sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Giro Andino de Motos - Parte I - Brasil - Ida

Giro Andino de Motos        

               Inicialmente previsto para ocorrer em maio de 2024, o Giro Andino de Motos, que atravessaria Mendoza, na Argentina, e Santiago do Chile, foi adiado para outubro do mesmo ano devido às severas enchentes que  afetaram o Rio Grande do Sul, resultando na maior tragédia climática já registrada no estado.

Centenas de rodovias, pontes e localidades ficaram completamente destruídas, tornando impossível qualquer movimentação de veículos, exceto em situações de emergência.
    O grupo denominado "Viageiros Sudamerikoj" utilizou o WhatsApp como ferramenta de comunicação e interação entre os motociclistas, além da oportunidade onde lhes apresentei o planejamento da viagem, a proposta das rotas, as atrações turísticas a serem visitadas, a planilha de custos, da necessidade de manutenção das motos, das bagagens e a documentação necessária para a viagem. Tudo isto foi amplamente debatido, discutido, adendado e aprovado ao longo de vários meses. Esta se constituiu na primeira fase.


     Envoltos em uma mistura de euforia e ansiedade pela viagem, o grupo recebeu a notícia de que Nelsi Schnaider, parte feminina do Moto Casal "Os Aliens" de Santa Cruz do Sul, não poderia viajar devido a uma recomendação médica relacionada a dores em um dos joelhos. 
     Com o passar dos dias, outubro chegou e tudo estava preparado para o início da jornada.
Entretanto, antes de seguir diretamente para Uruguaiana, atenderiam ao convite do Moto Grupo Os Caranchos de Santiago, RS, e os "Viageiros Sudamerikoj" se juntariam, na sexta-feira, dia 11, ao Encontro de Motos organizado pelos santiaguenses. Alberi Shaf, dada a forte conexão de seu moto grupo, Rapinas, com os Caranchos, facilitou essa participação e a visita à cidade. Na verdade tratava-se do 15º aniversário deste moto grupo.

Sexta-feira 11 de Outubro: Início do Giro Andino de Motos
     De acordo com o plano, eu sairia de Capão Novo bem cedo, com destino à Ponte Estaiada na BR 448 em Porto Alegre, onde os amigos Arli Figueira, Paulo e Gilda Valdameri me esperariam. A partir daí, seguiríamos em direção a Santa Cruz do Sul, passando pelas BRs 386 e 287, onde encontraríamos Afonso e sua filha, Julia Schnaider. Nossa expectativa era chegar em Santa Maria por volta das 13 horas, onde Alberi Schaf aguardaria em um local estratégico para nosso almoço e a continuação da viagem para Santiago do Boqueirão. Este foi oficialmente o primeiro nome do município de Santiago.
    - Partiu! – foi a mensagem que enviei ao grupo assim que dei início à jornada pela Estrada do Mar.
Tudo tranquilo e conforme o planejado, exceto pela forte chuva que atingia o Litoral Norte.
    - Sem chuva aqui em Porto Alegre, respondeu o trio da capital.
    - Em Santa Cruz, tempo seco, informaram Afonso e Julia.
    - Santa Maria também sem chuvas e calor, escreveu Alberi.
   
     Ao chegar em Porto Alegre, a felicidade em reencontrar amigos que compartilharam tantas aventuras sobre duas rodas. Muitos abraços foram trocados e, em pouco tempo, agora em um grupo de quatro, seguimos viagem em direção a Santa Cruz do Sul.
Em Porto Alegre: Paulo, Gilberto Cesar, Arli e Gilda

     Na terra do tabaco e da oktoberfest, as saudações também foram direcionadas aos amigos Schnaider, acompanhadas de exclamações a respeito de três novidades:     -  A nova moto do Afonso, uma impressionante Harley- Davidson, laranja, com 1690 cilindradas. Uma verdadeira máquina.        -  A nova moto da Julia, uma belíssima NC 750, vermelha.      A própria Julia, que com pouco mais de dois anos de experiência no motociclismo, estava se preparando para sua segunda viagem a países sul-americanos, eis que fora a Assunção, a capital do Paraguai, com sua antiga Twister 250.
Em Santa Cruz do Sul:
Gilda, Arli, Gilberto Cesar, Julia Afonso e Paulo

