domingo, 9 de dezembro de 2018

Giro de Moto pela América do Sul - Parte II

Ingressamos no Chile, tendo o Deserto do Atacama como cerne e muito radiantes por iniciarmos a rodar na estreita faixa costeira ladeada pelos Andes e também pelo Oceano Pacífico. Estávamos saindo das lições dos mapas escolares para uma experiência concreta. 


  Em solo Chileno                     
Placas  fronteiriças, repletas com adesivos de grupos e
individualidades que por ali cruzaram com suas motocicletas.
Nós também contribuímos, deixando
ali colados os nossos adesivos
Em 7 de novembro, começamos a visualizar a aduana fronteiriça entre a Argentina e o Chile ao longe. Os relógios estavam marcando 10 horas. O termômetro da motocicleta apontando para os  29º.  Ao longo do trecho um silêncio imenso, quebrado tão somente pelo ronco dos motores das motocicletas e a camionete de apoio.
Era a localidade de Paso do Jama que se agigantava aos poucos.  À frente, um gigantesco complexo aduaneiro. Mais adiante,  uma passagem montanhosa pelos Andes entre o Chile e a Argentina, a uma altitude de 4.200 m na fronteira. As rotas são a Nacional 52 e a  27 chilena.
Depois do demorado trâmite aduaneiro, saída de um país e ingresso no outro. Quase que ao mesmo tempo houve a checagem individual de placas e documentação dos veículos, por meio da polícia carabineira- do Chile. Pode-se dizer que é um complexo aduaneiro

                              Todos e tudo liberado na fronteira com Chile, agora então começar, verdadeiramente, a rodar pelo segundo país no Giro de Moto pela América do Sul.




Já nos primeiros quilômetros rodados, o deserto começou a se fazer muito presente. Extensíssimas porções de areia, vales, muitas montanhas com a ausência de vegetação, nos davam a certeza de que estávamos ingressando na zona desértica do Chile. Uma sensação fenomenal.




       Nada acostumados a estas paisagens, o grupo para para ver, sentir e caminhar um pouco pelas áreas áridas chilenas. Um solo fofo e muito quente, em razões do sol forte,  foi o que sentimos. Por todos os lados, as grandes porções de fragmentos de rochas formados pela erosão e pela ação dos ventos e das águas das chuvas, com  algumas pedras maiores, contrastando com o forte azul do céu.
                  As mulheres do comboio pararam para um registro fotográfico ante o grande deserto que se tinha por todos os lados.

Nelsi, Telma e Daniela.

   

Hora então de continuar a jornada. Restavam praticamente 160 km para a chegada tão esperada: São Pedro de Atacama, a cidade que serve de base para os aventureiros aos desertos da região.


                  O combustível existente nos tanques das motocicletas, bem como na camionete, seriam muito que suficiente para que se chegasse ao destino. Porém, uma parada para uma água   e quem sabe para uma barra de cereal, seriam tranquilamente necessária e bem-vinda.   

Foi o que aconteceu na própria estrada, valendo-nos da água gelada que se encontrava no compartimento traseiro da camionete.
                 
          A partir desta região, as lhamas foram vistas a todo instante cruzando a estrada, subindo colinas, descendo montanhas. São mamíferos criados soltos. Têm a pelagem longa e lanosa, sendo alguns, no entanto,  domesticados. 

Resultado de imagem para lhamas

Estes animais estão relacionados com os guanacos e com as alpacas.

Seguindo em frente, as paisagens continuaram bastante áridas, onde um grande salar se apresentou a nossa frente. 
Logo em seguida, as indicações apontavam para a região desértica do Atacama.





Gilberto Cesar, Márcio e Geomário
E o grande objetivo começou a ser alcançado. São Pedro de Atacama estava sendo vista, ainda que um pouco distante. Eram as placas indicativas na estrada prenunciando que a cidade estava bem próxima, ou melhor, nós é que estávamos muito próximos do nosso intento.
Foi com muito calor que ingressamos, por volta das 13 horas, em São Pedro do Atacama. Vagarosamente, fomos cruzando pelas ruas estreitas da comunidade. Quase todas elas desprovidas de algum tipo de calçamento. 
       Casas baixas, muitos coloridos, em função do forte comércio  a exibir artigos para venda. Rapidamente se percebe uma multidão de pessoas oriundas das das mais variadas parte do planeta. Eram eles: os turistas.
      
