sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Giro Andino de Motos - Parte IV - O Retorno

Segunda- feira , 21 de outubro, o começo do retorno

Deixando a cidade de Santiago








           Retornar é sempre uma sensação agradável. Esta é uma afirmação comum entre muitos viajantes quando estão voltando de suas jornadas. Não foi diferente para os viageiros, que logo pela manhã já estavam acordados, cheios de entusiasmo e ansiosos pela estrada. No entanto, não faltariam atrações nesse começo de retorno, como a subida da Ruta dos Caracoles e a visita a dois importantes pontos turísticos argentinos ao cruzar a fronteira entre Chile e Argentina: o Parque Provincial do Aconcágua e a Ponte Inca.
      Assim, o grupo enfrentou o intenso tráfego de Santiago sob a liderança do Afonso, que se esforçava para garantir que nenhum motociclista ficasse para trás em semáforos. Ele frequentemente gesticulava para manter todos unidos durante a viagem.             
Outro papel fundamental era desempenhado pelo Paulo Valdameri, que atuava como retaguarda e cuidava do agrupamento com muita eficiência.                                                                                                              À medida que Santiago ficava para trás, o grupo seguiu pela Ruta 57, fazendo uma parada no mesmo posto de combustíveis onde haviam abastecido na vinda, porém agora logo após passar por Los Andes. A frentista era a mesma, que chegou a brincar com os viageiros, dizendo que agora ela tinha bastante troco. De diferente, é que a lanchonete, em frente, estava aberta a ela foi-se para um cafezinho e relaxamento.

Café nas imediações de Los Andes

     Mais adiante, uma placa sinalizava que em breve estaríamos iniciando a Rota dos Caracoles. Ao longe, o majestoso morro se destacava, com a estrada sinuosa contornando sua profunda inclinação. Pouco depois, fizemos uma breve parada para apreciar a Rota, antes de prosseguir pela célebre estrada.
A frente a Ruta, ainda distante

Chegou a hora da subida. Caracoles estava ali.
         O fluxo de veículos, especialmente de caminhões, não era nada surpreendente. O sol brilhava intensamente, e o som dos nossos motores ecoava forte naquele terreno acidentado. Uma curva; mais uma curva; um olhar para baixo; outro para cima, e seguimos em frente. O passeio pelas curvas é de uma beleza cativante e repleta de adrenalina. Com os olhos fixos à frente, firmeza no guidão e tranquilidade ao pilotar, todos esses sentimentos giram na mente e são, sem dúvida, essenciais. 
        Contemplar, sentir, rodar e vivenciar a Ruta dos Caracoles estava se revelando como uma gloriosa sequência de desafios que se apresentava pela segunda vez em nossa jornada de motociclismo.
Em dado momento, encontramos um amplo espaço de parada, espécie de mirante, uma área plana e aberta.
Parada no Mirante

Ao fundo, a Rota por inteiro

            Observar, admirar, clicar fotos, ouvir o som do vento, o trânsito e os potentes motores que desaceleram na descida ou se impulsionam vigorosamente na subida. Tudo é verdadeiramente maravilhoso e deslumbrante. O grupo permaneceu parado por mais de trinta minutos. Riam, se abraçavam, apreciavam a paisagem, caminhavam e celebravam a experiência naquele lugar encantado.
  Descer a Rota dos Caracoles foi uma experiência incrível.  
  Subir   a Rota dos Caracoles foi sensacional
                 O percurso chegou ao fim e a realidade das aduanas aguardava pelo grupo. A saída do Chile foi tranquila e a reentrada na Argentina também não apresentou dificuldades. 
       As imponentes montanhas, a brancura do gelo ao redor e a Ruta Nacional 7 estavam novamente lá, como se aguardassem o grupo de viageiros, que seguiram em frente. 
          
         Em pouco tempo, apenas 16 km, o grupo estava prestes a alcançar o ponto mais alto da América Latina, o Monte Aconcágua, uma verdadeira obra-prima da natureza, com seus impressionantes 6.961 metros de altura. 
Naquele instante, a vista parecia um tanto distante, mas logo o grupo estacionou as motos dentro do parque. Depois, visitou o centro de turismo para coletar informações e iniciou uma trilha de 60 minutos que levou bem próximo do imenso glaciar, assim como das belezas ao seu redor.
Ao fundo o Aconcágua.
 Na placa, uma ave do local e os viageiros
Afonso, Julia, Gilberto Cesar, Paulo e Gilda

    A caminhada é gradual e íngreme, seguindo por um caminho de terra batida, com corrimãos feitos de madeira rústica e gelo pelo trecho. Muitos lagos se formam devido ao derretimento do gelo e há diversas aves da região, com destaque para o majestoso Condor dos Andes, que tornam o cenário ainda mais encantador.


O voo do Condor

         Logo, o grupo chegou ao primeiro mirante, de onde a vista é realmente incrível. Ao prosseguir, encontra-se o segundo e principal mirante, necessitando de mais caminhada. Apesar do esforço exigido, somado ao peso das roupas de motociclismo e das botas, todos se mantiveram firmes.