         Já passava um pouco das 13 horas quando os seis motociclistas chegaram à cidade de Santa Maria, que apresentava uma temperatura bastante elevada e um sol escaldante. Naquela cidade universitária, se dirigiram ao Posto Botoqueiro, onde o Alberi e alguns integrantes do MG Rapinas também se encontrariam para seguir em direção ao evento de motos em Santiago. O encontro com Alberi foi bastante animado, refletindo a empolgação dos demais parceiros sobre duas, três ou seis rodas, já que os Rapinas utilizam motocicletas, triciclos e, mais recentemente, trailers e motorhomes para os deslocamentos. As conversas foram rápidas, mas cheias de entusiasmo, e logo muitos partiram. Nós aproveitamos para ingressar no restaurante e almoçar na companhia do Alberi. Em pouco mais de quarenta minutos, todos estavam prontos, as motocicletas abastecidas e o grupo "Viageiros Sudamerikoj" estava, pela primeira vez, completamente formado.

   
Em Santa Maria, na foto da Gilda,  os Viageiros e as máquinas:
             Gilberto Cesar, Yamaha 950 - Alberi, Triumph 1200 - Julia, NC 750 - 
          Afonso Harley Davidson 1690 - Paulo, Triumph 900 e Arli, Shadow 750

      Plenamente integrada ao grupo, Julia assumiu também a responsabilidade das fotos da viagem, juntando-se a Gilda, que já vinha realizando esse papel fundamental de registrar em vídeo e fotografias os deslocamentos dos nossos Giros de Motos anteriores.

        A jornada prosseguiu em direção à cidade de São Pedro do Sul, passando posteriormente por São Vicente do Sul, Jaguari e finalmente chegando a Santiago, quando os ponteiros do relógio indicavam pouco mais de 17 horas. A rodovia utilizada, a BR 287, apresentava um movimento modesto naquela tarde, cobrindo uma distância de 157 km.
     Santiago foi se revelando aos poucos, e logo se deu a entrada na terra dos poetas, alcunha esta em razão da rica tradição literária da cidade, que foi o lar de renomados poetas como Aureliano de Figueiredo Pinto, Caio Fernando Abreu, entre outros.
Chegando na cidade de Santiago no RS

         O destino foi o ginásio municipal, onde o evento já estava em andamento. Embora o número de motociclistas fosse ainda reduzido, a recepção por parte dos organizadores aos "Viageiros Sudamerikoj" foi grande, calorosa e cheia de entusiasmo. Em um ambiente bastante festivo, surgiram diversas perguntas sobre a viagem para a Argentina e o Chile, as rotas que seriam percorridas e os lugares a serem explorados.
Isto aconteceu até por volta das 19 horas, quando o grupo se dirigiu ao Hotel Glória para guardar as motos, trocar algumas peças de roupas e depois retornar ao evento. 
     Ao entrar novamente no ginásio esportivo, agora extremamente lotado, a atmosfera era de total descontração, com música ao vivo no palco e muitos motociclistas se dividindo entre conversas e visitas às feiras de produtos relacionados ao motociclismo. O pessoal do MG Rapinas de, Santa Maria, propôs um churrasco em conjunto, o que foi logo acertado. Assim, os "Viageiros Sudamerikoj" se dirigiram a um supermercado, que não era tão próximo do local do evento, e foram a pé em busca dos suprimentos.
A caminhada para o Super

      Sendo sexta-feira e já quase no fim do expediente de mais um dia, a demora no supermercado se estendeu bastante, mas ninguém se importou muito. Enquanto isso, alguns pacotes de salgadinhos e algumas latas de cerveja começaram a ser abertas, claro que com a ciência do pessoal do estabelecimento.
Foi uma grande festa de churrasco, organizada pelo Arieleso Chiquinho, que também faz parte do Moto Amigos RS, junto com vários integrantes do nosso grupo de viagem. 
Churrasco com os Rapinas de Santa Maria

Após a deliciosa refeição, quase todos se dirigiram para o interior do ginásio, onde a festa realmente começou, repleta de música, danças, risadas e momentos de confraternização. Por volta da uma da manhã de sábado, nosso grupo se retirou para o hotel, pois ainda tínhamos a viagem pela manhã rumo à cidade de Uruguaiana.