                       Uma parada em plena rua, sob um sol intenso, para a primeira tentativa em conseguir a hospedagem. Fomos a um hotel, Afonso,  GeomárioMárcio e eu
Enquanto isso, os demais ingressaram em uma lanchonete de esquina para se refugiarem do sol e também para uma alimentação rápida. Ao regressarmos com a resposta negativa, quanto ao hotel pretendido, pois estava lotado, nos deparamos com um local pequeno, abafado e com a cozinha aberta, o que aumentava ainda mais a sensação de calor.  Nossos parceiros terminavam o lanche, quando um cidadão libanês gritava dizendo que a conta estava errada. Eram sete sanduíches e não seis como queriam pagar a turma. - mas nem todos lancharam, uns fizeram outro tipo de pedido!! Foram sete os sanduíches, insistia o comerciante. O banzé estava formado. Quase todos gritavam e o calor, aí sim,havia aumentado em muito. 
Chegamos ao cúmulo de fazer contagem com levantamento de braços de quem havia comido o tal sanduíche e nem assim o sujeito se deu por vencido. 
Irritado ele e irritados nós.  Acabamos pagando a mais, ainda sob a ameaça de que os "caribenhos" seriam chamados.  Vocês não estão no país de vocês ... lembrava o libanês ....
              Alberto, foi o que mais se irritou, chegando a gritar com o comerciando, o que foi rapidamente acalmado pela turma do "deixa disso" ...  em resumo: pagamos um pouco a mais e o libanês ficou satisfeito .... porém, mal colocamos os pés para fora do estabelecimento e o comerciante praticamente lacrou a porta sob as nossas costas .... foi um estrondo muito grande o barulho da porta sendo cerrada.
                 
Esgotado o  incidente, por sorte, alguém lembrou da indicação de um motociclista que encontráramos lá em Susques. Ele havia nos dito: busquem o Corvatsch lá em São Pedro d o Atacama. Trata-se de um bom hostel e também hotel. É dirigido por uma brasileira, a Idiana Gomes. É super em conta para os motociclistas. Vocês vão gostar .... ,
Com a localização em mãos, rua Gustavo de La Paige 178, os três GPS disponíveis no grupo - MárcioGeomário e Afonso - foram programados para o Corvatsch e lá fomos nós.
                                      Encontramos o hostel e hotel Corvatsch, onde a proprietária fez um esforço danado para acomodar todo o grupo por dois dias. Na verdade, o moto casal Os Aliens, teve que ficar na parte  identificada como hotel e os demais em quartos, pelo hostel.
No próprio local, uma agência de turismo facilitou em muito a nossa programação para as incursões turísticas, onde contamos com especial apoio da equipe do Corvatsch. Pelo acerto, faríamos dois passeios no dia seguinte: visita aos Gêiseres de Tatio e ao Vale de La Luna, por recomendação inclusive da Idiana.
Para os Gêiseres, a saída é as 5 horas da manhã. Era preciso levar roupas de frio, posto que a temperatura lá estará em torno de 5º, recomendou a anfitriã.
O grupo, em um dos restaurantes de
São Pedro de Atacama
Feito isso, fomos para o centro da cidade almoçar, passear, conhecer, visitar os pontos turísticos e aproveitar para a compra de lembranças de São Pedro de Atacama. São muitos os pontos de vendas de souvenires. 
Principal símbolo do povoado: igreja de São Pedro de Atacama
A cor original era branca. Foi pintada agora na cor escura,
o que segundo se soube desagradou muito os moradores.

Dani no turismo
Alberto no Câmbio
As feirinhas
A calmaria de uma
outra rua
E todos na bebemoração
Os passeios pela cidade foram até o anoitecer. Na praça central, em frente à prefeitura local, diversos shows estavam acontecendo. Algo muito semelhante às danças, bem como as vestimentas gaúchas. 

Um pouco depois, já com a temperatura muito baixa, todos se recolheram para os seus respectivos quartos. A saída para os Gêisers seria muito cedo, quase madrugada ainda. 
                             E o despertar eufórico começou a acontecer bem antes das 5 horas. Era um verdadeiro "chama uns, que eu chamo os outros"
Como predomina o madeirame no hostel, desde as escadas, passando pelas paredes e pisos, qualquer movimentação ressoava muito forte. Em questão de minutos, todos se encontravam no pátio e deste para a van que já se encontrava no aguardo.
Florêncio, o motora
       Disse o Seu Florêncio: bom dia ... eu serei o motorista, o guia e o cozinheiro pois enquanto os senhores passeiam pelos Gêisers, eu prepararei o café da manhã. Após o café, darei uma explicação de todo o complexo. Ao longo da volta,  faremos passeios pelo vale dos flamingos, por um pequeno povoado e vale dos cactos. A viagem terá uma hora e meia de duração para ida, duas horas para passeios nos Gêisers, meia hora para os flamingos e cactus, meia hora no povoado e mais uma hora e meia de viagem de retorno. 
             Todos embarcados, a van então recebeu o nosso grupo composto por 10 pessoas e mais um casal da cidade de Curitiba
                             A escuridão da madrugada ainda permanecia firme quando a van começou a deixar a cidade de San Pedro de Atacama, rumo aos Gêisers. Uma estrada muito estreia. A nossa frente, bem como um pouco atrás, outras tantas vans que fariam o mesmo trajeto. O mesmo público, ou seja: turistas.
A temperatura não estava deixando por menos: 5º e um vento leve e gelado estava soprando.
     Mas afinal, o que são os Gêisers?
       Os Gêiseres de Tatio são uma das melhores atrações do deserto ao Atacama, no Chile, junto com a gruta El Azzi, que fica no Vale de La Luna. 
         Está localizado a 90 quilômetros de San Pedro de Atacama, com 4.320 metros de altitude. 
Vista um pouco ao longe quando
da nossa chegada aos Gêiseres
As grandes colunas de vapor saem para a superfície através de fissuras na crosta terrestre, alcançando a temperatura de 85°C e com até 10 metros de altura.
Neste campo geotérmico de origem vulcânica, a água e o vapor saem violentamente das profundezas da terra, tendo seu pico das 5h30 até um pouco depois das 7 da manhã.

