nas rodovias, autorizados a este tipo de abastecimento.
         Quanto ao preço do combustível é exatamente o dobro daquilo que é cobrado do cidadão boliviano.

     Quanto ao controle, o sistema faz checagem com o sistema de aduana, onde no vídeo do computador, aparecem as fotos do condutor bem como do veículo, quando do ingresso na primeira aduana.
       Nos interessava, no entanto, abastecer também galões reservas, o que nos foi liberado tão somente 10 litros a ser repartido entre todos. Em outras palavras, quase nada de combustível.

 Até tentamos encontrar algum hotel naquela redondeza, porém os ali existentes eram da categoria super luxoFrente a isso, voltamos para as imediações da área central e com a contratação de táxi, o qual o seguimos,  depois de muitas idas, muitas subidas em um dos morros, chegamos ao Flávia's, um hostel que constara em nossas anotações para hospedagens.
Por estar localizado numa região muito alta, o motorista do táxi achou por bem passarmos do hostel, e ao final da quadra retornar para então ingressar direto na calçada que leva ao estacionamento.  Na portaria, efetuamos a negociação e tratamos de guardar as motos. 
Cuidado com a rampa, foi o que avisei.
Ingressei eu.
Ingressou o Arli
Ingressou e conseguiu acertar a tranca da porta, um ferrolho encravado no chão e bem no meio do portão da garagem, o Pacheco. A roda dianteira bateu  no tal ferrolho e a moto e o motociclista, lentamente, foram ao solo. Pacheco foi imediatamente socorrido pelo manobrista.
                                          Do Flávia's combinamos sair muito cedo, para novamente tentar escapar do trânsito e assim deixar a cidade de La Paz e rumar para Cochabamba. Solicitamos o café da manhã para as 6 horas e logo partimos.

Uma outra moto estragou
         Descemos uma lomba e tanto até ingressamos em uma via expressa. Nesta, começou uma longa subida e logo em seguida algumas curvas. Na região da grande avenida Buenos Aires, o ingresso em uma outra via muito íngreme que nos levaria ao topo de um grande morro para lá ingressarmos na Ruta 01, a rodovia que deveríamos rodar até Cochabamba.
                             Eram 7 horas da manhã daquele dia 21 de novembro, quando Afonso seguia lomba acima e à frente. Logo a seguir o Pacheco, eu e Arli. Todos furiosamente subindo e acelerando.
Em uma curva e ,em questão de minutos, perdi o Arli do retrovisor. Seguimos um pouco e sinalizei com o pisca alerta que alguma coisa havia acontecido.  
Paramos, esperamos um pouco e retornamos Afonso, Nelsi e eu, onde deixei minha moto aos cuidados do Pacheco.
        Ao retornamos, deu ainda para ver que dois bolivianos estavam ajudando Arli a levantar a sua moto. O parceiro havia caído.
Embreagem, disse Arli. A moto não atende. Não anda. Parou e caiu. Por sorte tive ajuda, senão teria ido lomba  a baixo ....  foram as rápidas palavras do Arli.
               Imediatamente, buscamos uma rua plana, de modo a ver o que fazer. Vamos chamar a Honda, disse Arli. Mas é muito cedo, alertou o Afonso. Lá, o expediente  só começa às 9 horas
Vou buscar a minha moto e também o Pacheco, foi o que disse, chamando um táxi para poder subir a lomba.    
          Junto ao Pacheco, lhe informei do ocorrido. Mas tchê menino, disse ele, que azar!  .... e olha o que ainda nos falta para subir até aquele topo ....  complementou o bageense.      
Assim retornamos e nos juntamos ao grupo, de modo a esperar a hora passar. Ao longo da espera, alguma definições: buscaríamos um outro caminho que não fosse aquela rota. Chamaríamos a Honda, eis naquele local, a camionete guincho poderia vir rebocar a moto. Buscaríamos um estacionamento para deixar as motos e a camionete e iríamos de táxi para Honda. Quando pronta a moto do Arli, a camionete guincho retornaria ao mesmo local e dali partiríamos então para Cochabamba.
                    Um pouco antes da 9 horas, e ainda por sugestão de um outro senhor ali da redondeza, fomos buscar um carro guincho ali perto, uns cinco quarteirões. Haviam vários caminhões de pequeno porte e camionetes, porém nenhum com guincho.
" ... no es necesario gancho, nosotros levantamos la moto en el brazo mira a mi ayudante allí .." Disse o senhor proprietário de uma camionete, mostrando-nos um velho indio, porém de porte avantajado.
Na camionete:
Gilberto Cesar, Arli e o propeitário
na carroceria  o indígena, ajudante
E lá nos fomos. Quando nos viram chegando, Afonso, Nelsi e Pacheco, quase que falaram quase que ao mesmo tempo: não vai dar certo .... a moto é muito pesada  .....