         A recompensa veio ao alcançar o ponto máximo acessível aos turistas, onde as imensas placas de gelo impressionam, o silêncio é absoluto e a altitude do Aconcágua é realmente extraordinária.
No entorno, tudo aparenta ser bastante semelhante, não fosse a estrada que leva de volta ao estacionamento. 
        Foi um passeio incrível que, sem dúvidas, nos tirou dos nossos cadernos e das aulas de geografia, trazendo-nos para uma experiência real, vivida ali, entre amigos que buscam aventuras e conhecimentos. Estar tão próximo do Aconcágua, sem dúvida alguma, foi uma das experiências mais memoráveis.


         Prosseguindo pela Rua Nacional 7, em apenas 2,5 km, chegamos à Puente Inca, um importante sítio histórico na Argentina, que também foi reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco. O local estava cheio de turistas

     Há diversas lojas de artesanato, além de opções de lanches e refrigerantes. O complexo é bem extenso e, uma senhora argentina que explicava a respeito do lugar para uma jovem, logo me cumprimentou e começou a compartilhar mais informações sobre o local. 
          A Ponte Inca é um arco natural que forma uma ponte sobre o Rio Cuevas. 
                  No início do século XX, existia um mosteiro na região, onde as águas termais eram utilizadas para banhos e tratamento de enfermidades. Com o tempo, o local se transformou em um resort, atraindo turistas que chegavam de trem pela Ferrovia Transandina para aproveitar as instalações ou para se curar.




         Em 1965, uma avalanche varreu parte da ferrovia e o hotel, mas a Ponte Inca permaneceu intacta, assim como algumas partes da estação de trem, vestígios do hotel. A capela ficou intacta e se encontra ainda hoje a cima da Puente.
          A Ponte Inca é uma obra da natureza e seu nome está associado a diversas teorias, incluindo a de que os Incas a utilizavam para banhos terapêuticos quando os curandeiros não conseguiam tratar certas doenças.
          A terra ao redor exibe uma coloração vibrante, com intensos tons de laranja, amarelo e ocres, devido à presença de enxofre.
       No final, muito se agradeceu à senhora que compartilhou essas informações, momento em que a jovem que a acompanhava aproveitou para praticar os conhecimentos ali obtidos, transmitindo-os de vez em quando.
          O passeio cultural foi excepcional e muito enriquecedor. A Ponte Inca provoca uma profunda reflexão sobre a natureza, seu potencial e como os seres humanos aproveitam as oportunidades que ela oferece. À primeira vista, parece apenas uma grande rocha em forma de arco sobre um rio, cujas águas termais atraíram para a região um hotel, uma igreja, aumento populacional, desenvolvimento com a chegada da ferrovia, além de hóspedes e turistas. No entanto, uma avalanche destruiu tudo isso, deixando apenas ruínas que narram essa história.
       Atualmente, a Vila Inca conta com pouco mais de 200 moradores que sustentam suas vidas principalmente por meio do turismo, oferecendo produtos artesanais, souvenirs e comidas e bebidas.

          Completadas essas duas visitações, finalizava o itinerário da viagem que propus aos Viageiros Sudamerikoj
Era hora de, realmente, guiar as motocicletas de volta para nossos lares. 
                            Passou-se a manhã inteira nestas últimas visitações e, a partir de então, realmente os aceleradores foram esticados nas rodovias que contribuíam em muito. Houve no entanto paradas para o almoço, ainda que bem tarde e um reabastecimento. Na região de Potrerillos, o grupo apresentava algum cansaço, muito em função das caminhadas matutinas e a proposta foi pernoitar por ali mesmo. Na localidade propriamente dita, o único hotel se encontrava lotado e por indicação, seguiu-se em frente em direção a localidade de Cacheuta, onde se encontrou, a beira da rodovia, belíssimas cabanas, feitas em pedra, onde em uma delas os viageiros fizeram o merecido descanso e pernoite.

        O dia seguinte, 22, terça-feira, amanheceu com muitas chuvas e o jeito foi encarar a intempérie usando para tal as roupas apropriadas.  Sob muita água, os quilômetros foram sendo logrados, aconteceram paradas para café, reabastecimento e mais tarde o almoço.
De volta para a estrada a proposta era somente rodar, até porque a chuva não dera nenhuma trégua. 
A tarde foi se esgotando, a noite deu seus prenúncios e o grupo tratou da hospedagem noturna, o que se deu na cidade de Vicuna Mackenna, Província de Córdova

         O hotel encontrado era simples, o estacionamento era semifechado, porém a proprietária, uma jovem senhora, foi muito amável e reservou o espaço de lavandaria para a guarda das roupas de chuvas, as botas, capacetes, luvas e outros objetos, eis que deles escorriam muita água. Isto visava, principalmente a preocupação dos viageiros em não molhar e nem sujar o ambiente, deveras limpo.
Pouco depois foi-se a um posto de combustível próximo, onde na lanchonete aconteceu um lanche bastante reforçado. Os viageiros estavam com fome.

