quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Mais Um Ano


        Bem-vindo, 2025!

        Sinta-se como se estivesse em casa, neste lugar que chamamos Terra.

        Vamos celebrar sua chegada! Pegue um copo e junte-se a nós!  

        É importante lembrar que, por aqui, todos somos viajantes nesta jornada e, um dia, partiremos. 

Diante disso, que possamos ser amigos, camaradas, companheiros, sonhadores e sinceros a cada novo dia.
        Antes de tudo, um pedido: evitemos a carga de tragédias e sofrimentos.
No fim das contas, o que buscamos é saúde, alegria, paz e oportunidades, para que os nossos dias sejam tranquilos, tal qual uma boa estrada asfaltada e, harmoniosos, tal qual uma canção ou um bom final de tarde, quando a jornada se finda.
     Seja bem-vindo, 2025! Que seus dias sejam repletos de tudo aquilo que realmente merecemos. 
Gilberto Cesar
Moto Grupo Com Destino






sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Festas, fim de ciclo e recomeço

   O que passou, comemore.  
vibre com o que virá.


                                Depois dos abraços, dos presentes e dos espumantes

                                                                                        Voltaremos a rodar.

sábado, 23 de novembro de 2024

Municípios Visitados - Outubro



                                         

          




    


     Em meio a viagem para Mendoza e Santiago, em outubro próximo passado, dois novos municípios foram visitados. Com isto, diminuo o quantitativo que me falta para concluir as 497 visitações que completam o número das cidades gaúchas. 

São Francisco de Assis e Manoel Viana

foram os visitados.






sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Giro Andino de Motos - Parte I - Brasil - Ida

Giro Andino de Motos        

               Inicialmente previsto para ocorrer em maio de 2024, o Giro Andino de Motos, que atravessaria Mendoza, na Argentina, e Santiago do Chile, foi adiado para outubro do mesmo ano devido às severas enchentes que  afetaram o Rio Grande do Sul, resultando na maior tragédia climática já registrada no estado.

Centenas de rodovias, pontes e localidades ficaram completamente destruídas, tornando impossível qualquer movimentação de veículos, exceto em situações de emergência.
    O grupo denominado "Viageiros Sudamerikoj" utilizou o WhatsApp como ferramenta de comunicação e interação entre os motociclistas, além da oportunidade onde lhes apresentei o planejamento da viagem, a proposta das rotas, as atrações turísticas a serem visitadas, a planilha de custos, da necessidade de manutenção das motos, das bagagens e a documentação necessária para a viagem. Tudo isto foi amplamente debatido, discutido, adendado e aprovado ao longo de vários meses. Esta se constituiu na primeira fase.


     Envoltos em uma mistura de euforia e ansiedade pela viagem, o grupo recebeu a notícia de que Nelsi Schnaider, parte feminina do Moto Casal "Os Aliens" de Santa Cruz do Sul, não poderia viajar devido a uma recomendação médica relacionada a dores em um dos joelhos. 
     Com o passar dos dias, outubro chegou e tudo estava preparado para o início da jornada.
Entretanto, antes de seguir diretamente para Uruguaiana, atenderiam ao convite do Moto Grupo Os Caranchos de Santiago, RS, e os "Viageiros Sudamerikoj" se juntariam, na sexta-feira, dia 11, ao Encontro de Motos organizado pelos santiaguenses. Alberi Shaf, dada a forte conexão de seu moto grupo, Rapinas, com os Caranchos, facilitou essa participação e a visita à cidade. Na verdade tratava-se do 15º aniversário deste moto grupo.

Sexta-feira 11 de Outubro: Início do Giro Andino de Motos
     De acordo com o plano, eu sairia de Capão Novo bem cedo, com destino à Ponte Estaiada na BR 448 em Porto Alegre, onde os amigos Arli Figueira, Paulo e Gilda Valdameri me esperariam. A partir daí, seguiríamos em direção a Santa Cruz do Sul, passando pelas BRs 386 e 287, onde encontraríamos Afonso e sua filha, Julia Schnaider. Nossa expectativa era chegar em Santa Maria por volta das 13 horas, onde Alberi Schaf aguardaria em um local estratégico para nosso almoço e a continuação da viagem para Santiago do Boqueirão. Este foi oficialmente o primeiro nome do município de Santiago.
    - Partiu! – foi a mensagem que enviei ao grupo assim que dei início à jornada pela Estrada do Mar.
Tudo tranquilo e conforme o planejado, exceto pela forte chuva que atingia o Litoral Norte.
    - Sem chuva aqui em Porto Alegre, respondeu o trio da capital.
    - Em Santa Cruz, tempo seco, informaram Afonso e Julia.
    - Santa Maria também sem chuvas e calor, escreveu Alberi.
   
     Ao chegar em Porto Alegre, a felicidade em reencontrar amigos que compartilharam tantas aventuras sobre duas rodas. Muitos abraços foram trocados e, em pouco tempo, agora em um grupo de quatro, seguimos viagem em direção a Santa Cruz do Sul.
Em Porto Alegre: Paulo, Gilberto Cesar, Arli e Gilda

     Na terra do tabaco e da oktoberfest, as saudações também foram direcionadas aos amigos Schnaider, acompanhadas de exclamações a respeito de três novidades:     -  A nova moto do Afonso, uma impressionante Harley- Davidson, laranja, com 1690 cilindradas. Uma verdadeira máquina.        -  A nova moto da Julia, uma belíssima NC 750, vermelha.      A própria Julia, que com pouco mais de dois anos de experiência no motociclismo, estava se preparando para sua segunda viagem a países sul-americanos, eis que fora a Assunção, a capital do Paraguai, com sua antiga Twister 250.
Em Santa Cruz do Sul:
Gilda, Arli, Gilberto Cesar, Julia Afonso e Paulo

         Já passava um pouco das 13 horas quando os seis motociclistas chegaram à cidade de Santa Maria, que apresentava uma temperatura bastante elevada e um sol escaldante. Naquela cidade universitária, se dirigiram ao Posto Botoqueiro, onde o Alberi e alguns integrantes do MG Rapinas também se encontrariam para seguir em direção ao evento de motos em Santiago. O encontro com Alberi foi bastante animado, refletindo a empolgação dos demais parceiros sobre duas, três ou seis rodas, já que os Rapinas utilizam motocicletas, triciclos e, mais recentemente, trailers e motorhomes para os deslocamentos. As conversas foram rápidas, mas cheias de entusiasmo, e logo muitos partiram. Nós aproveitamos para ingressar no restaurante e almoçar na companhia do Alberi. Em pouco mais de quarenta minutos, todos estavam prontos, as motocicletas abastecidas e o grupo "Viageiros Sudamerikoj" estava, pela primeira vez, completamente formado.

   
Em Santa Maria, na foto da Gilda,  os Viageiros e as máquinas:
             Gilberto Cesar, Yamaha 950 - Alberi, Triumph 1200 - Julia, NC 750 - 
          Afonso Harley Davidson 1690 - Paulo, Triumph 900 e Arli, Shadow 750

      Plenamente integrada ao grupo, Julia assumiu também a responsabilidade das fotos da viagem, juntando-se a Gilda, que já vinha realizando esse papel fundamental de registrar em vídeo e fotografias os deslocamentos dos nossos Giros de Motos anteriores.