O índio se abraçou na parte dianteira da moto, pegando pela suspensão, e arriou.
                O senhor, o motorista, pediu ajuda a todos  .... até tentamos e,  nada .....    
                  Não vai dar, foi o que concluímos e a dupla então não pode fazer o carreto.
               Frustada esta tentativa, agora era acionar o seguro, até por questão de prevenção. Ligar novamente para o Jorge Stravalacci da Porto Seguro, em Porto Alegre, relatar a situação e ver o que fazer.
Aqui foi a vez do Arli ficar nervoso, pois não encontrara nem o telefone do seu corretor, o que contou com o fato dele ser o mesmo corretor para as nossas duas motocicletas.  
Aproveitando o sinal de
internet para contactar
com a Porto Seguro
em Porto Alegre
Deixamos o grupo e fomos em busca de uma Lan House ou algo assim. Encontramos uma que estava em manutenção dos equipamentos. Portanto, com as portas cerradas, porém com a permissão de "do lado de fora" aproveitar o sinal de internet.
Imediatamente o Jorge Stravalacci nos orientou primeiro a tentar consertar a motocicleta, devido o tempo de espera para o resgate. Em segundo, já nos colocou em contato com uma outra corretora  de São Paulo, a Letícia, que junto, assumiu o controle da situação, passando a escrever todas as situações possíveis para o caso de necessidade do envio de um veículo para efetuar o regaste.

               Chegou as nove horas daquela manhã e coube a mim telefonar para Honda, utilizando o aparelho da casa da Dona Maria, e também com ajuda dela que inclusive já topara guardar as motos para nós em seu estabelecimento comercial.    
 - Alô.. aqui são o brasileiros ... das motos de ontem ... estragou uma outra .... 
-   Qué? ... pero la moto salió de aquí girando y con garantía
-  Não ... não é a CB ... é a Shadow....
      Dona Maria então pegou o telefone passou o endereço e disse:  esperamos a ustedes aquí.       

            Em pouco mais de meia hora, estavam lá o mecânico que arrumara a moto do Pacheco, no dia anterior, e mais o gerente da loja.
Feito um teste na moto, a constatação do mecânico: Los  Discos
                       A rotina e esperas para aquele  dia foi igual a do dia anterior ou seja: ir para a Honda. Sair ao meio dia para almoço. Retornar à Honda depois das 15 e torcer para que a moto ficasse pronta até o entardecer.
          De diferente, foi que Arli e eu aproveitamos o vácuo de uma hora e fomos para a área central em busca de um grande caminhão guincho,que coubessem as três motocicletas, de modo a nos deixar lá no topo do morro, já na rodovia, e com isso não correr mais riscos de embreagens.
Fomos ao centro, num calorão danado, e procuramos pelos guinchos. Ninguém sabia, ninguém conhecia. Depois de tanto, acabamos descobrindo que o que buscávamos se chama, por lá, de "cabrestrante ou grua".
Não conseguimos o  intento e voltamos para a Honda.
          E foi assim, por volta das 17 horas, veio o sinal de que a moto já estava pronta, testada e aprovada.
               Agora era o Arli o mais feliz.

Disse-nos ainda o gerente da Honda, quanto a essa tentativa de alugar um caminhão guincho: 
                               "No tiene necesidad de contrata cabrestante. Estas motos son muy fuertes. Tiene motos pequeñas que suben y bajan toda la hora .... "

      Com isso, avisamos aos corretores da Porto Seguro - Jorge e Letícia - de que a moto já estava em condições de rodar. O pessoal da própria loja, com o guincho, levou a moto até o local de onde haviam pego pela manhã, Para lá fomos de táxi e, quando a moto já estava em solo,  nos despedimos do pessoal da Honda que disseram: esperamos que no vuelvan ... e saímos .

 

Tudo só alegria e tratamos de ir nos alinhando para a saída de La Paz. 