Sábado, dia 12      Logo ao amanhecer, a luz do sol penetrava as finas cortinas do quarto, enquanto os demais companheiros já começavam a se mover, mostrando sinais de despertar. A proximidade dos quartos facilitava isso. Com todos acordados, seguimos para o café da manhã, e em seguida aguardamos a chegada do Alberi, que pernoitara com os Rapinas nas proximidades do Ginásio.       Diante do hotel, um imenso desfile de motociclistas passou em procissão, prestando homenagens à Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, que faz deste dia um feriado nacional. Depois, um grupo de cavaleiros também repetiu o desfile, mas o que mais se destacou foi a beleza desse grupo; muitas mulheres e crianças montadas nos animais. Em meio a tudo isso, o calor da cidade era intenso. Por volta das 9h30, ouvimos o ronco da motocicleta do Alberi
Era hora de retomar a jornada.
Hotel Glória

    
O destino era Uruguaiana, onde o restante do sábado seria reservado para passeios e os preparativos para a travessia pela ponte internacional, com entrada na Argentina programada para domingo, por volta das 8 horas. Entretanto, antes de chegar lá, a viagem incluía visitas às cidades de São Francisco de Assis e, em seguida, Manoel Viana, que ainda não tinham sido exploradas. Vale lembrar que meu objetivo é visitar todos os 497 municípios do Rio Grande do Sul e já estou bem próximo de alcançá-lo.
     Para chegar em São Francisco de Assis, rapidamente foram percorridos os 52 km que a separam de Santiago, através da BR 377. Nesse trajeto, o que chamou a atenção foram as excelentes condições da estrada e a falta de tráfego intenso.
    Enquanto circulávamos pela cidade, uma árvore gigante, centenária, plantada bem no centro de uma rua elevada destacou-se na paisagem, tornando a cena bastante encantadora, memorável e de uma sombra exuberante.

     Na praça central, ergue-se um monumento em homenagem ao gaiteiro Neneca Gomes, considerado o inventor do Bugio, um estilo musical e de dança gaúcha, muito embora a eterna discussão de que este ritmo teria sido criado na outra São Francisco, a de Paula, na serra gaúcha. Na mesma praça, diversos bugios, animais da espécie dos macacos, foram vistos circulando no alto das avantajadas e numerosas árvores que a cercam.
Monumento ao criador do ritmo musical gaúcho
denominado Bugio
         Mais tarde, por volta das 11 horas, foi a vez de Manoel Viana. A cidade enfrentava um calor intenso e a movimentação na rua principal era escassa. 
Área Central

Estação Rodoviária de Manoel Viana

      A Ponte General Osório, que atravessa o Rio Ibicuí, construída em 1945, destaca-se como o principal ponto turístico da cidade.

Antigo caminho dos trens da VFRGS, estatal gaúcha 
criada em1920, encampada na década de 60 pela RFFSA