        A jornada prosseguiu em direção à cidade de São Pedro do Sul, passando posteriormente por São Vicente do Sul, Jaguari e finalmente chegando a Santiago, quando os ponteiros do relógio indicavam pouco mais de 17 horas. A rodovia utilizada, a BR 287, apresentava um movimento modesto naquela tarde, cobrindo uma distância de 157 km.
     Santiago foi se revelando aos poucos, e logo se deu a entrada na terra dos poetas, alcunha esta em razão da rica tradição literária da cidade, que foi o lar de renomados poetas como Aureliano de Figueiredo Pinto, Caio Fernando Abreu, entre outros.
Chegando na cidade de Santiago no RS

         O destino foi o ginásio municipal, onde o evento já estava em andamento. Embora o número de motociclistas fosse ainda reduzido, a recepção por parte dos organizadores aos "Viageiros Sudamerikoj" foi grande, calorosa e cheia de entusiasmo. Em um ambiente bastante festivo, surgiram diversas perguntas sobre a viagem para a Argentina e o Chile, as rotas que seriam percorridas e os lugares a serem explorados.
Isto aconteceu até por volta das 19 horas, quando o grupo se dirigiu ao Hotel Glória para guardar as motos, trocar algumas peças de roupas e depois retornar ao evento. 
     Ao entrar novamente no ginásio esportivo, agora extremamente lotado, a atmosfera era de total descontração, com música ao vivo no palco e muitos motociclistas se dividindo entre conversas e visitas às feiras de produtos relacionados ao motociclismo. O pessoal do MG Rapinas de, Santa Maria, propôs um churrasco em conjunto, o que foi logo acertado. Assim, os "Viageiros Sudamerikoj" se dirigiram a um supermercado, que não era tão próximo do local do evento, e foram a pé em busca dos suprimentos.
A caminhada para o Super

      Sendo sexta-feira e já quase no fim do expediente de mais um dia, a demora no supermercado se estendeu bastante, mas ninguém se importou muito. Enquanto isso, alguns pacotes de salgadinhos e algumas latas de cerveja começaram a ser abertas, claro que com a ciência do pessoal do estabelecimento.
Foi uma grande festa de churrasco, organizada pelo Arieleso Chiquinho, que também faz parte do Moto Amigos RS, junto com vários integrantes do nosso grupo de viagem. 
Churrasco com os Rapinas de Santa Maria

Após a deliciosa refeição, quase todos se dirigiram para o interior do ginásio, onde a festa realmente começou, repleta de música, danças, risadas e momentos de confraternização. Por volta da uma da manhã de sábado, nosso grupo se retirou para o hotel, pois ainda tínhamos a viagem pela manhã rumo à cidade de Uruguaiana.

Sábado, dia 12      Logo ao amanhecer, a luz do sol penetrava as finas cortinas do quarto, enquanto os demais companheiros já começavam a se mover, mostrando sinais de despertar. A proximidade dos quartos facilitava isso. Com todos acordados, seguimos para o café da manhã, e em seguida aguardamos a chegada do Alberi, que pernoitara com os Rapinas nas proximidades do Ginásio.       Diante do hotel, um imenso desfile de motociclistas passou em procissão, prestando homenagens à Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, que faz deste dia um feriado nacional. Depois, um grupo de cavaleiros também repetiu o desfile, mas o que mais se destacou foi a beleza desse grupo; muitas mulheres e crianças montadas nos animais. Em meio a tudo isso, o calor da cidade era intenso. Por volta das 9h30, ouvimos o ronco da motocicleta do Alberi
Era hora de retomar a jornada.
Hotel Glória

    
O destino era Uruguaiana, onde o restante do sábado seria reservado para passeios e os preparativos para a travessia pela ponte internacional, com entrada na Argentina programada para domingo, por volta das 8 horas. Entretanto, antes de chegar lá, a viagem incluía visitas às cidades de São Francisco de Assis e, em seguida, Manoel Viana, que ainda não tinham sido exploradas. Vale lembrar que meu objetivo é visitar todos os 497 municípios do Rio Grande do Sul e já estou bem próximo de alcançá-lo.
     Para chegar em São Francisco de Assis, rapidamente foram percorridos os 52 km que a separam de Santiago, através da BR 377. Nesse trajeto, o que chamou a atenção foram as excelentes condições da estrada e a falta de tráfego intenso.
    Enquanto circulávamos pela cidade, uma árvore gigante, centenária, plantada bem no centro de uma rua elevada destacou-se na paisagem, tornando a cena bastante encantadora, memorável e de uma sombra exuberante.

     Na praça central, ergue-se um monumento em homenagem ao gaiteiro Neneca Gomes, considerado o inventor do Bugio, um estilo musical e de dança gaúcha, muito embora a eterna discussão de que este ritmo teria sido criado na outra São Francisco, a de Paula, na serra gaúcha. Na mesma praça, diversos bugios, animais da espécie dos macacos, foram vistos circulando no alto das avantajadas e numerosas árvores que a cercam.
Monumento ao criador do ritmo musical gaúcho
denominado Bugio
         Mais tarde, por volta das 11 horas, foi a vez de Manoel Viana. A cidade enfrentava um calor intenso e a movimentação na rua principal era escassa. 
Área Central

Estação Rodoviária de Manoel Viana

      A Ponte General Osório, que atravessa o Rio Ibicuí, construída em 1945, destaca-se como o principal ponto turístico da cidade.

Antigo caminho dos trens da VFRGS, estatal gaúcha 
criada em1920, encampada na década de 60 pela RFFSA

       Manoel Viana se afastou dos retrovisores das seis motocicletas que seguiam, conforme combinado, em direção ao Alegrete, com uma parada prolongada para o almoço. A estrada continuava a ser a BR 377, com suas longas retas e os amplos campos verdejantes, criando um cenário impressionante. Não havia nada ao redor e muito menos à vista. O barulho dos motores e a leve brisa, que aumentava de intensidade com o movimento, eram os sons predominantes sobre o asfalto, que, sem dúvida, estava bastante quente com o forte sol que se fazia presente.       Após percorrer 45 km, a cidade de Alegrete tornou-se claramente visível, e o grupo começou a procurar um restaurante ao longo da estrada. 
No primeiro que avistaram, a entrada dos viajantes foi rápida, assim como a saída do local. Neste, o custo da refeição foi considerado excessivo, algo que ficou evidente por quase unanimidade, já que aqueles que ainda não haviam entrado também optaram por deixar o estabelecimento.
Em um segundo restaurante, localizado a mais de 2 km, e com um posto de combustível bem perto, o grupo pôde se deliciar com um buffet bastante diversificado. Segundo informações, o preço foi praticamente a metade do que pagaram anteriormente. 
    "Nada acontece por acaso", disse Arli, repetindo com um sorriso a frase que considero um guia em nossas vidas.
      Após um almoço satisfatório, os veículos foram reabastecidos, algumas pessoas se alongaram e a viagem reiniciou para os últimos 140 km até Uruguaiana.
         Chegamos à minha cidade natal por volta das 15 horas, sob um calor intenso. A rodovia BR 290 não ajudou em nada a manter uma velocidade adequada. O trecho era marcado por remendos mal feitos, buracos e falta de asfalto.  Alberi, que também conhece a cidade, estava na frente e seguiu pela Avenida Presidente Vargas. O destino era a Praça Central, onde faríamos a troca de moedas antes de seguir para o Hotel Roma, escolhido como local para passar a noite.
Entretanto, como já havia sido alertado anteriormente ao grupo, teríamos certa dificuldade em localizar casas de câmbio abertas por ser um dia de feriado. Para piorar a situação, surgiu uma nova complicação no cenário dos "Viageiros Sudamerikoj": a ponte internacional estaria fechada das 7 às 9 horas da manhã do domingo devido a uma maratona internacional que ocorreria entre Uruguaiana e Paso de Los Libres.
     - Complicou tudo! Precisamos atravessar ainda hoje para a Argentina - exclamei para os meus companheiros.
     Nas etapas seguintes, acabamos perdendo o Alberi, que foi rumo ao centro da cidade. Como estávamos perto da rodoviária local, decidi ir até lá para obter informações sobre câmbio de moedas.         
        - Tranquilo! - respondeu um guarda de segurança do lugar. Todos os taxistas fazem a troca de reais por pesos argentinos.
     Com essa orientação, logo encontramos o Fernando, um taxista que além de informar a taxa do dia, ofereceu uma explicação detalhada sobre o câmbio, os custos na Argentina e outras dicas úteis.
        - O Alberi já está chegando aqui, informou o Afonso, após ter mantido contato telefônico com o santa-mariense.
Todos realizaram a troca de moeda e, em pouco tempo, o grupo estava se aproximando de um posto de gasolina para reabastecer antes da jornada rumo a Paso de Los Libres. Uma atmosfera de euforia, alegria e celebração predominava entre os viajantes, que acabaram se atrapalhando ao sair do posto. Alberi e eu seguimos pela avenida em direção à ponte internacional. Os outros tomaram o caminho oposto, o que complicou um pouco devido ao sentido obrigatório das vias. Esperamos por mais de quinze minutos pelo grupo que se havia dispersado, até que houve o reagrupamento quando então se rumou para a Aduana do Brasil para os procedimentos da travessia.
        O trâmite foi tranquilo e rápido, mas a agente aduaneira estava de mau humor e foi descortês, respondendo de forma seca e carrancuda aos radiantes viageiros.
     Sorrisos iluminavam os rostos sob os capacetes dos motociclistas. Pequenas buzinadas, cumprimentos e foi feita uma travessia com extrema tranquilidade. 
       Os quase 1500 metros da Ponte Getúlio Vargas - Agustin Pedro Justo foram percorridos.  A Argentina passaria ser o asfalto que daria continuidade à jornada dos "Viageiros Sudamerikoj".