E a mesma moto estragou novamente   
         Em conversa com um taxista de van, o mesmo disse que havia sim uma outra saída, sem que precisássemos subir a tal lomba. Há lombas, disse ele, porém com menos intensidade e são intercaladas com algumas partes mais planas.
          A isso, fomos mais longe e o contratamos para que nos deixasse então na rodovia.
Seguiu ele a nossa frente e bem devagar. O trânsito estava  complicado, pois já passavam das 18 horas.
                      E começamos a nos deslocar subindo uma outra rua, mas também lomba. A  noite começou rapidamente chegar. O tempo foi ficando preparado para chuvas e o trânsito era lento ...  muito lento e subindo.
                    Foram-se a van e logo a seguir o Pacheco. Mais atrás, a camionete com Afonso e Nelsi, depois o Arli e por último a minha moto.
A moto do Arli começou a encrencar na segunda curva. Sem forças, gritou ele. Estava quase parando quando atingimos a terceira curva, também em lomba e tratei de "jogar" a moto para um canto, descer e ajudá-lo a também encostar a moto para o lado. O trânsito estava infernal.
 Não acredito! disse Arli. Nem cheguei a andar meia hora e tudo de novo! 
Afonso parou logo acima, uns 50 metros e logo todos estávamos apavorados com a situação. A chuva agora caia torrencialmente.
      E o Pacheco? onde será que está ... foram as indagações.
      Eu vou atrás dele, disse Afonso, o encontro, e voltaremos. 
       Ficamos ali, parados, molhados e apenas olhando os veículos desviarem por pouco das motos. Estávamos praticamente na virada da curva.
Em algum tempo, parou um motociclista e depois de algum tempo mais um outro. Um deles me emprestou o telefone celular, de onde liguei para a Honda, explicando que a Shadow havia estragado de novo. 
- No  pude,  ....  pero ahora es amañana a las 9 horas ....ya estamos cerrados ...
Como assim? Tem que vir buscar a moto... nem sabemos onde estamos... está chovendo  e não sabemos o que fazer ... disse-lhe.
- No estoy entendiendo .... mañana las nueve horas ...
                      E foram esses os diálogos.  
                    Deixa assim, disse o outro motociclista. Eu pertenço ao Moto Grupo Anjos Negros.  Em nosso grupo tem um componente que é mecânico e mora bem perto daqui. Vou chamá-lo e daqui a pouco ele virá. Eu irei em minha casa guardar a moto e já volto. Estou chegando do trabalho disse o rapaz.
 E ali ficamos. Em mais ou menos meia hora apareceu um rapaz que se identificou como Cristian Calzada. Eu sou do Moto Grupo Anjos Negros e o Éric me telefonou dizendo que alguns brasileiros estavam com problemas. Sou mecânico também....e  saiu examinando,testando e diagnosticando.
Perguntou onde e quando havíamos consertado ....  constatou que os discos colocados não eram de primeira qualidade, e ao tirar a vareta do olho, constatou que estava sem óleo." Sin aceite"  ...disse ele.
Vamos levar para a oficina. Vamos rebocar. Amanhã eu conserto e vocês podem seguir viagem, disse o Cristian.
Sem alternativas, Arli e Eu concordamos

Com um táxi, contratado por ali mesmo, a moto foi então puxada por uma corda lomba acima até a oficina do Cristian, com este pilotando, e Éric e Arli no táxi. Antes um pouco, uma senhora, reclamou muito que a moto estava muito próxima da ponta da escada da sua casa e que poderia derrubar a tal escada. 

A senhora referida, nem se importou com o fator chuva, que era torrencial, nem com o fator emergência, pois esta era a nossa situação.
               Em meio a isso, retornaram Afonso Nelsi na camionete, e mais o Pacheco pilotando a sua moto.
Vamos esperar pelo Arli, pois fora isso que combinara eu com ele.
Arli trouxe o endereço
do Cristian, anotado pelo mesmo
Um pouco depois chegou Arli e Eric no mesmo táxi. Acertamos que ficaríamos na cidade de El Alto, quase no topo do morro. Mesma cidade onde se localiza a oficina de Cristian e que por lá também pernoitaríamos. Conheço três hotéis lá, disse o rapaz.
              Mas eu não vou pilotar a minha moto, disse o Pacheco, complementando: com esse trânsito, essa chuva e essas lombas,,, nem pensar ....
          Foi então que Éric ligou novamente para o Cristian, que topou  voltar e subir com a moto do Pacheco. Logo chegou, vindo em um ônibus lotação, e começamos então a subir para a cidade de  El Alto. Na camionete foram Afonso, Nelsi, Pacheco, Arli e EricCristian na moto do Pacheco e eu na minha moto.
                 Já  em El Alto, e na segunda tentativa, conseguimos hotel. Por ali nos instalamos, saindo em seguida para um lanche rápido. Cristian e Éric se despediram, prometendo o primeiro retornar as 10 horas da manhã, para a compra dos discos da Shadow

Mais um dia de Espera      

Cristian, explicando o que danificou na moto
   Na manhã,do dia seguinte foi mais de espera pelo mecânico. Um apareceu depois das 10 horas, conversou com Arli e prometeu entregar a moto funcionando às 15 horas. Conversamos com  ele por algum tempo ainda, e logo rumou para a compra dos discos.


Café da Manhã
 - em  canecas de louça -
em El Alto
     Aproveitamos então para conhecer a cidade, tomar café e mais tarde almoçar. 
     A tarde foi chegando e a ansiedade começou a tomar conta do nosso grupo. Quase todos com poucas palavras, algumas irritações nos ares, e vários telefonemas para o Cristian,  que respondeu assim:
- Daqui a pouco.. disse na primeira vez.
- Quarenta minutos, disse na segunda ligação.
- Vinte minutos foi o que respondeu quando da última ligação feita por nós.