Pórtico de ingresso nos Gêiseres

A chegada do Grupo aos Gêiseres - 5º  de temperatura
Na foto:
Casal de Curitiba - Arli, Gilberto Cesar, Alberto, Geomário e Nelsi
Pacheco, Afonso e Márcio

A temperatura no local costuma ser negativa, variando entre zero e menos vinte graus célsius.
                                      



                        Desafiando a tudo isso, Dani foi ao local calçando uma chinela de dedos .... por distração ou esquecimento quanto às recomendações pertinentes ao frio no local. Dani ficou por bom tempo dentro da van, tentando manter os pés aquecidos, não tendo conseguido escapar, ainda, de um grande mal estar, talvez ainda em função da altitude do local.

Seu Florêncio preparando o café da manhã
tendo ao seu lado o Geomário, Márcio e o Alberto
 Conforme falara, Seu Florêncio nos deixou liberados para os primeiros passeios e reconhecimento do grandioso e teatral acontecimento da natureza. Ficamos correndo, gritando, fotografando, tocando, pulando e admirando estonteantemente  a tudo. Enquanto isso, foi logo tratando de preparar o café da manhã ali mesmo, - tal qual em outras vans - um rotina para os motoristas, guias e cozinheiros (tudo ao mesmo tempo).

Demarcando o território

Os macapaenses Alberto e Geomário, até ensaiaram - por questão de segundos - um "estado de verão", erguendo a bandeira do Amapá.


            

                  Arli, gaúcho da Cavalhada, não deixou por menos e tratou de exibir,, além da sunga, também a camiseta do seu clube preferido.

Entre os demais passeios depois do café, com as letradas explicações do Seu Florêncio, o grupo entendendo, esperava a rebentação de jatos de águas na hora certa, identificando os vulcões que cercam o local, assim como pequenas formações, possivelmente vulcânicas, ali em erupção.
Desfrutando

Admirando


Impressiona bastante a questão das altas temperaturas da água e dos vapores que emergem da terra. 
Presenciei algumas pessoas colocando ovos crus para os ver cozidos em questão de segundos ....
                             É por volta das sete horas que as águas quentes e os vapores vão ficando com menor intensidade. Frente a isso, Seu Florêncio nos indicou o banho nas piscinas naturais - termais - cuja temperatura d'água é perfeitamente suportável, garantiu o nosso guia.
O problema, falamos rapidamente - é trocar as vestimentas. Sair de roupas de inverno para roupas de banho -  ....  não tem problemas, enfatizou o já amigo Florêncio ... compensa ! ... compensa !

E aos poucos fomos para o banho termal.

Com temperatura mais amena,
Dani caiu na água!

Ao fundo da grande piscina natural, com água aos excelentes 40º, a temperatura fora d'água ainda era muito baixa. Mas lá há os banheiros e vestiários para a troca dos trajes de inverno pelos de verão.
Meio inacreditável, mas a água da piscina por vezes nos fez trocar de lugar, na busca de água menos quente.
Foi sensacional e uma experiência excepcional e inesquecível em nossas vidas.



Esgotada a estada no campo, s'imbora então para os demais passeios. Todos para a van e daí direto para o povoado de Machuca.
Trata-se de um pequeno povoado encravado no deserto, com pouco menos de 50 casas, tendo um pequeno comércio que basicamente vende águas, refrigerantes e fartos churrasquinhos de lhama aos turistas.


             Vários provaram dos churrasquinhos de Lhama. 




Eu preferi um passeio pelo povoado, onde encontrei Alberto posando para um registro fotográfico.
                 Machuca, também tem lá o seu deserto, e por ele percorremos por vários quilômetros. Seu Florêncio continuou a mostrar os vulcões, e a aridez do solo até chegarmos ao Parque Nacional dos Flamingos e mais tarde ao Vale dos Cactos Gigantes, na localidade de Guatin.