De Brasil foi isso.
Partindo de Capão Novo, passando por Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santiago, São Francisco de Assis, Manoel Viana, Alegrete e Uruguaiana, foram totalizados 889 km de percurso. 


Quem somos:
Alberi - Moto Grupo Rapinas
Afonso - Moto Casal "Os Aliens"
Julia - Motociclista Independente 
Gilberto Cesar - Moto Grupo Com Destino
                               Arli, Gilda e Paulo - Moto Grupo Virando Rodas



Fotos:  Gilda Valdameri  
            Julia Schnaider
Texto: Gilberto   Cesar





 

Viajar   é   preciso.
                             Viajar de moto, é precioso!
                                                                                          gilberto cesar  




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Giro Andino de Motos - Parte II - Argentina - Ida

Mendoza e Aconcágua na Rota dos Viageiros 


Tendo cruzado a Ponte Internacional 

Getúlio Vargas - Agustin Pedro Justo

os "Viajeiros Sudamerikoj" pisaram em solo Argentino.

     O trâmite aduaneiro também foi bastante ágil e em pouco tempo o grupo se dirigiu ao centro de Paso de Los Libres em busca de um hotel. Outros motociclistas brasileiros, em suas dez motocicletas, também realizaram os mesmos procedimentos e seguiam para a área central.

     Em um prédio alto, avistou-se a placa "Hotel" e nos dirigimos até lá, encontrando um edifício de seis andares com um amplo estacionamento na frente, onde outros motociclistas estavam estacionando suas motos. Ali, iniciaram uma boa conversa e descobriu-se que pertenciam a dois grupos diferentes, sendo que um deles seguiria rotas semelhantes às suas, incluindo Mendoza e Santiago do Chile.
    Afonso e eu fomos para a recepção saber dos preços da hospedagem, o que de plano se mostrou de bom tamanho. Do outro lado, na recepção, um simpático jovem, recentemente contratado, diz-se feliz por estar exercitando o seu português com os brasileiros, e que motociclistas eram muito bem-vindos. 
Uma pequena reunião foi feita com os demais viageiros e logo tratou-se dos registros de ingresso.
Hotel Alejandro Primero
      Após se instalarem em quartos de alta qualidade, as motos foram guardadas no estacionamento coberto. Em seguida, trocaram de roupas e saíram para explorar a cidade, culminando em um jantar, na bela noite. Antes porém, na praça central, bastante movimentada em função de uma feira artesanal, Julia, Gilda e eu aproveitamos para visitar todas as bancas da feira, sendo que os produtos ofertados eram direcionados para o dia das mães, que estaria sendo comemorado naquele domingo próximo.
Noite em Paso de Los Libres
       O domingo, 13, amanheceu magnífico, com a luz do sol prometendo um dia perfeito para a viagem. Pela janela do quarto, avistava-se a cidade de Uruguaiana, a Ponte Internacional e parte da cidade de Libres
Era hora do café da manhã.
Vista parcial de Libres, a Ponte e Uruguaiana ao fundo
      Durante o café da manhã, o grupo conversou sobre alguns pequenos ajustes e melhorias, já que a partir daquele momento a viagem seria realizada em um país estrangeiro, implicando regras e procedimentos que poderiam ser diferentes.
No que diz respeito à estrada, ficou acertado que as duas motocicletas equipadas com GPS: Afonso e Alberi se alternariam como líderes. A última moto do grupo, retaguarda, seria a do Paulo, enquanto a Julia, eu e o Arli nos posicionaríamos no meio da formação.
Antes de partirmos, ainda na frente do hotel, as motocicletas foram cuidadosamente lubrificadas, garantindo que estivessem prontas para a jornada. 
Lubrificação das correntes

Manhã de Domingo - Euforia na partida

   Em seguida, iniciamos nosso percurso rumo à estrada, com a intenção de fazer uma parada para reabastecimento e, pouco depois, um almoço na cidade de Federal, que fica a 278 km de distância, já na Província de Entre Rios. Enquanto isso, Paso de Los Libres pertence à província de Corrientes.
     A primeira parada para reabastecimento foi em San Jayme de La Fronteira, onde fizemos uma breve pausa antes de retomar nossa viagem. Durante esse tempo, Alberi fez uma observação interessante, que foi confirmada por Paulo, sobre as ótimas condições das Rodovias 14 e 27 que estávamos utilizando, o que nos permitiu manter uma velocidade superior a 110 km/h.

Parada para reabastecimento e descanso

    Assim que reiniciamos a viagem na Ruta 27, os GPS's indicaram uma posição diferente daquela prevista por mim ao elaborar as planilhas de viagem. Em diálogo com Afonso, nosso líder naquele momento, e após confirmação feita por Alberi — que perguntou a algumas pessoas em uma tenda à beira da estrada — ficou claro que obras na rodovia estavam causando confusão nos aparelhos sobre qual rota seguir.

Conversação para ajuste da Rota - GPS se perdeu

Perguntas foram sendo efetuadas

     Um pouco depois das 12 horas, fizemos uma pausa para o almoço um pouco antes da cidade de Federal. A refeição ocorreu em uma lanchonete à beira da estrada, próximo a um posto de combustíveis, onde compartilhamos duas pizzas grandes entre o grupo. No do local, havia apenas mais dois clientes, mas pelo entusiasmo e alegria do grupo, a pizzaria parecia estar cheia. A atendente, que no começo foi um pouco ríspida, rapidamente se soltou e até perguntou sobre a viagem dos brasileiros.
Pizzas no almoço dos viageiros
      Do lado de fora, o sol brilhava intensamente quando a jornada recomeçou. A rodovia estava em excelentes condições e o vento gerado pela velocidade ajudava bastante a amenizar a sensação de calor.
No meio da tarde, uma nova pausa para descanso e abastecimento estava programada para ocorrer em El Pingo. No entanto, antes de chegar à cidade propriamente dita, o grupo entrou em uma localidade bem próxima. Era apenas uma rua de terra batida, com uma praça quase deserta e algumas casas ao redor.
Indagado, um cidadão que estava sentado na frente da casa junto com uma mulher e uma criança,  respondeu:
     - Aqui não tem posto de gasolina. Mais adiante, na cidade é que tem.
Alguns já tinham descido das motocicletas, provavelmente para esticar as pernas, quando esse mesmo cidadão fez uma pergunta:
     - As crianças podem tirar fotos com as motos?
Certamente, responderam rapidamente Gilda, Arli e Julia. Nesse momento, um menino foi avisar um amiguinho que estava próximo e rapidamente chegaram quatro ou cinco crianças. Dois deles foram mais ousados e logo subiram na moto do Arli e em uma outra. Apesar de terem sido avisados, um deles acabou encostando a perna no cano quente da moto do Arli, mas foi algo rápido e sem deixar marcas.
Logo apareceram os pais, uma outra senhora e todos posaram para fotos ao lado das motocicletas. Foi um momento incrível, olhar aqueles sorrisos, os olhos arregalados e a alegria de poderem subir em algumas das motos.