   Neste último contato telefônico com Cristian, os quais eram feito em um telefone público, a mais ou menos  cinco quarteirões do hotel, uma surpreendente chuva de ganizo resolveu cair, e com ela também o frio foi  chegando.
     Eram mais de 17 horas quando Cristian apareceu pilotando a moto do Arli.  
                 Pronta! foi o que disse ...  mas aconselho a não pegarem a estrada agora, pois a noite vai chegar logo e nada terão ai pela frente nos próximos 200 km.
Então, renovamos a diária no hotel, agora também renovados na esperança.
                           Ao Cristian, muito se agradeceu pelo empenho, solidariedade e pelo espírito motociclístico demonstrado. Não aceitou nenhuma quantidade em dinheiro, ao que disse ...  somos irmãos de estrada ....     
Se despediu prometendo retornar ao Hotel, um pouco mais tarde, juntamente com alguns membros do Moto Grupo Anjos Negros.
Quanto a este particular, ficamos esperando-os, sem que retornassem, porém creditamos isso a algum problema, pois estavam eles em reunião do moto grupo. 

Enfim, voltando a rodar
             For três dias parados em função do consertos das duas motocicletas que apresentaram o mesmo problema, qual seja, queimaram os discos de embreagem, repetindo-se duas vezes na moto do Arli.
                      Mais otimistas, partimos pela  manhã,  com uma oração proposta pelo Arli. Animados, deixamos El  Alto, por volta das seis horas da manhã. 
              O calendário estava marcando 23 de novembro de 2018, dia de recebimento de notícias dos macapaenses:
   Telma embarcara dia 20, via aérea, de Campo Grande, MS, para Macapá;
   Geomáriot eve problemas no eixo cardan da motocicleta, dia 21, nas proximidades de Brasília, e precisou ser rebocado;
   Márcio e Geomário chegaram em Macapá tendo as motos ficado em Brasília, para revisão e conserto.
    Alberto e Dani, continuavam rodando, indo em direção a Belém, PA, para de lá, via barco irem para Macapá.
           