No primeiro, deu para ver de perto o grande lago, bem como centenas das três espécies que ali habitam. 




No segundo, poucos subiram uma grande montanha para ver de perto os gigantes do deserto,os cactus, entre muitas pedras e subidas íngremes. 


             
Com uma temperatura oscilando, naquele momento, entre 40 e poucos graus, alguns preferiram admirar a bela paisagens ao pé da montanha.


 Esgotados os passeios e dado o avançado da hora, a van foi praticamente direto para o local de origem, hostel e hotel Corvatsch, onde as pessoas do grupo - pelas expressões e dizeres -  se encontravam   literalmente  "demolidas". 
Isto, certamente, teria sido o fator preponderante para que muitos desistissem do passeio programado para a tarde - Vale de La Luna - que acabou sendo cancelado.


o sempre disposto Pacheco
   Lembro de ter dito várias vezes ao Pacheco, - ainda que em tom de brincadeiras - e, extensivo aos demais é claro: ....  aproveitemos  ao máximo pois aqui não voltaremos ...   pelo menos nesta encarnação!
                    Assim, deixamos de visitar o segundo mais importante local turístico de San Pedro de Atacama, o que foi  realmente lamentável.


Na caminhada pela feira,
uma fruta para hidratar os corpos
                Restou então um pouco da tarde  deste dia  8 de novembro, quando Afonso, Nelsi, Pacheco e eu efetuamos grandes caminhadas pelo centro e arredores do povoado de San Pedro. Aproveitamos para almoçar, fazer compras de souvenires e visitar uma feira.
         Um pouco mais tarde, repeti a dose de passeios e caminhadas, desta vez com o parceiro Arli Figueira.
Neste ínterim, encontramos com Alberto e Dani. Essa última havia comparecido ao posto de saúde, novamente com problemas estomacais em função da altitude.

 Idiana Gomes, a anfitriã, aproveitou para entregar um boné e uma mochila ao grupo - regalos - ao que todos ficaram muito agradecidos.
Idiana, Afonso, Gilberto Cesar e filha de Idiana
                
A proprietária do Corvatsch, ainda usou  da oportunidade para um registro fotográfico com a Midnight 950 Star que eu estava pilotando para colocar na página do empreendimento.


Dani e Telma
 Na cozinha do hostel, uma combinação secreta: Telma e Dani se esmeravam no preparo de uma janta especial. A compra dos gêneros tivera a participação do Arli e Telma.  


         
           Aos poucos, o burburinho foi sendo esclarecido: Aniversário do Márcio!  

E todos puderam comemorar com o natalício do macapaense que, emocionado, proferiu algumas palavras de agradecimento. Se disse muito feliz por estar ali. Porém, enfatizou a saudade de sua casa e de sua família que estavam lhe tirando, em muito, o sono noturno.
janta servida estava prá lá de especial, com direito a bolo e tudo mais!


                     No dia seguinte, começamos  os preparativos para deixar San Pedro de Atacama rumo a CalamaAntofagasta. No total, tínhamos  quase 300km  programados para esta jornada, o que, consequentemente, levou a turma a tomar o café da manhã com mais vagar, assim como também no fechamento das bagagens nos alforges.
           Foi em San Pedro de Atacama, no Corvatsch que pudemos nos deliciar com o melhor café da manhã, até então. Um festival de coisas boas é que o tivemos na farta mesa do hostel.


Uma foto registro, marcou a nossa despedida da cidade.
Gilberto Cesar, Idiana Gomes, Telma e Geomário
Márcio, Afonso, Nelsi, Pacheco, Arli, Alberto e Dani


                                    Mas não foi nada fácil. Primeiramente  ir em busca do posto de combustível para o reabastecimento das máquinas. Idiana  se propôs ir à frente com comboio, de modo a facilitar o deslocamento.
Estas ruas são verdadeiros labirintos, argumentou. Além do mais, o único posto de combustível fica em uma rua isolada e para complicar, está localizado no interior de um hotel ....   argumentou.

                  Assim, aceitamos a ajuda e, em meio a poeira levantada pelos pneus, fomos indo vagarosamente ao posto. Ao chegar, depois de uns quinze minutos, a constatação de que a camionete, com Afonso e Nelsi havia se perdido.
                    Deixa que eu vou buscá-los, disse Idiana
                Em pouco tempo chegaram. E, para desgosto, foi desproporcional a reclamação do moto casal, ao que aceitamos sem problemas, pois tínhamos a certeza de que (para quem tanto já havia rodado) não os perderíamos naquele pequeno povoado. 
                                       E rumamos para os destinos do dia.
 São mais de 100 km em terras desérticas, num verdadeiro espetáculo da natureza. Aliás, mais um belo cenário de vastidões compostas de " um quase nada" , se é que isto existe .... as quais deixávamos para trás a cada quilômetro rodado. 