         Foi necessário manobrar as motos lentamente e com cuidado na rua estreita, até que o vilarejo ficou para trás e em pouco tempo se chegou à área central de El Pingo para reabastecimento, lanche e descanso.




    Em El Pingo, um mercadinho que também funcionava como lancheria, havia uma variedade de lanches, pães, bolachinhas, gêneros alimentícios e souvenirs. Ali efetuamos o lanche, olhando e bisbilhotando tudo. Pelas tantas, indiquei para a Julia uma pequena placa de imitação de veículo, tipo chaveiro,  com a inscrição:
República Argentina 
 Julia

               O acessório seguia o padrão das cores das placas dos veículos do Mercosul e, para a felicidade da jovem motociclista, o nome Julia não possuía acento na letra "u". "Exatamente como o meu", comentou Julia, que rapidamente decidiu adquirir aquele último exemplar disponível. Dessa forma, ela se tornou a primeira do grupo a comprar um souvenir.

Parada para lanche, descanso e reabastecimento
      Ao realizar uma rápida verificação nas motocicletas, percebi que a minha apresentava marcas de um líquido no lado esquerdo.      - "Parece ser fluido de freio", comentou Paulo.      - "É melhor verificar isso com mais cuidado", sugeriu Alberi. Imediatamente, enviei uma foto para o responsável pela oficina da Yamavale Motos, em Imbé, RS.  
João logo respondeu, informando que se tratava de líquido de suspensão, possivelmente devido a uma falha no retentor. "Talvez a moto fique um pouco mais rígida, mas não há maiores preocupações", acrescentou o profissional. 
Vale lembrar que antes de iniciarmos a viagem, a moto passou por uma revisão minuciosa de acordo com os requisitos do manual para a quilometragem de 50 mil km.


Então, tudo estava em ordem.
E seguiu-se em frente, admirando as lindas paisagens argentinas, enquanto o fim da tarde se aproximava e a cidade de Paraná se tornava visível, após percorrer 429 km. Devido à proximidade, a escolha para pernoitar poderia ser Paraná ou Santa Fé.
        Afonso, que se voluntariara para encontrar as acomodações desde o início da viagem, localizou uma espaçosa residência em Paraná por meio de um aplicativo. Fez os contatos necessários e, com tudo combinado e ajustado, o grupo dirigiu-se ao endereço indicado, seguindo, é claro, o parceiro. A hospedagem era excelente: dois andares, quatro quartos, três banheiros, piscina, uma ampla churrasqueira, garagem enorme e uma boa localização.

Chegando na cidade de Paraná

     Assim que chegamos, as motocicletas foram para a garagem, houve troca de roupas e o grupo saiu a pé em direção a um supermercado para comprar os ingredientes para preparar um churrasco.
     Sete quarteirões foram percorridos, as compras foram realizadas e, devido não disponibilidade de sacolas plásticas para os clientes, os itens tiveram que ser transportados nas mãos. No entanto, isso não diminuiu o bom humor e o clima festivo dos "viageiros sudamerikoj".
Caminhada até o supermercado
      Alberi e Paulo se dispuseram a preparar o churrasco, que contou com chimarrão, levado pelo Arli. Muitas conversas aconteceram sobre a viagem até aquele momento, múltiplas histórias e risadas, além da saborosa carne argentina, tudo acompanhado pelas excelentes cervejas dos hermanos.
Alberi e Paulo, os churrasqueiros da noitada 
    A guardando a churrascada, na cidade de Paraná
     A
noite foi fantástica, uma verdadeira celebração que se estendeu além do horário habitual. Ao final do churrasco, o plano era descansar, com a combinação de retomar as atividades no dia seguinte um pouco mais tarde do que o normal. 
Um pouco antes, efetuei a entrega do Livro Roda Brasil para o Afonso, eis que este, assim como outros tantos motociclistas amigos, efetuara a compra antecipada do compêndio que narra a viagem feita pelas capitais do Brasil por mim e pelo Arli, no ano de 2016.
Segunda-feira 14       
     O novo dia chegou, trazendo muito vento e chuva, e o silêncio da noite foi interrompido apenas pelos sons da tempestade. Alberi até precisou ajustar sua motocicleta, que havia deixado fora da área coberta da garagem.
O despertar ocorreu por volta das 8 horas, com a chuva ainda persistindo, mas sem vento. O café da manhã foi servido na ampla sala da casa, com suprimentos comprados no dia anterior.
Café da Manhã

        Gradualmente, o grupo vestiu suas roupas impermeáveis e se preparou para pegar a estrada. Fez-se uma linda passagem pela região central da cidade de Paraná, onde foi notável a abundância de grandes árvores ao longo das amplas avenidas. Mais adiante, descendo em direção à rodovia, o Rio Paraná apareceu de forma impressionante, proporcionando um cenário deslumbrante para o início da viagem.
Encarar a chuva no recomeço da jornada.
Logo à frente, avistou-se o túnel que separa as províncias de Entre Rios e Santa Fé. Em outras palavras, os territórios das respectivas províncias são interligados por um túnel submerso, uma imponente obra de engenharia com 2.400 metros de extensão. 




Antes de ingressar, é necessário pagar um pedágio, o que garante manutenção 
contínua do túnel.

                                                                                                                                                         Arodar no interior do túnel, impressão é de que a outra extremidade nunca se revelará e, a sensação de estar rodando sob o imenso rio, é extremamente emocionante.                                              Com revestimento branco com tons azuis, muitas luzes   equipamentos de ventilação, túnel não apenas impressiona,  mas também é muito agradável visualmente.
       Foram ouvidas várias buzinadas festivas de nossas motocicletas, 
como alguns punhos erguidos para alto.
Uma bela festa dos viageiros.

Chegando em Santa Fé             
     Achegar em Santa , cidade de grande porte, localizada a 35 km do túnel, grupo se deparou com um trânsito bastante intenso.
Afonso Alberique lideravam o deslocamento, efetuavam um grande esforço para manter a coesão dos motociclistas, evitando que alguém perdesse o tempo de uma sinaleira e, consequentemente ficasse desunido.
No entanto, isso não impediu oportunidade de admirar os diversos prédios históricos em Santa .
Um dos vários prédios históricos

       Ao longo de uma das grandes avenidas, aconteceu nova parada para perguntas a respeito de onde encontrar uma casa de câmbio. Duas artesãs que se dirigiam para uma praça, quase em frente, onde estava acontecendo uma feira regional de artesanato, forneceram as devidas explicações. Apesar do encantamento delas com as motos e com os motociclistas, somado ao forte barulho no entorno, deu para compreender o que haviam falado.
Ajustando o GPS, após a informação recebida pelas artesãs
    Foram várias idas e vindas até se chegar ao calçadão da cidade, local de intenso comércio e grande fluxo de pessoas. O grupo estacionou as motocicletas a dois quarteirões e, metade dos viageiros se dirigiu à casa de câmbio sugerida, enquanto o restante permaneceu à espera para garantir a segurança dos veículos e das bagagens.
        Na casa de câmbio, o tempo de espera ultrapassou largamente o habitual. O funcionário, em sala reservada, falava demais; se retirava, voltava, falava da cotação e por fim trazia o dinheiro argentino. Surpreendeu o volume de notas recebido pelo primeiro dos três viageiros que efetuou o câmbio, no caso o Alberi. Era imenso o maço de dinheiro, ao que justificou o rapaz dizendo que a Casa estava desprovida de notas com valor nominal alto, daí todo aquele volume.  Depois, uma máquina efetuava a contagem das notas e havia a guarda do volume todo. 
Este procedimento se repetiu depois comigo e na sequência com o Arli.   Pouco depois, soube-se que o mesmo processo acontecera com o Afonso, o Paulo e a Julia.
Quando estavam todos preparados para reinício da jornada, a minha moto não ligou. Eu havia deixado a chave de ignição acionada e consequentemente o farol da motocicleta, também.
     Afonso Paulo empurraram a moto nada aconteceu. Ingressamos em um estacionamento, quando então me socorri do "auxiliar de partida", dispositivo que adquiri para esta viagem e que é útil em casos de emergência.
Foi só ligá-lo aos terminais da bateria e tudo certo. Em questão de segundos, tudo estava resolvido. 
Deste ponto, seguiu-se para o reabastecimento e lanche o que se deu em posto também na área central da cidade. O atraso era  considerável, porém justificável, eis que havia a necessidade da troca de moedas e a magnitude e beleza da cidade ensejara um giro lento.