                    Logo pegamos a Ruta 01, rumo a Chochabamba, há 437 km.    Aos 135 km, na localidade de Lahuachaca,  a primeira reabastecida desse percurso e a segunda  colocação de combustível em solo boliviano.    Era bem cedo ainda e o posto de combustível estava praticamente vazio.  Estava no atendimento   uma senhora, que logo consultou o esposo se poderiam abastecer as "placas estrangeiras", ao que ele perguntou?    
- Precisarão de notas os senhores?
- Não, foi a resposta.
- Então posso abastecer, ao custo de 7 bolivianos, ao invés dos 8,64.
Aceitamos, enchemos os tanques e também os galões reservas. .   Nelsi aproveitou para uma boa conversa com a senhora boliviana, que contou do seu dia-a-dia, bem como do trabalho que a família faz vendendo combustíveis.  
Nos disse Nelsi, depois ....   ela tem 38 anos ....   o que nos espantou um pouco,pois a aparência do casal denunciava  quase uns 50 anos.
                       Como não havia nada de comidas neste posto, tratamos então de voltar a rodar. A velocidade vinha sendo em média 110 km, posto que a boa rodovia estava colaborando em muito.
Obras na rodovia nos fizeram ingressar na área central da pequena cidade de Konani, que praticamente também se transformara em um canteiro de obras. Um grande número de caminhões trafegavam pelas ruas não pavimentadas, transportando pedras, areias e outros materiais para as obras na rodovia.
                                       Com velocidade muito reduzida, fomos desviando de buracos, pedras soltas e por vezes algum lamaçal, em função dos caminhões pipas que por ali circulavam e deixavam escapar porções de água.
                                           Passado este trecho, de volta então para rodovia, voltamos à velocidade d'antes empregada, isto é, uns trinta minutos, quando a moto do Arli começou a perder forças, 
Encostei ao lado e o mesmo gritou:  ....  não está passando dos 60 km.
Deixa assim, deixa ir vamos aproveitar a ... respondi.... 
            Mesmo na reta, a moto foi perdendo mais velocidade, chegando aos 40km depois 20km e parou totalmente.  Eram pouco mais das 9 horas da manhã.
Todos pararam.
            A moto não engatava nenhum marcha.
          O cheiro de queimado indicava que os discos de embreagem novamente haviam sido danificados.
               Agora parou tudo ... foi a conclusão.
               Chamar o seguro e rebocar .... seria a solução.
Olhamos para todos os lados. Nada havia.
Pouquíssimos veículos haviam cruzados por nós. Naquele momento, nenhum à vista. 
        Então esperar,  tendo o sol forte das quase 10 horas. . 
Logo hoje, que não trouxemos nada de água na camionete, asseverou Afonso.
Logo aqui, onde quase não cruza ninguém, disse o Pacheco.
E dizer que eu só rodei 180 km  disse Arli.
                            Um veículo ao longe, e nos enquadramos para pedir socorro .....  O veículo diminuiu a velocidade, porém, voltou a acelerar.
                              Deve ser pelas balaclavas, disse alguém ...vamos tirar as balaclavas do rosto .....  sugeriu um outro alguém.... 
Vamos é tirar as jaquetas e colocar os bonés ... o sol está pegando, sugeri aos demais .....
                Uma camionete, avisou o Afonso ... vamos abanar!!!!!
                 E o veículo parou. Sabedor então do nosso problema, o motorista disse que ajudaria. 
Uma "grua" foi o que dissemos estar precisando ... nos levar para Oruro, mas se for para Cochabamba, melhor ainda....
                             O sujeito desceu da camionete e se apresentou, dizendo que era empregado da  Empresa Estatal de Oleoduto. Vou telefonar para uma pessoa em Oruro e ele virá rebocar a moto.
Ao telefone, conversou e logo nos passou o custo para deixar a moto em Cochabamba, pois pelo que já sabíamos, dada a contratação do seguro da moto do Arli, quanto mais próximo da fronteira, melhor.
Tudo acertado. Então, aguardar pelo espaço de uma hora e estaríamos em condições de  rodar.
Na conversa com o empregado da estatal, que dirigia uma camionete similar a que nos acompanhava, disse ele:  se fosse esta a camionete, a moto entraria perfeitamente na carroceria, mas naquela, não tem como. .. é menor...  e aqui na Bolívia, não é permitido trafegar com a tampa da carroceria aberta... melhor é uma grua mesmo.
Despediu-se e ficamos na espera. 
     Aproveitamos para ver uma ruína que havia por perto, admirar o tamanho das formigas e também de outros insetos, um tanto diferentes. 
    A gasolina ... lembrei. Podemos negociar ... ao que prontamente concordou o  Arli e passamos a existente na moto estragada, para as outras duas.
    Um pouco depois procurar se resguarda-mo-nos na escassa sombra que começava a fazer numa das laterais da camionete.
                     Lá vem! ... disse Pacheco.
                     E nos postamos a beira da estrada para acenar e fazer movimentos, para assim chamar a atenção.
Era a grua.
Logo passamos a tratar de ajudar a colocar a moto para cima do caminhão.
Não demorou muito esta operação e, logo estávamos de novo na estrada rumo à Cochabamba, agora com o Arli de passageiro no carro guincho.


                     Na rodovia, por vezes, o asfalto dava lugar para trechos precários e outras  para o chão batido mesmo. Isto segurou muito o caminhão guincho, mas fomos indo em frente. 
Aos mais 200 km, paramos no posto alfandegário de Parotani, onde aproveitamos para efetuar o reabastecimento das motocicletas.
                              A partir deste, tratamos de começar a diminuir a velocidade, de modo a esperar pelo caminhão guincho.
Em Quillacollo, a 13 km de Cochabamba, paramos ao longo da rodovia. Um restaurante, com mesas na calçada, foi o escolhido, pois facilitaria visualizar o caminhão guincho de longe.
                            Mal folheáramos o cardápio, quando Arli já vinha acenando  ... e nós também repetimos o gesto, com algum alarde. 
Em pouco tempo, juntamente com o motorista do carro guincho, estávamos efetuando um farto almoço em Parotani.
Almoçados, descansados e ajustados, seguimos então para o hotel em Cochabamba.
          O ingresso na cidade não foi dos mais fáceis. Já passavam das 18 horas, e o trânsito era muito lento e o calor era muito intenso.
Em função disso, as motos pareciam verdadeiras fornalhas em meio as nossas pernas, foi o que comentamos Pacheco e eu, agora as únicas duas motos restantes do comboio que começara com seis veículos de duas rodas.
              Seu menino!, olha só, o quanto eu estou destilando, dizia o bageense.

              E chegamos ao hotel, onde rapidamente foram acertadas as burocracias, e para não precisar ir efetuar câmbio, devido ao cansaço, bem como o adiantado da hora, Carlos, o proprietário do hotel, ali mesmo adiantou para o Arli o equivalente ao custo da  grua, liberando  rapidamente o motorista do caminhão.
                              Devidamente instalados, imediatamente tratamos de acionar o seguro, Porto Seguro em Porto Alegre e São Paulo, de modo a acertar o rebocamento da moto do Arli.