Na foto da Telma,
 foto registo do grupo no deserto de Calama.



      
Passando a cordilheira de La Sal, começa o Llano de La Paciência, um enorme vale, com uma reta de mais de 10 km que permite (aí sim) ver o tamanho do deserto que se estava rodando.                   Muito Deslumbrante!





                      Cruzado o deserto, agora eram as edificações da cidade de Calama que começavam a se apresentar.         
Manuel o ex-empregado
de Chuquicamata
Nesta cidade está localizada a maior mina a céu aberto do mundo, Chuquicamata, com caminhões gigantescos fabricados especialmente para o transporte de minérios. Então, um parada no local, passara a ser ponto obrigatório. Um  ex empregado da mina, de nome Manuel, que ali se encontrava, gentilmente tratou de nos falar a respeito da mina e sobre aquelas montanhas de minérios que se perdiam a nossa vista. 


No mirante, a beira da estrada e a pouco mais de 500 m da mina, um exemplar de uma grande pedra, mostra aquilo que é trabalhado na mina. O ponto serve para os registros fotográficos.

          O gigantismo é tão grande, que o imaginário fica um pouco desorientado e, para que se tenha uma boa ideia, uma escavadeira chega a ser tão imensa que é possível carregar um caminhão baú, dentro dela.


Os caminhões que transportam os minérios, chegam à altura de um prédio de um andar. Da mina, que tem 6 km de comprimento, 4 km de largura e uma profundidade de 900 metros, saem mais de 600 mil toneladas de material, sendo que somente 1/3 é óxido de cobre ou sulfato de cobre. O restante, entulhos resultantes do processamento, formam verdadeiras montanhas artificiais com mais de 150 metros de altura. 
Essas informações nos foram repassadas pelo ex-empregado, o Manuel
                                   Feito este giro e  sob um sol radiante e com temperatura elevadíssima, Manoel nos aconselhou  voltarmos a Calama para almoço e abastecimento, pois até a cidade de Antofagasta, nada há ..... disse ele. E complementou: são mais de 200 km.
Aceitamos a recomendação e  seguimos para a cidade.
                    Um baita drama até conseguir um local para o almoço. Mais de quatro estavam fechados. Um outro estava sem luz e mais um, que  não tinha comida suficiente para todos. 

Restaurante na cidade de Calama
Quase todos aos celulares, eis que a utilização de
 internet para nós, acontecia nas paradas de
almoço ou  nos  pernoites
Por indicação de um e de outro, chegamos a um grande restaurante. Amplo e com dois andares. Acabamos nos instalando na parte superior. Uma boa música, um cardápio vasto e um garçon, colombiano e de nome Eduardo,  que dominava bastante o português. Foi a nossa salvação, pois a fome, o calor e o cansaço certamente influenciariam em muito na comunicação em qualquer espanhol, pelo menos naquele momento.
                                               Terminado o almoço, direto para as motos, tendo como objetivo primeiro, visitar o monumento "Mano del Desierto" que dista 47 km além da cidade de Antofagasta e ainda retornar para esta, para o pernoite.  Então, "mãos nos aceleradores .... "  .
                    Apesar do esforço em ganhar tempo no asfalto, uma grande carreta transportando uma enorme máquina agrícola - certamente que devidamente autorizada - nos segurou a uma velocidade de 30 km por mais de quarenta minutos. Lá pelas tantas e dado inclusive a enormidade da fila de veículos,  a tal carreta ingressou numa estrada vicinal, o que foi sem dúvidas um grande alívio para nós, dada as nossas pretensões.
Já passavam das dezoito horas, quando as primeiras placas indicativas apontavam para o monumento. Uma longa buzinada, depois mais outras, e era assim, por meio da motocicleta que o Geomário estava demonstrando toda a sua satisfação naquele momento. Ao longe, já podíamos ver o grande monumento, ainda sob bons raios de sol, eis que temíamos chegar quase ao anoitecer ao local.
Foi uma corrida e tanto para lá chegar. 
Geomário, Gilberto Cesar, Afonso, Nelsi, Telma, Alberto, Dani
Márcio, Arli e Pacheco

O grupo macapaense
Alberto


Gilberto Cesar
         Las Manos, ou Monumentos Los Dedos, são todos criação do artista plástico chileno Mário Irrazábal. São 4 os monumentos:  Espanha, 1987, Punta del Leste, 1982, Deserto do Atacama 1992 e Veneza, 1995.

A mão significa a presença do Homem na Natureza.
O Homem surgindo à Vida. 

                      Entendível a comemoração do Geomário. Boa parte do grupo somava , com este, 2 desses monumentos em nossos currículos: Punta Del Este e o do Deserto do Atacama.