Lanche do meio dia em Santa Fé
         Com os bolsos forrados de pesos argentinos e bem descansados, os viajantes pegaram de volta a estrada, determinados a avançar o máximo possível, fazendo apenas as paradas essenciais, com o objetivo de chegar a Dalmácio Velez Sarsfield ao meio da tarde para uma pausa e reabastecimento. Para isso, aproveitando a excelente condição da estrada, que permitia uma velocidade máxima de 120 km/h, o grupo acelerou, deixando para trás vários vilarejos e cidades, que foram, algumas,  capturadas em fotografias pela Gilda Valdameri
Entre alguns dos locais registrados estavam: Monte Redondo, Las Varillas, Pozo Del Molle e Vila Maria, até que chegaram ao destino planejado. A rodovia percorrida era a Ruta Nacional 158, já dentro da província de Córdoba.

          Chegou-se a Dalmácio Velez Sarsfield já passava das 17 horas e o grupo, ao parar próximo à entrada da cidade, demonstrava um certo cansaço. Na conversa inicial, ficou decidido que a pernoite seria nesta cidade, em vez de Santa Catalina, como estava inicialmente previsto.
         Assim, começou a procura por um hotel para descansar e recuperar as energias. Foram quatro tentativas e todos os lugares estavam lotados. Descobriu-se que uma empresa de construção de estradas na região, havia trazido muitos trabalhadores o que ocupou todas as acomodações.
Diante dessa situação, a cidade de General Deheza, que ficava alguns quilômetros à frente, foi escolhida para passar a noite. 
General Deheza, local do pernoite
    
Encontrar um lugar para ficar também não foi uma tarefa simples. Na primeira tentativa, não havia vagas e, além disso, o custo seria altíssimo, foi o que falou um argentino, que com sua família havia saído a pouco da recepção. Mas tem outros hotéis aí, sentenciou esta mesma pessoa.
Na segunda tentativa, nem mesmo as portas foram abertas; alguém se manifestou por uma portinhola de forma seca, informando que não havia vagas disponíveis.
     Diante deste estabelecimento, os motociclistas se sentaram na calçada, parecendo se perguntar o que fazer em seguida. Foi então que um senhor, com algumas dificuldades para andar e apoiado pelo filho, cumprimentou o grupo. Ele comentou que vinha de uma caminhada na praça próxima e que morava ali perto, ao lado do hotel. Então perguntou: "E vocês?"
     Ao ouvir sobre a situação e o cansaço dos viajantes, ele disse:         - "Vamos em frente." E continuou: "Daqui a duas quadras há outro hotel. Eu converso com a proprietária."
Assim, parte do grupo seguiu com o senhor e seu filho em um ritmo tranquilo, enquanto compartilhavam histórias sobre a viagem dos motociclistas e a vida na cidade. Ao chegarem no hotel, ele entrou para conversar com a proprietária e pediu que esperassem. Infelizmente, voltou sem boas notícias, um pouco desanimado: não havia vagas.
Apesar das dificuldades, ele não se deixou abater e voltou à portaria, pedindo à proprietária do local que fizesse uma chamada telefônica para outro hotel. "Los Naranjos!", exclamou ele. Do outro lado da linha, alguém respondeu: "Podem vir os motoqueiros... temos vagas disponíveis".
     Esta notícia maravilhosa trouxe um verdadeiro alívio e alegria aos viageiros. Durante o trajeto de volta, ao lado do grupo que aguardava, a felicidade no rosto do senhor que se apresentou como Antônio era evidente; seu coração certamente transbordava de contentamento por ter feito algo tão positivo naquela noite abafadíssima  em General Deheza.
Ele e seu filho, que permaneceu em silêncio durante todo o tempo, receberam muitos agradecimentos e também foram presenteados com adesivos comemorativos da viagem como forma de gratidão. 
     - Gente! ... Este homem é um anjo que Deus nos enviou- disse rapidamente a Julia, referindo-se ao senhor que nos ajudara a pouco.
     - Nossa Senhora, está sempre conosco. Eu peço todo o dia prá Ela, ...  foi o que disse a Gilda.


               Já passava das vinte e três horas quando as motocicletas chegaram ao hotel Los Naranjos
        Na recepção, uma jovem mulher, acolhedora e amistosa, cuidou rapidamente da documentação dos viajantes para os registros. Ao ser questionada sobre opções para comer, foi direta: - "Nossa cozinha já fechou. Só teremos pizzas disponíveis por tele-entrega, e a pizzaria fecha em vinte minutos. Decidam-se rápido." 
     A escolha foi por duas pizzas grandes. Enquanto ela fazia o pedido por telefone, a discussão sobre os sabores se estendeu um pouco, especialmente em relação a existência ou não de tomates .... , sem queijo ...  e, ainda se teve muitos "com isso" e "sem  aquilo"
Naquela hora da noite, o cansaço dificultava a comunicação em português e espanhol. Contudo, tudo se resolveu e o pedido foi realizado com sucesso.       Enquanto isso, as motos foram estacionadas na garagem e seus pilotos encaminharam-se para os quartos onde se demoraram. 
Motos guardadas com cuidado. Solo com terra fofa demais
      Restou a mim e ao Alberi receber as pizzas, tudo as  pressas, pois que o entregador já havia encerrado seu expediente e por tal não apresentava um bom humor.
Os demais foram chegando lentamente para aquele que foi considerado "o jantar" dada a fome, com o acompanhamento de cervejas "calientes" eis que o pessoal da recepção, gentilmente, havia colocado a pouco algumas latas no freezer.
     Se encerrou assim aquele que fora um dia exaustivo, porém quando da refeição, Afonso tratou de dar os parabéns a todo o grupo, com muita ênfase, principalmente no tangente a velocidade empreendida. Disse ele: - "o grupo se superou em muito". Parabéns para todos nós. No total, rodamos 500 km desde Santa Fé, o que foi bom demais e a média de velocidade foi altíssima, ... um pouco acima do permitido na rodovia.
Se recolheram, todos os viageiros para os seus respectivos quartos.
 