Foram estes os primeiros diálogos com a Porto Seguro, por intermédio da corretora Letícia:

    Gilberto Cesar: Leticia, a moto do Arli parou de vez.... a trouxemos com um guincho até a cidade de Cochabamba onde o mesmo ficará instalado aguardando a chegada do socorro/seguro. Vou te passar o telefone  do Arli para que mantenhas contato direto com o mesmo para as devidas orientações.  Estou copiando está nota a ele. 
     Letícia: - Boa noite. Tá certo
- Vou fazer o contato com ele.
    Gilberto Cesar: ele irá acompanhar a.moto para que.se tenha.menos burocracia.
    Letícia: Tá certo. Estou verificando quem poderá atender esse serviço e já entramos em contato, ok
   Gilberto Cesar: o endereço  aqui onde ele está é;  Av. Aniceto Arce 678 - entre Papa Paulo  e Juan de la  Cruz Torres.  Cochabamba - Bolívia
   Letícia: Estou aguardando a base do guincho confirmar a previsão de chegada no local.
  Gilberto Cesar: ok....se puderes manda um whats  para o Arli naquele telefone que eu passei.... grato
   Letícia: Sim, eu já mandei um "Oi" para ele
   Letícia:  A base confirmou a previsão de 3 a 4 dias para o guincho chegar no local

                   Ao Jorge Stravalacci, nosso corretor em Porto Alegre, replicamos estes mesmo diálogos, tendo o mesmo  começado a acompanhar e nos informar a respeito do resgate.
                      Ainda no hotel, Arli disse para mim e para Pacheco, ficáramos os três no mesmo quarto:  tá tudo certo ... vocês vão indo .... que chego depois ....  não vamos atrasar o comboio .... brincou Arli.
Pacheco por sua vez, disse: tu é quem sabe "seu menino". Se precisar ficaremos por aqui ....   mas pelo que estamos vendo os caras irão de resgatar daqui a dois ou três dias ....   

               Feito isso, saímos então para jantar e dar uma caminhada pela Cochabamba.
                                  O forte calor já havia diminuído um pouco na grande cidade, o que tornou a caminhada agradável. Pela área central, grande era o número de pessoas que estavam também  caminhando pelas ruas ou sentados em bancos de praças.
Um bom restaurante foi o que encontramos, e, via internet, continuamos conversando com os corretores e nos assegurando quanto ao carro guincho que iria sair de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.      
-  Fiquem tranquilos, disse-nos o corretor Jorge Stravalacci. A Porto Seguro é campeã nisso. Deixem o Arli no hotel, que isto já é por conta da seguradora. Ele que fique passeando por aí e em no máximo dois a três dias ele já estará viajando para Porto Alegre
         Resposta neste mesmo sentido, também obtivemos da corretora Letícia, da mesma Porto Seguro, porém desde a cidade de São Paulo.
                    Ao londo do jantar, e todos sabedores desta notas, Afonso, Nelsi, Pacheco e eu, voltamos ao assunto e insistimos na situação do parceiro ...  
         Gente disse Arli: eu vou ficar bem. É só questão de esperar dois ou três dias. Todos leram as notas que o Gilberto recebeu dos dois corretores. Eu tenho grana para a comida e o hotel está garantido. Não há com o que se preocupar
                            Frente a isso, então fechamos posição de que as duas motocicletas e a camionete seguiriam viagem, com o acompanhamento diário do deslocamento do carro guincho desde o Brasil.
No retorno ao hotel, Pacheco eu eu insistimos com o Arli quanto à posição dele ficar esperando o guincho e persistimos no quesito "grana", quando então para nos tranquilizar, Arli acabou exibindo as notas de dinheiro que trazia consigo. 
                          Aproveitamos para ressarcir ao parceiro o custo da gasolina retirada da sua moto, quando estávamos a espera do carro guinho.

E o Arli Ficou    

                              Pela manhã daquele sábado, 24 de novembro, bem cedo começamos os preparativos para a retomada da viagem. Arli, a isso tudo, acompanhou. Nelsi e Afonso cederam um pacote de erva mate para o parceiro ficar chimarreando e travamos conversas  ainda por mais de vinte minutos, tendo agora a presença do proprietário do hotel, o Carlos.
Ora então de partir. Nos despedimos e tratarmos de pegar o rumo para Santa Cruz de La Sierra.
Com Carlos,  o proprietário do Hotel
Obviamente que foi uma despedida afetada, eis que não é nada bom deixar um parceiro, ainda que sob a imposição da impossibilidade de um outra situação mais favorável;  a moto se encontrava sem condições para rodar. A seguradora já providenciara o resgate. O Arli estava devidamente instalado no hotel, sem a necessidade de o grupo ficar, as expensas  de si mesmo, à espera da chegada do carro guinho.