Já na estrada, reagrupando para retornar do Monumento Mano Del Desierto, Alberto achou por bem dar uma olhada no cabo de embreagem da motocicleta do Arli. Algo não está bem, disse o macapaense. ....  Tocando na embreagem falou: Caramba ... isto está esticado de mais ... logo vi pela dificuldade que está tendo ... Notas alguma coisa ... ... Não! respondeu o gaúcho da cavalhada. Alberto deu mais uma olhada, deu uma regulada e seguimos, na promessa de se ver e lubrificar com calma, mais tarde,  o tal cabo. 
Oceano pacífico
              Feita esta incursão, hora de retornar para a Antofagasta  para nos instalarmos em hotel para o pernoite.  A grande cidade do norte chileno, bonita e surpreendente para nós, se encontra banhada pelo Oceano Pacífico, o que se tornou um atrativo à parte, uma vez que não se vislumbra e nem se mira tão de perto este oceano todo dia.




Era final da tarde quando adentramos em Antofagasta, com parada  em uma grande avenida litorânea, ao estilo rua de recreio, passeio, ciclismo e caminhadas para as pessoas.   
   
Um registro no Pacífico

Parada na orla para contemplação


O trânsito, ainda que intenso para aquela hora, não chegou a ser um problema para o comboio que, seguindo os GPS's  instalados nas motocicletas de Márcio e Geomário que ponteavam o grupo, logo nos encaminharam para as proximidades do hotel escolhido, exuberantemente de frente para o oceano.
Refeição no Hotel, ao fundo o Pacífico

noite, por ocasião do jantar,  cada qual teve direito a um bom vinho chileno "cortesia da casa". E na sequencia, um belo jantar, cujo preço nem chegou a ser cogitado  naquele momento,  dado ao deslumbramento e felicidade pela estada na "mão do deserto, pela cidade de Antofagasta, pelo Oceano Pacífico e tal ..." Um pouco mais tarde,  soube-se do salgado custo daquilo tudo!       
              No entanto, uma boa curiosidade, por ocasião do café da manhã, é que a louça trazia gravado o nome do hotel - GEOTEL - que coincidentemente são as letras iniciais de Geomário e Telma, o casal macapaense, a quem sugeri solicitarem de presente um prato de tamanho médio. Telma coleciona pratos de parede. Ela ganhou o "regalo" e foi mais longe dizendo: vou mandar imprimir uma foto nossa, tirada aqui neste hotel ...     brilhante ideia!

                            E no outro dia, pela manhã, com um belo nascer do sol sobre o Oceano Pacífico, começamos a deixar Antofagasta, com o calendário marcando dia 10 de novembro de 2018.


Na verdade, foi uma saída com alguns atrasos e contratempos. Alberto e Dani, com a motocicleta, foram em direção à orla para mais registros fotográficos. Arli e Pacheco deixaram o estacionamento no quarteirão dos fundos, indo para a frente do hotel de modo a aguardarem o grupo. Os demais, ficaram esperando por estes e também por aqueles. 
Já passavam das nove horas quando aconteceu o reagrupamento iniciando-se a jornada rumo à cidade de Iquique, com parada prevista para a cidade de  Tocopilla, para descanso e almoço.
                             Tocopilla dista pouco menos de 200 km de Antofagasta, com  uma rodovia com belíssimas paisagens, legítimas de um bom filme de cinema.
  De um lado você tem uma enorme cadeia de montanhas, que parecem não acabar mais, com alturas gigantes, cortes geográficos dos mais variados e com tonalidade de cores também variadas.    
Do outro, o Oceano Pacífico, com grandes recortes sobre a superfície, ao que a rodovia segue, por vezes de perto, por vezes mais de longe, com subidas íngremes, sinuosidades interessantes e algumas descidas também consideráveis.                 Em outras palavras, éramos presenteados com uma  excelente paisagem.  Verdadeira dádiva.
Muito em função disso, a velocidade empregada era mais para admiração do que para uma alta aceleração. E ainda  com duas paradas ao longo do deslocamento para registros fotográficos e contemplação. Assim, chegamos em Tocopilla já beirando o meio dia, com um calor intenso, sedentos e com muita fome. 
            Ao longo de uma das avenidas, um grande mercado público, que vende de tudo - também dispunha de várias bancas com comidas típicas da região. Isto  realmente despertou o interesse do  grupo em ali efetuar a refeição de meio dia.
                          Ingressamos em um posto de combustível para reabastecimento e reconhecimento do local, já com a definição de ir ao mercadão para o almoço.