Dia Seguinte: 15 de outubro Estávamos prestes a alcançar um dos pontos altos da nossa viagem: Mendoza!       Comecei o dia, como vinha fazendo desde o início da jornada, enviando a programação para o grupo no WhatsApp, reafirmando os trajetos estabelecidos, com uma nota especial: Mendoza está bem ali! Despertos, nos encontramos na sala de refeições para o café da manhã. Todos estavam revigorados, e a empolgação de chegarmos a Mendoza ainda naquele dia, se manifestava em diversos comentários animados.      Um pouco depois, todos prontos e as motos foram deixando o estacionamento. O ronco dos motores era alto e a jornada recomeçou.       O amanhecer trouxe um leve frio, com algumas nuvens mais carregadas sobre os capacetes dos viajantes. O grupo seguiu pela Ruta 158 e na altura da cidade de General Cabrera, 10 km, uma névoa muito densa fez a recepção aos viageiros. As viseiras e as roupas logo receberam pingos d'água. 
Névoa em General Cabrera
     A possiblidade de mais frio ou chuvas, ensejou pelo menos a necessidade da colocação da calça apropriada contra chuvas, até porque uma placa adiante indicava um desvio, por motivo de obras, e o terreno a ser logrado era em chão batido, possivelmente com alguma lama.
   A névoa se tornou mais densa, a lama estava ali, havia poças de água, a velocidade era extremamente baixa e os cuidados precisavam ser redobrados, assim foi por mais de 8 km. Após completar esse trecho, a rodovia melhorou significativamente, permitindo que o grupo aumentasse consideravelmente a velocidade. 
Trecho em obras. Cuidados no pilotar

      Logo após, passou-se pela cidade de Rio Quatro, onde tomou-se a Ruta 36 e, em seguida, a Ruta 8, seguindo em direção a Santa Catalina, que era o destino planejado para o pernoite anterior. 
Em Santa Catalina, houve o reabastecimento, lanche e descanso, com comentários sobre as dificuldades com a lama enfrentadas anteriormente. No total, foram percorridos pouco mais de 90 km. 
    Com a jornada reiniciada, o tempo se estabilizou e os próximos 120 km foram feitos com tranquilidade. Chegou-se à divisão territorial de províncias, deixando para trás a de Córdova e ingressando na Província de São Luís.    
Província de São Luís
    Durante a viagem, o cenário era composto por vastas áreas abertas e quase nada nas proximidades. Em um momento de parada técnica na estrada, ficou decidido que, assim que fosse possível, faríamos uma pausa para o almoço. Esse momento chegou um pouco adiante, na localidade de Vila Mercedes, onde encontramos o restaurante "Mis Nietos", situado à beira da estrada, próximo a um posto de combustíveis. Primeiro, fizemos o reabastecimento dos veículos. Depois, entramos no restaurante, que era bastante simples, estreito, mas longo, e, naquele instante estava vazio de clientes.
      Ao perguntarmos ao atendente, um jovem da própria família, ele informou que o prato mais rápido era hamburguesas
      Então, decidimos que todos pediriam hamburguesas.
Afonso, que sempre se antecipava frente aos locais para os pernoites, fez comentários de que em Mendoza encontrara um apartamento de tamanho avantajado, ao que logo os demais falaram:  ... é este ai mesmo ... pode reservar. Com isso, em Mendoza já estava garantido o pernoite.

Restaurante em Vila Mercedes


Hamburguesas para todos

  A comida estava excelente, a descontração ainda melhor porém, a hora já passara bastante. Diante disso, falei a todos: é o momento de partir. Preparemos capacetes; luvas e vamos para a estrada!
                palavra capacete foi repetida!              Foi o  suficiente para muitos  repetirem: capacete! Está chegando  hora....... Entre gargalhadas abraços, grupo pegou o caminho de Mendoza.
Deixando Vila Mercedes rumo a Mendoza

       Neste novo deslocamento, os descampados se ampliaram ainda mais, a movimentação de veículos na Ruta Nacional 7 era baixíssima o que possibilitou aceleração das máquinas. 
        A frente dos viageiros, seguia o Alberi, e ocasionalmente o Afonso. No meio, a Juliaeu e o Arli, com o bom guardião, o Paulo e na garupa a Gilda Valdameri, a nossa fotógrafa exclusiva dos registros quando em movimento.
        Era final da tarde quando o grupo cruzou o Portal da Cidade de Mendoza. Acenos, buzinadas e a felicidade estampada por se ter alcançado um dos principais objetivos da jornada.

    Mendoza, o paraíso do sol e do vinho estava ao nosso alcance!
Controle Policial em Mendoza
  
A grande cidade começou a receber os "viageiros sudamerikoj" quando o Arli não conseguiu desviar de uma falha no asfalto, fazendo a motocicleta oscilar. Em seguida, ao imitá-lo, a roda dianteira da minha moto também encontrou o desnível, resultando em danos ao protetor de cárter, que produziu um barulho inquietante. Seguíamos o Afonso, que nos guiava até o apartamento reservado ainda lá em Vila Mercedes
O grupo parou quando Afonso sinalizou, percebendo que não estávamos no endereço correto, apesar de já estarmos na localização esperada. Ao nos depararmos com uma barbearia, um jovem chamado Nícolas nos abordou e ofereceu ajuda. Afonso confirmou que precisávamos de acesso à internet e da confirmação do endereço. Nícolas prontamente forneceu o sinal de internet e começou a interagir, desaconselhando a locação.
    - Lugar no es bueno, mejor está en el centro de la ciudad; foi o que disse o rapaz.
Afonso ingressou no recinto da barbearia enquanto alguns foram até um pequeno hotel ali perto, porém sem sucesso.
    Enquanto se processava a busca por hospedagem, chamei o Paulo e o cientifiquei de que da moto do Arli estava se desprendendo pingos de óleo. Paulo foi verificar de perto e imediatamente falou: tomara que não seja do cardã.
Um pouco depois, agora com o Arli envolvido, ficou constatado ser óleo do amortecedor traseiro, lado esquerdo. Foi um grande alivio para todos.
            - Foi aquele buraco lá entrada da cidade, falou o Arli
A noite chegou de vez, e esgotada as buscas, o local escolhido e avalizado pelo Nícolas, foi o Hotel Milennium, na área central da cidade.
        Foi muito especial essa estada na barbearia. Muita camaradagem, tanto do proprietário quanto dos dois clientes, interagiram, tiraram fotografias com o grupo e receberam os adesivos da viagem e dos segmentos ali representados.
Pegando o sinal de internet


Nícolas, o rapaz da Barbearia
 Nícolas mais os dois clientes. Na Selfie feita pelo cliente




 Tudo muito tranquilo, bóra para o centro da cidade. 
      - Nada é por acaso, falou a Julia quando todos já se encontravam montados nas motocicletas, quando alguém ainda disse: capacete!                 Definitivamente este passara a ser o novo jargão para as partidas.


Hotel Milenniun
        Enorme, muito iluminado, a duas quadras da praça central e rodeado por bares e restaurantes e em avenida de alto fluxo. Este é o hotel Milennium, onde o atendimento foi rápido, cortes e preciso. Em poucos minutos, as motocicletas já se encontravam guardadas na garagem em frente ao prédio, e os viageiros ficaram instalados no mesmo ambiente, uma espécie de apartamento com 4 quartos e um sofá cama na ampla sala.
    Banhados e tudo mais, o grupo, a exceção do Alberi, rumou para uma Parrilla, com indicação recebida de uma pessoa que interagira com os viageiros.
Devidamente assentados, e com atendimento prá lá de especial, o grupo fez os devidos pedidos, após receber notícia de que o Alberi não compareceria, isto segundo nota recebida. O chope estava ótimo e quando chegou, a parrillada surpreendeu pela fartura, preparo e delícia.
Para se ter ideia, os viageiros foram os últimos clientes a deixar o ambiente.
Gilda, Julia, Gilberto Cesar, Arli, Afonso e Paulo

    Saciados e satisfeitos, quando do retorno, aconteceu parada na Praça da Independência para fotos junto aos letreiros luminosos alusivos a Mendoza com posterior caminhada lenta de regresso ao Milennium.