      Vão com Deus e em paz que eu cuido do amigo de vocês aqui ... disse o Carlos.
    
              E, entre abraços e um até breve, fomos rumando para a rodovia.
A rodovia para Santa Cruz de La Sierra até que vinha se portando a contento para a rodagem, e em boa velocidade. 
Os macapaenses já haviam
passado por essa rodovia




              Porém, há de se lembrar, que os amigos de Macapá já haviam cruzado por este trecho ao cabo de sete dias antes, quando Márcio postara de nota avisando:  amigos, a estrada que leva para Santa Cruz De La Sierra, está horrível. A Telma tem fotos e vídeo
                             E o horrível chegou para nós também. Muitas obras, inúmeros caminhões, trânsito em meia pista, muitas pedras soltas, falta de acostamentos, muita lama, havia chovido e por vezes continuava a chover. 
O trecho, além de lento, foi muito cansativo, o que ensejou uma parada aos 194 km na localidade de Chimoré, onde um grande número de pessoas se encontrava ao longo da rodovia, mais precisamente em frente a um comércio de estrada.  Diversas bancas, especialmente para a venda de bananas, nos permitiu visitar algumas e escolher o produto para ali mesmo comermos.
Pacheco foi em busca de água, em garrafas plásticas. Teve alguma dificuldade, porém acabou encontrando num ponto de venda, não muito distante de onde estávamos. Neste particular, ainda não havia tido a oportunidade de ver um sujeito beber tanta água. Todo dia, em toda a parada para abastecimento ou alimentação, a noite quando do repouso. Uma garrafa d'água era sempre a parceira do parceiro. ... Veja "Seu Menino", o quanto eu destilo ... dizia... Preciso repor tudo isso ......
        Compradas as bananas, soube-se então que as pessoas, ali, aguardavam pelo transporte coletivo para irem para as suas comunidades.

Seguir em frente, com uma parada de uma hora e meia mais tarde, no Povoado Quarenta, onde na falta de refeição, devido ao horário, em uma tenda de estrada, nos alimentamos com pão seco e batido, com coca-cola


A partir dali, a rodovia já se encontrava pronta e em condições de uma rodagem com alta velocidade.


          Na sequência, nova parada para reabastecimento na cidade de Buena Vista, tendo nós, acertado em cheio o posto de combustível que abastecia as placas estrangeiras. Estávamos a 109 km do nosso destino para aquele dia: Santa Cruz de La Sierra.
    
      Aqui, os parceiros trataram de tomar sorvetes. O calor estava pegando prá valer.    Merecemos um gelado, disse Afonso!


Em La Sierra    

    A noite se apresentou rapidamente a nossa frente e sob as luzes artificiais de Santa Cruz de La Sierra, e com uma temperatura bastante agradável, fomos buscando um hotel para o pernoite. 
      Cansados e sem muita vontade em garimpar hotéis, quanto a preço e boas condições, ficamos praticamente no primeiro que se apresentou em nosso caminho: o Las Américas, aliás um excelente hotel, a uma quadra da praça principal da cidade.
Depois de instalados, fizemos o primeiro contato com o Arli, que falou:  .... estou bem; caminhei por todo o centro da cidade e amanhã  vou ao Cristo Redentor ...  O pessoal da Porto Seguro manteve contato e o carro guincho já está vindo .....
- Vamos avisar o pessoal em Porto Alegre a respeito da moto, questionei ao parceiro?
- Não ... não vamos preocupar as pessoas. Logo estarei na estrada, foi o que ele respondeu.

               Feito isso, rumamos para o centro da cidade, para dar uma caminhada pela praça e depois efetuar o jantar.
A praça, muito ampla, bem iluminada e muito arborizada, estava repleta. Entre tantas conversas, algumas em português chamavam a atenção. São alguns dos muitos que estudam em Santa Cruz de La Sierra, prestando o curso de medicina.  

           
Em um dos quarteirões, a Catedral Metropolitana se destaca em muito pela grandiosidade e beleza predial.
 Um senhor que se encontrava sentado junto a mais dois amigos seus, quando estávamos também sentados em  um banco da praça, a tudo olhando, nos interpelou e tratou de saber mais da nossa viagem, ao que Nelsi e Afonso dispensaram um bom quarto de hora falando dos objetivos, dos trajetos feitos, duração da viagem e tudo mais.
                  E tratamos do jantar em pizzaria localizada ali mesmo, no lado oposto ao da Catedral.
Entre umas conversas e outras, aproveitamos para acertar quanto a rodagem do dia seguinte. Sabíamos que a distância e o objetivo pretendido, estavam muito distante, porém ponderei o seguinte aos parceiros:  ... vamos nos inspirar no primeiro dia da viagem, em 3 de novembro, quando rodamos 645 de Porto Alegre a Uruguaiana. Se fizermos isso, cruzaremos a fronteira no final da tarde ......