No posto, a simpatia de uma frentista pelo samba brasileiro e pelas motocicletas ali presentes, logo chamou muito a atenção. Ela nos orientou a  almoçarmos no mercadão, dizendo, ainda, que ali as motocicletas e a camionete ficarão "bem" ...  nós cuidamos aqui para vocês .....   concluíra a simpática Carolina. De nós, ganhou um chaveiro e os adesivos pertinentes a nossa viagem.


Moto do Arli sob o olhar do Pacheco e da Dani
com Alberto deitado sobre o solo e eu
segurando a motoca ....   cadê o Arli ?
Neste reabastecimento, a motocicleta do Arli começou a desperdiçar gasolina pelo respiro. É que o tanque recebeu gasolina demais .... disse um.   Não, é devido ao calor, falou outro...  Para dirimir as dúvidas e fazer cessar o desperdício, Alberto entrou em ação rapidamente e solucionou o problema colocando uma garrada pet na ponta do respiro para reaproveitar o líquido, caso continuasse a escorrer por demais. E também para não colocar em risco as demais motos, no caso de um incidente com o líquido inflamável. 
                                 Resolvida a situação, nos encaminhamos então para o mercadão. Já na primeira banca, duas senhoras saíram à frente para oferecer caldo, pollo e carne de rês. Na segunda e na terceira banca, a cena se repetiu indo assim até as últimas de umas doze bancas, onde nos abancamos, em dois grupos,  nas duas extremas. 
O almoço no mercado
O almoço no mercado


 Enquanto Geomário mostrava o mapa da viagem, estampado nas costas da camiseta do Márcio, Telma dividia carinhos com o mesmo garoto, porém agora junto a sua família, em uma das bancas onde se almoçou.

       
                Ainda em Tocopilla, aproveitei para explorar melhor o Mercadão indo ao seu interior. Lá comprei umas lembranças da cidade, as quais reparti com as mulheres do comboio.
                       Depois do ótimo almoço, descanso e descontração, deixamos Tocopilla. Agora, com o intuito de chegar a Iquique. Tão logo deixamos a cidade, a velocidade alta voltou a imperar, de modo a amenizar o calor, como também para chegar ao próximo destino ainda sob os raios do sol.

                     Nem meia hora de rodagem, e a velocidade foi então drasticamente reduzida. Passagem muito lenta por um local com casas baixas, algumas tendas de vendas de produtos com algumas pessoas oferecendo água, pães e frutas, ao longo do pequeno trecho. A isto, nem se deu muito atenção e logo a velocidade foi novamente retomada.
       Minutos depois, uma camionete de cor vermelha, por meio do condutor e do seu caroneiro, sinalizavam, com jogo de luzes e algumas pequenas buzinadas. 
Não entendemos.
       Ao cruzarem por nós, acenaram novamente ao que alguns dos nossos responderam. Mais um pouco e o motorista então gritou: ...  aduana ... vocês passaram direto da aduana .... precisam voltar ...  vocês poderão se incomodar.
Breque total. 

Parados, nos inteiramos então com o cidadão a respeito da aduana. Demos meia volta  e começamos o retorno.  
                                Já havíamos rodados 14 km.
                Na aduana, uma boa explicação e pedido de permissão para  cruzar a cancela e, imediatamente, retornar e proceder as identificações.
            Aproveitei para verificar o contexto com mais vagar, ao que constatei que a placa de identificação da aduana era pequena por demais. Estava muito enferrujada e o local mais se parecia com um pequeno vilarejo. Em ambos os lados da rodovia, além de um galpão azul, que serve para a aduana, havia vários bares e comércio de estrada, além de um pequeno parquinho com alguns dinossauros para a criançada brincar.   



Ali efetuamos a mostra de documentos, sob umas caras não tão amáveis, por parte dos alfandegários.

                 
                  Por volta das 18 horas, fomos então chegando a cidade de Iquique, local programado para o pernoite. 
Duas tentativas em conseguir hotel, sem no entanto obtermos êxito. Estávamos em pleno sábado. A cidade que detém uma das melhores praias da região, estava  recebendo muitos turistas. Com o grupo se dividindo em dois, na busca de vagas para a hospedagem ,dois hotéis foram então encontrados com disponibilidade.  
O primeiro, um anexo da rede Ibis, a preço bastante acessível e um outro bem próximo, onde ficaram Alberto e Dani
No  primeiro até havia vagas para todos, porém a dupla já se instalara, ficando então os demais no anexo do Ibis.

                    Pouco depois, fomos ao passeio pela área central de  Iquique. Realmente estávamos em uma grande cidade, com um centro  histórico memorável, com casarões preservadíssimos. 












Na praça principal, um evento de bandas militares prendia a atenção de centenas de pessoas, numa espécie de concha acústica, quase ao pé da igreja principal da cidade.
                       