O dia seguinte
Saída para os passeios em Mendoza
                    A quarta feira, reservada para os passeios em Mendoza amanheceu bastante abafada e os trajes requeridos foram camisetas , bermudas e os coletes.
Em caminhada, em poucos minutos o grupo retornou a praça principal, Plaza de La Independência, podendo agora visualizar tudo com bastante nitidez, dada a luz solar. No centro de turismo, os jovens atendentes, felizes, puderam exercitar o "português. Fizeram perguntas a respeito da viagem e disponibilizaram dois mapas da cidade e os roteiros turísticos.
    Chafariz e as águas dançantes, as alamedas, calçadões, mercado central, galerias, feiras e um museu, estiveram na rota dos viageiros.
Notadamente, a quantidade de árvores de porte gigante constituem um cenário prá lá de especial e riquíssimo na cidade. Por consequência, o ar é agradavelmente respirável.
Praça da Independência




Mercado Central

Uma das Alamedas



Outra Alameda

Área Central
    
        Chama a atenção a profundidade e a quantidade de canaletas por ondem escorrem as águas das chuvas e principalmente as águas dos degelos. A cidade é muito limpa e o comércio é pujante. Há feiras de artesanato por vários cantos, o que sem dúvidas nos permitiu de imediato a compra de recuerdos da cidade. Julia, neste sentido, se revelou uma grande parceira, eis que olha tudo, ingressa em lojas, procura produtos, efetua compras e tudo mais.
        A caminhada foi longa, incluindo uma visita ao museu da cidade, localizado em prédio histórico e com bom fluxo de frequentadores.
Repleto de galerias, a área central proporciona diversas visitações e a cada visita, um presente, um pacote, uma lembrança passavam a acompanhar vários dos viageiros.
A riqueza arquitetônica de uma das Galerias em Mendoza

    Neste intermeio, disse a Julia: - "tenho notado, desde há dias, que o grupo, os nossos coletes, com estas bandeirolas e quase todos trajando a cor preta, tem chamado a atenção de muita gente.
        -"Também tenho notado isso", complementou a Gilda.

            Mas foi no Mercado Central que aconteceu a almoço dos viageiros, com prato da boa carne argentina.
Gilberto Cesar, Julia, Arli, Gilda, Paulo, Afonso e Alberi
Após a longa e caminhada da manhã, o grupo decidiu fazer uma pausa após o meio-dia. Nesse momento, o Afonso, o Arli e eu aproveitamos para comparecer uma concessionária Honda, onde verificaríamos a moto do Arli e solda no protetor do cárter da minha motocicleta.
 Feita a checagem no problema, busca no estoque, bem como em outras lojas do entorno, disse o consultor da impossibilidade de substituição do amortecedor. nem da aquisição  de novos componentes por conta das medidas. A única opção viável era um exemplar que ficaria com um centímetro mais longo.        - "Mas dá para rodar tranquilo assim mesmo" , afirmou o consultor da loja. Você não está levando carona, então não há problema. O que pode acontecer é que a moto fique mais rígida em terreno irregular. Em Santiago, com certeza, vocês vão encontrar isso.           Quanto à minha motocicleta, a solda foi refeita e, enquanto isso ocorria, o Arli nos informou, que preferiria não prosseguir com o passeio e optar por chamar o seguro para rebocar sua moto. 
             - Não vou correr riscos, justificou o parceiro.
Como as vontades individuais devem ser respeitadas, nos restou auxiliar o amigo naqueles primeiros contatos com o corretor em Porto Alegre, o Jorge Luis Oliveira Stravalacci que garantiu que até a noite, estaria tudo acertado.
Voltou-se para o hotel, e esta informação foi repassada aos demais, quando novos contatos foram feitos com Porto Alegre visando a garantia do translado.
       Alberi, frente a esta situação, efetuou comentários e preocupação uma vez que deveria estar atuando como mesário no pleito eleitoral do dia 27 próximo, em Santa Maria, e que o final desta viagem estaria acontecendo no sábado, 26. 
Qualquer imprevisto me complica. Estou  pensando em fazer a Rota dos Caracoles, e começar o meu retorno falou o parceiro. 
... Mas vamos indo, ... complementou. 

            Era meia tarde quando os passeios foram recomeçados.
        Vários outros pontos foram visitados, tais como o Paseo Patronal Sarmento, onde três quadras são reservadas apenas para pedestres; a Avenida Las Heras, rua com produtos populares e regionais e outras importantes ruas da área central da cidade.
                    Chegou anoite, e quando da passada em um bar, com mesas na rua, chamou a atenção uma jovem que tranquilamente bebia um copo de chope, enquanto dois ratos, da espécie branca, circulavam por cima da sua cabeça, pelos ombros e pescoço. Gilda pediu para fotografar e ainda lhe foi endereçada uma pergunta ao que respondeu: - "son dóciles. son mascotas".
       O jantar ocorreu nas redondezas do hotel, seguido de uma passagem pela Plaza de La Independência, onde estava rolando uma feira de produtos artesanais. 
             Este foi o último passeio programado em Mendoza
Outro dias de muitas caminhadas. Retorno para o Hotel

        A
princípio, havia um dia extra reservado para visitar algumas vinícolas, mas os parceiros decidiram dispensar essas visitas, já que há muitas no Rio Grande do Sul e que diversos já as visitaram.
         No final, foi confirmado que a Seguradora Porto Seguro estaria enviando um carro guincho para a motocicleta e um táxi para o Arli, levando-o de Mendoza a Porto Alegre
Através de mensagens no WhatsApp, os motoristas Emanuel e Juan, de Mendoza, estariam no hotel às 9 horas para organizar a partida rumo ao Brasil.

* Esta foi a segunda utilização pelo Arli, em viagem internacional, para rebocar esta mesma motocicleta, bem como trazer o piloto. Da vez anterior, aconteceu na Bolívia, em  Cochabamba, novembro de 2018, no Giro de Moto pela América, quando o grupo retornava para o Brasil depois de ter passado pelo Deserto do Atacamano ChileMachu-Picchu no Peru e La Paz, a capital da Bolívia.  A Seguradora Porto Seguro, por meio deste mesmo corretor o Jorge Luis Oliveira Stravalacci, deu toda a assistência e apoio, tal qual desta vez neste Giro Andino de Motos.
Deste grupo aqui, apenas o Afonso e eu, estávamos naquele  Giro de Motos pela América
Abrimos este parêntese para reafirmar da importância de um seguro, principalmente para quem gosta de se aventurar. 
                O bom seguro é aquele que agente nunca usa. 
    Mas o melhor seguro é aquele que quando você precisa, 
ele está perto de você.   
Gilberto Cesar.

Mendoza, mais do que páginas de histórias
foi distância encurtada, pela vontade e determinação


A quarta-feira, 16
Dia de cruzar a fronteira com o Chile e a Ruta dos Caracoles. Grandes Expectativas.

Madrugaram os viageiros, eis que ainda não eram 7 horas e a movimentação nos cômodos do apartamento já podia ser sentida. Aos poucos as bagagens começaram a ser remontadas, as vestes motociclísticas foram sendo vestidas, aconteceu o café da manhã e a direção foi o estacionamento em frente, para a busca das motocicletas. Arli também pegou a sua moto, deixando-a estacionada, bem à mão, na frente do hotel. Aconteceram então as despedidas para com o parceiro que estaria desta forma abreviando o seu percurso. Foram abraços carinhosos, algumas brincadeiras, risos, fotografias e deu-se a partida. De retorno antecipado, o grande parceiro, que para sua segurança, preferiu os serviços de reboque frente a avaria no amortecedor do veículo se preparava para retornar. Como sempre, viajar com o Arli é agradável, eis que bonachão, companheiro que está sempre disposto para passeios e aventuras.
A despedida ao Arli - Mendoza - Hotel Milennium
Os viageiros se acomodaram, os motores foram acionados, os aceleradores pressionados e, ao grito de Capacete! a viagem foi retomada.
           Aos poucos, aquelas belas imagens do centro da cidade foram se tornando mais distantes. Apesar do trânsito intenso, isso não atrapalhou o percurso, e logo a Ruta 40 foi alcançada. 
          De acordo com o itinerário, o grupo iria passar pela Represa Potrilhos, Uspallata, Puente Inca, Parque Provincial de Aconcágua, Túnel do Cristo Redentor e, finalmente, pela fronteira com o Chile
      Após rodar pouco mais de 25 km, localidade de Três Esquinas, aconteceu a troca de rodovia, da Ruta 40 para a Ruta Nacional 7, onde o clima tornou-se bastante nublado e um vento moderado, mas gelado, começou a soprar. 
     Os primeiros sinais das altas montanhas e vastos descampados indicavam que as primeiras elevações da Cordilheira dos Andes estavam se tornando visíveis. A paisagem mudou radicalmente à medida que a rodovia, em uma ascensão acentuada, parecia rasgar o solo avermelhado repleto de pedras.
Os primeiros sinais das Montanhas

Córregos, pedras e montanhas

       Em um certo momento, a estrada realmente atravessou as montanhas, e o som das motocicletas ecoava nas falésias de ambos os lados. Ao fazer uma nova curva, a beleza impressionante da paisagem fez com que o líder sinalizasse para parar. As motocicletas foram estacionadas no acostamento para que, depois, pudessem ingressar em um mirante do outro lado da via.
      Uau!
            Que legal!
            Que espetáculo!             De tirar o fôlego!             Nossa, isso é incrível!             Vamos tirar fotos, galera!            
 Estes e muitos outros comentários foram ouvidos diante de tanta beleza. As primeiras montanhas altas estavam ali, e em cada direção que se olhava, a Cordilheira Andina se apresentava majestosa. 
         Tudo era deslumbrante. Tudo era fantástico.
 