                              No domingo pela manhã, depois de um excepcional café da manhã, remontamos o que havíamos retirado das motos e camionete, e tratamos de pegar a estrada. Nosso objetivo era cruzar a fronteira da Bolívia com o Brasil. Estávamos a 657 de Corumbá, MS.

 Em plena estrada, a necessidade de reabastecimento e a preocupação com o combustível começaram a nos inquietar. Pacheco sinalizara, por duas vezes, que a sua reserva de combustível no tanque, já estava prá lá da exceção.
Foi na localidade de Pailon, a 60 km desde o início da viagem, quando depois de três tentativas em abastecer, nos foi indicado um outro posto,  ....  a  3 km daqui, disse-nos  um frentista.
Um pouco mais tarde, às 10 horas e 30 minutos, uma parada para um "refresco" do sol, na localidade de El Tinto. Sob árvores frondosas, ficamos em descanso por mais de quinze minutos, depois retomamos a viagem. Um novo reabastecimento em Cochis, e mais tarde reabastecimento e almoço em Roboré.

Em Roboré, naquele posto de estada, havia disponível somente empanadas e refrigerantes, o que foi muto bem aceito por nós. Os relógios estavam marcando 15 horas.



Uma eleição a nossa frente  

                      
Trânsito parado em Puerto Quijarro
 Passava a hora das 16h30 minutos, quando começamos a nos aproximar da fronteira.  Puerto Quijarro  já estava a nossas vistas, quando o trânsito adiante, se apresentou totalmente parado.
Calor e uma longa fila de veículos.   S'imbora saber o que estava havendo.

- Uma eleição no município, disse um
- Um plebiscito local, disse uma outra.
- Melhor é voltar, disse uma brasileira, descendo do seu veículo. A aduana fecha as 17 horas. Vou ficar na cidade mais próxima, amanha retorno, concluiu a brasileira.
- toquem aí pelo lado ... carros pequenos podem ir passando, disse um caminhoneiro, também brasileiro.
                    E fomos indo, aproveitando a pista contrária, onde não trafegava ninguém naquele momento.

Afonso, indagando do policial
 Um plebiscito municipal e a travessia para o Brasil somente após as 17 horas informou um policial boliviano.
Mas como fica a aduana, perguntou Afonso?
É só passar, ....  mas não tem trâmites aduaneiros após este horário, respondeu o mesmo policial.
                                     O jeito foi esperar mesmo, até que passado alguns minutos do horário tido como encerramento do plebiscito, a fronteira foi então reaberta.

Em meio a um grande movimento, fomos cruzando a fronteira, sem parada no lado boliviano. A aduana já se encontrava fechada realmente.
Já no lado brasileiro, a informação da polícia aduaneira de que deveríamos voltar na segunda-feira para efetuar o trâmite de saída da Bolívia.

         Atentos a isso, ingressamos no Brasil, mais precisamente na cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Estava assim findando oficialmente o nosso Giro de Moto pela América do Sul.

                                                                                  
     Foi isso de Bolívia. Um país que perfeitamente deu para  ver a fase de modernização pelo qual passa, principalmente com grande canteiros de obras e novas rodovias, por onde passamos. Deu para percebe,r por meio das pessoas,a respeito da boa fase social que se vive. "  ... tiene todo para todos ..." foi o muito que escutamos.
      É bem verdade, que particularmente para nós, foi o país onde a ausência dos amigos macapaenses foi total naquele território, enquanto comboio. É também sabido, que tivemos duas motocicletas que estragaram,  chegando a deixar de rodar, necessitando de resgate e por tal, ficando um companheiro à espera de tal. Problemas, ainda que poucos, mas os tivemos quanto ao abastecimento das motocicletas e camionete. Mas foi interessantíssimo ter estado nas alturas da capital La Paz e do seu teleférico, o mais alto do mundo. Impressionaram também as belezas do Titicaca, da Copacabana, da Cochabamba e da Santa Cruz de La Sierra.
   Se viajar é bom, estávamos encerramos a jornada internacional, felizes por pal.
   Se conhecer lugares é aprazível, estivemos deleitados.
  Se percorrer caminhos é fascinante, estivemos, o tempo todo, instigados, com as íngremes lombas, as impetuosas descidas da  Bolívia que nos fizeram ficar mais atentos, mais solícitos e mais prestativos no rodar.
Em cada posto, em cada paragem
adesivar para deixar as marcas do nosso motociclismo


Foi o último país do Giro de Moto, por onde deixamos as nossas marcas.


                                                               



Fotos: diversos integrantes do grupo
Texto:   Gilberto Cesar 

Moto Grupo Com Destino


                             
                              
Porto Alegre - RS