No lado oposto, alguns pequenos centro comerciais com venda de muito artesanato e produtos típicos da região. Mais adiante, uma série de bares com mesas e cadeiras na parte externa, tornavam-se grande atrativo para o vasto número de turistas perfeitamente identificáveis.  Era, na verdade, uma rua de uso exclusivo para pedestres. 

Afonso, Nelsi, Arli e Pacheco, no passeio 
foto de  Gilberto Cesar
Feitas em madeira, as calçadas foram um outro item que nos chamou muito a atenção. Tanto quanto pela grandiosidade e alinhamento, quanto pela excelente conservação e limpeza.
Dani e Alberto curtindo a Iquique
                   Em Iquique, Nem todos os parceiros saíram para passear. Dos macapaenses, Alberto e Dani foram em direção à praia (ver foto a cima). Telma, Geomário e Márcio preferiram ficar no hotel, falando com os seus familiares via telefone.
É muito grande a saudade que o Márcio está sentindo da família dele, voltou a me relatar o Geomário, um poucos antes dos passeios.


           
                     

                          Na cidade, placas dispostas ao longo das diversas ruas centrais e proximidades da praia, atentam para o local como sendo de ameaça para possível ocorrência de Tsunami.
  


 No domingo pela manhã, com o tempo um pouco nublado, antes da partida, reencontramos e proseamos com duas famílias gaúchas, com as quais havíamos  cruzado em San Pedro do Atacama. Entre um chimarrão e outro, trocamos impressões a respeito das respectivas viagens. Essas famílias, da região noroeste do Estado, estavam rodando pelo Chile com veículos motorhome. 
             Nos despedimos e tratamos de pegar a estrada, tendo como rodovia a Panamericana Norte.
Ao longo da Panamericana Norte
uma indicação dos dois próximos
países pels quais ainda iríamos passar
Uma parada na localidade Huara. Novo controle aduaneiro, onde os passaportes e  certificados de propriedade dos veículos foram novamente vistos. Sem delongas, continuamos o deslocamento, chegando em Arica por volta do meio dia. Agora sob um sol intenso, com temperaturas, segundo o termômetro instalado na motocicleta, chegando a 40º.  A ideia era se alimentar, reabastecer e descansar por um período de uma hora, pois acordáramos cruzar a fonteira do Chile com o Peru no meia tarde e pernoitar na cidade de Tacna.
                          A chegada em Arica não foi das mais simples. Uma longa avenida, com grande movimento, fez com que o comboio ficasse descompactado. 
Pacheco, que estava praticamente sem combustível em sua motocicleta, ingressou no primeiro posto que viu, lado contrário da dupla avenida. Quem a isso observou, tratou de efetuar o retorno a uns 100 metros após. Como alguns ainda não haviam chegado a este local, o jeito foi deixar as motocicletas estacionadas e ficar de "olho" no meio fio que divide as avenidas para acenar, gritar e gesticular para os que estavam  chegando.
Deu tudo muito certo. Pacheco levou uma pequena reprimenda, e em breve todos estavam frente aos cardápios de um restaurante escolhendo os seus pratos. 
                                    Ainda em Arica,depois do almoço, a tentativa em conhecer um gigantesco feirão, nas proximidades do local onde estávamos almoçando e descansando. Afonso, Nelsi, Pacheco e eu demos uma bela caminhada ao tal feirão que já estava cerrando as portas. Foi uma ida e uma volta corajosa, pois o sol estava muito intenso. Os relógios marcavam 14h30 horas na cidade.
                                            De volta às motos, começamos então os últimos 22 km que nos separavam da fronteira.
Por volta da 16 horas, chegamos ao complexo aduaneiro de Chacalluta, e, com todos os trâmites formalizados, deixamos o Chile.

                                            Este País, cujas riquezas minerais em solo, se apresentou a nós. Lugar com gigantes e deslumbrantes cadeias de montanhas, que  arrebataram os nossos olhares e nossos  imaginários. O Pacífico se deixou ver de perto e nos acompanhou por muitos quilômetros. Oportunidade venturosa. O sonho se transformou em realidade. O ATACAMA deixou assim de ser uma busca ou uma vontade. Foi visto, palmilhado, admirado, curtido e venerado. 
                                            Cumprimos, dessa forma, a primeira parte da nossa jornada. Chile,  Atacama e tudo mais que vimos, ficarão muito bem guardados em nossas memórias para quando quisermos possamos percorrer tudo de novo na memória ou nos sonhos desta que foi uma extraordinária realidade.
                                                     
                                                         
Neste País, o documento essencial além do passaporte certificado de propriedade do veículo, o SOAPEX, seguro veicular obrigatório para estrangeiros,  esteve sempre presente.

Foi tudo isso de Chile!!
                                                                            
Fotos: diversos integrantes do grupo
Texto:   Gilberto Cesar 
Moto Grupo Com Destino
Porto Alegre - RS
                                                    


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