A quarta-feira, 23, também amanhecera com chuvas e, noticias de um possível ciclone pela região, colocou os viageiros em alerta.
Restou manter o otimismo, guardar alguns pertences, e deixar o estacionamento do Hotel. 
Hora de deixar Vicuna Mackenna
Seguiram os viageiros, e duas alternativas de rotas se apresentaram no GPS, a Ruta 158 e a 153, esta via Rosário, porém tendo como destino para o final da noite a cidade de Santa Fé
Esta última rodovia, foi a escolhida porém ao longo do percurso, ela  não se apresentou das melhores, o que deixou a viagem muito lenta.     Quando do reabastecimento, o frentista aconselhou que se buscasse a Ruta 158, muito embora o aumento um pouco na quilometragem, o que foi confirmado após, com alguns policiais que efetuavam uma fiscalização na estrada. 
O reabastecimento e a fala do frentista


      Chegou-se em Santa Fé, muito no final da tarde, quando a chuva passara de vez e o ciclone, por sorte, não cruzou pelo caminho dos viageiros.
As hospedagem em Santa Fé, foi no Hotel Suipacha, um antigo hotel, bastante rústico em seu interior, porém as acomodações eram agradáveis.
Em um bar, próximo aconteceu a refeição noturna, com o rápido retorno para o hotel.

            Santa Fé ficou para trás na manhã da quinta-feira, 24 e o destino era Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, portanto, em solo brasileiro a 470 km.
Para tal, o túnel sob o Rio Paraná foi novamente cruzado, com almoço nas proximidades de San Jaime de La Fronteira, em local que já se estivera quando da ida, onde os viageiros foram reconhecidos pela atendente. Novamente duas Pizzas grandes foram saboreadas.
         Em Paso de Los Libres, na fronteira, o grupo passou quando os relógios apontavam ser 17 horas onde os trâmites também foram rápidos, o que se repetiu na aduana brasileira.
Para o pernoite, em Uruguaiana, um bom apartamento, via aplicativo foi encontrado, Quanto ao jantar, ele aconteceu em um restaurante situado na Praça Rio Branco, a principal da cidade.

Dia 25 sexta-feira, dia do último trajeto.
        Uruguaiana, Santa Cruz, 508 km, para o Afonso e a Julia.
        Uruguaiana, Porto Alegre, 632 km para o Paulo e a Gilda.
        Uruguaiana, Capão Novo, 772 km para mim, Gilberto Cesar. 
        
        Os viageiros pegaram a Avenida Presidente Vargas, as 8 horas, efetuaram o reabastecimento e café da manhã nas proximidades do trevo, saída da cidade, e logo pegaram a Rodovia BR 290.
 Em Alegrete, 140 após, efetuaram outro reabastecimento e rumaram para São Gabriel, onde aconteceu o almoço e posterior reabastecimento nos veículos.
         A parada seguinte, aconteceu em Pantano Grande onde aconteceram as despedidas para os santa-cruzenses.
Uma hora depois, foi a vez das despedidas para os porto-alegrenses, o que aconteceu nas proximidades da nova ponte sobre o Guaíba.
Segui eu, com parada no Posto Grall, na Freeway para reabastecimento quando depois, às 19h30m adentrei na bela Capão Novo. No total, neste Giro, foram rodados 5.797 km.

Foi o Fim, na última foto coletiva dos viageiros

Estes amigos foram extraordinários. 
       Julia, com menos de dois anos no motociclismo demonstrou segurança, disciplina, velocidade, engajamento e muita responsabilidade na pilotagem. Foi um as fotógrafas do grupo.                                                                                                         Afonso, foi o responsável pelas hospedagens, liderou o grupo, e mais uma vez demostrou a sua capacidade de visão  e integração.     
        Paulo e Gilda, são pra lá de parceiros Foi terceira viagem deles comigo e mais uma vez foram grandes colaboradores. Ela foi, também, fotografa do grupo.
          Eu, planejei a viagem e fiz as narrativas.
 
            Pouco depois, passei nota aos parceiros, dando por encerrado o Giro Andino de Motos.

          Encerramos oficialmente o GIRO ANDINO DE MOTOS, uma rica e proveitosa jornada. Como sempre, tudo em nossas vidas são aprendizados que marcam, que fortalecem e que nos enriquecem, principalmente quando se trata de viagens culturais e de conhecimento.
        Resta agradecer a todos pela parceria, dedicação e esforços para que tudo acontece da melhor forma e proveito.
         Foi uma honra tê-los como parceiros.
         Lembre-se de que nada é por acaso.
                                                 Abraços em todos meus queridos Viageiros Sudamerikoj.
 Gilberto Cesar
 Fotos: Gilda Valdameri
            Julia Schnaider
Texto:  Gilberto   Cesar










Se me preguntas si fue bueno,
te respondo: fue formidable!
Até a próxima!


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