       Manoel Viana se afastou dos retrovisores das seis motocicletas que seguiam, conforme combinado, em direção ao Alegrete, com uma parada prolongada para o almoço. A estrada continuava a ser a BR 377, com suas longas retas e os amplos campos verdejantes, criando um cenário impressionante. Não havia nada ao redor e muito menos à vista. O barulho dos motores e a leve brisa, que aumentava de intensidade com o movimento, eram os sons predominantes sobre o asfalto, que, sem dúvida, estava bastante quente com o forte sol que se fazia presente.       Após percorrer 45 km, a cidade de Alegrete tornou-se claramente visível, e o grupo começou a procurar um restaurante ao longo da estrada. 
No primeiro que avistaram, a entrada dos viajantes foi rápida, assim como a saída do local. Neste, o custo da refeição foi considerado excessivo, algo que ficou evidente por quase unanimidade, já que aqueles que ainda não haviam entrado também optaram por deixar o estabelecimento.
Em um segundo restaurante, localizado a mais de 2 km, e com um posto de combustível bem perto, o grupo pôde se deliciar com um buffet bastante diversificado. Segundo informações, o preço foi praticamente a metade do que pagaram anteriormente. 
    "Nada acontece por acaso", disse Arli, repetindo com um sorriso a frase que considero um guia em nossas vidas.
      Após um almoço satisfatório, os veículos foram reabastecidos, algumas pessoas se alongaram e a viagem reiniciou para os últimos 140 km até Uruguaiana.
         Chegamos à minha cidade natal por volta das 15 horas, sob um calor intenso. A rodovia BR 290 não ajudou em nada a manter uma velocidade adequada. O trecho era marcado por remendos mal feitos, buracos e falta de asfalto.  Alberi, que também conhece a cidade, estava na frente e seguiu pela Avenida Presidente Vargas. O destino era a Praça Central, onde faríamos a troca de moedas antes de seguir para o Hotel Roma, escolhido como local para passar a noite.
Entretanto, como já havia sido alertado anteriormente ao grupo, teríamos certa dificuldade em localizar casas de câmbio abertas por ser um dia de feriado. Para piorar a situação, surgiu uma nova complicação no cenário dos "Viageiros Sudamerikoj": a ponte internacional estaria fechada das 7 às 9 horas da manhã do domingo devido a uma maratona internacional que ocorreria entre Uruguaiana e Paso de Los Libres.
     - Complicou tudo! Precisamos atravessar ainda hoje para a Argentina - exclamei para os meus companheiros.
     Nas etapas seguintes, acabamos perdendo o Alberi, que foi rumo ao centro da cidade. Como estávamos perto da rodoviária local, decidi ir até lá para obter informações sobre câmbio de moedas.         
        - Tranquilo! - respondeu um guarda de segurança do lugar. Todos os taxistas fazem a troca de reais por pesos argentinos.
     Com essa orientação, logo encontramos o Fernando, um taxista que além de informar a taxa do dia, ofereceu uma explicação detalhada sobre o câmbio, os custos na Argentina e outras dicas úteis.
        - O Alberi já está chegando aqui, informou o Afonso, após ter mantido contato telefônico com o santa-mariense.
Todos realizaram a troca de moeda e, em pouco tempo, o grupo estava se aproximando de um posto de gasolina para reabastecer antes da jornada rumo a Paso de Los Libres. Uma atmosfera de euforia, alegria e celebração predominava entre os viajantes, que acabaram se atrapalhando ao sair do posto. Alberi e eu seguimos pela avenida em direção à ponte internacional. Os outros tomaram o caminho oposto, o que complicou um pouco devido ao sentido obrigatório das vias. Esperamos por mais de quinze minutos pelo grupo que se havia dispersado, até que houve o reagrupamento quando então se rumou para a Aduana do Brasil para os procedimentos da travessia.
        O trâmite foi tranquilo e rápido, mas a agente aduaneira estava de mau humor e foi descortês, respondendo de forma seca e carrancuda aos radiantes viageiros.
     Sorrisos iluminavam os rostos sob os capacetes dos motociclistas. Pequenas buzinadas, cumprimentos e foi feita uma travessia com extrema tranquilidade. 
       Os quase 1500 metros da Ponte Getúlio Vargas - Agustin Pedro Justo foram percorridos.  A Argentina passaria ser o asfalto que daria continuidade à jornada dos "Viageiros Sudamerikoj".

De Brasil foi isso.
Partindo de Capão Novo, passando por Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santiago, São Francisco de Assis, Manoel Viana, Alegrete e Uruguaiana, foram totalizados 889 km de percurso. 


Quem somos:
Alberi - Moto Grupo Rapinas
Afonso - Moto Casal "Os Aliens"
Julia - Motociclista Independente 
Gilberto Cesar - Moto Grupo Com Destino
                               Arli, Gilda e Paulo - Moto Grupo Virando Rodas



Fotos:  Gilda Valdameri  
            Julia Schnaider
Texto: Gilberto   Cesar





 

Viajar   é   preciso.
                             Viajar de moto, é precioso!
                                                                                          gilberto cesar  




.


Um comentário:

  1. Simplesmente perfeito!! Emocionante ler isso e lembrar de todos os momentos vividos. Foi incrível!!

    ResponderExcluir