            A 
pausa nesse local foi prolongada, cheia de entusiasmo e alegria. Foi necessário usar a palavra “capacete” para que os viajantes, fascinados, tomassem seus lugares novamente.
              Mais adiante, e ao longe, os primeiros sinais de neve no cume de uma montanha. Um brilho branco ou uma película de algodão, tudo parecia ser ou se assemelhar nos pensamentos formados a partir das vistas que a tudo miravam.
Os primeiros sinais do gelo nas montanhas
A comemoração pelo visual


       A velocidade era moderada, os olhares concentrados, mas a mente viajava através das paisagens. Como guardar todas aquelas cenas? Como registrar as imagens? Como não deixar escapar nenhum detalhe? Felizmente, a Gilda e a Julia estavam lá, capturando tudo com suas câmeras. Ah, essas câmeras integradas nos celulares são nossa salvação para preservar memórias.
      O grupo seguiu em frente, alcançando distâncias deslumbrantes até que, em um cruzamento, apareceu um posto de gasolina com uma lanchonete e algumas poucas casas, após todo aquele vasto aparente vazio cercado por rochas. 
Era hora de parar para um café; isso ficou claro quando a motocicleta à frente acionou o pisca-pisca, sinalizando uma pausa na jornada.
    Um lugar acolhedor onde se pode saborear um bom café acompanhado de várias gagetitas e media-lunas, pães sempre abundantes por toda a Argentina. Fez-se o reabastecimento nas motocicletas, exceto a Julia, que disse estar bem de combustível.
Parada para um bom café em meio a quase nada

     No mesmo lugar, alguns veículos chegaram e deles começaram a desembarcar bicicletas. Era um grupo de ciclistas que pretendia explorar a região pedalando. Uma das bicicletas tinha o pneu traseiro completamente murcho. Um deles se aproximou dos motociclistas para perguntar se havia alguma bomba de ar disponível. Imediatamente, Paulo respondeu que tinha o equipamento e voltou à sua moto retornando com um Compressor de Ar e Calibrador Digital Portátil. Um verdadeiro achado que ele trouxe para essa viagem. 
Em poucos minutos, o pneu da bicicleta foi inflado, deixando os ciclistas contentes por terem resolvido o problema do amigo.
     Logo após, elogiei o Paulo pela perspicácia em trazer um item tão útil e essencial para quem viaja pelas estradas. 

Paulo, utilizando o Compressor Portátil
        Retomada a viagem, as paisagens ao longo da rodovia continuavam deslumbrantes. Após cerca de meia hora de estrada, chegamos à Represa de Potrerillos, um famoso lago turístico da área. O local é simplesmente maravilhoso, com um vasto lago estendendo-se por quilômetros e uma água de uma tonalidade azul impressionante. A represa foi inaugurada em 2003 com o objetivo de controlar as cheias dos rios na região e também para a geração de energia. Neste lago, é possível efetuar passeios de barco, efetuar acampamentos e desfrutar das belezas do entorno. O sossegado lugar, tem uma rica fauna e a presença de pequenos pássaros é notável e agradável, eis que se aproximam das pessoas principalmente em havendo algum tipo de alimento. Paulo se valeu de um saco com bolachinhas e os animaizinhos fizeram o festerê.

O Mirador do Lago
Paulo, alimentando os passarinhos

O belo lago

    Hora de partir. Capacete!
      
      Todos estavam em suas motos, quando chegaram ao local, alguns motociclistas que foram rapidamente reconhecidos como aqueles que se hospedaram no mesmo hotel que os viageiros na cidade de Paso de Los Libres, quando do início da viagem pelo território argentino.
     Muitos cumprimentos ocorreram e logo se seguiu em frente, mas com uma nova parada a cerca de 2 km adiante. Uma grande loja à beira da estrada oferecia souvenirs e artesanato típico da região. 
Sem hesitar, acelerei a moto até me aproximar do líder daquele momento, o Alberi, para realizarmos uma visita. 
         As motos foram estacionadas em frente ao estabelecimento, onde um imenso Condor feito de material rígido chamou bastante atenção.
O Condor é uma das aves símbolo da Argentina, com plumagem negra e asas enormes, típica das regiões montanhosas do país.
       Dentro da loja, o silêncio foi rapidamente quebrado. Todos conversavam, admiravam os produtos, faziam perguntas, tiravam fotos e compravam itens variados. A diversidade era impressionante e bastante ampla. O atendente e proprietário explicava e mostrava os produtos com satisfação geral entre os visitantes.
         Vários itens foram adquiridos ali, aumentando o volume das bagagens, ainda que fossem de pequeno porte.

Loja de Artesanato
Na loja, Alberi encontrou um chapéu de Cowboy
e mandou ver ....


                A jornada prosseguiu com a sensação de subida cada vez mais intensa, devido às inclinações e montanhas ao redor. Após percorrer 50 km, o grupo chegou ao Mirante de Uspallata, um lugar de beleza natural incrível, cercado por altas cadeias de montanhas e gelo nos cumes.
A emoção foi incontestável, com gritos de alegria e lagrimejares de satisfação ao contemplar a paisagem.
Ver, sentir e ouvir: sentimentos que afloraram e dominaram os seres naquele momento, com a quase certeza da exclamação interior:        Deus, meu Deus! ... Aqui estou!
Que sensações maravilhosas, que emoções fortes e que vontade de permanecer no ambiente por um bom tempo, seja em pé, sentado ou saltitando, pois tudo fascinava.
      Uspallata é a localidade argentina mais próxima do Monte Aconcágua, caracterizada pela constante presença de neve e invernos rigorosos. Historicamente, foi uma base para o exército de San Martin durante a campanha militar de 1817 em direção ao Chile.
      Pouco depois, o grupo avistou, ali próximo, quatro motociclistas, que se encontravam sentados em pequenos bancos, próprios para serem carregados nas motocicletas. Eram dois casais brasileiros, de Santa Catarina, com os quais também haviam se encontrado em Paso de Los Libres no início da viagem. Com eles, algumas conversas quando ainda uma das motociclistas se ofereceu para efetuar algumas fotos dos gaúchos naquelas incríveis paisagens.
Mirante, Gelo e Alegria


Mirante de Uspallata, recanto do silêncio intenso



                                                                                                                                                                         Paulo que encontrara um esqueleto de uma cadeira pelo encontro, até improvisou uma cervejada, com uma lata vazia, também encontrada no local, quando disse: nem precisa de geladeira ou freezer, a cerveja fica geladinha com esta temperatura .....
       Depois de um bom tempo, começaram os preparativos para a retomada do deslocamento, quando os relógios indicavam ser um pouco mais do meio dia. O sol brilhava, o vento era frio e a altura fascinava. Mas era a hora da partida; então: Capacete, viagerios! Os motores voltaram a ser acionados e a direção foi para a cidade, Uspallata.     Em pouco mais de meia hora, pequenas casas foram avistadas ao longo da estrada e, uma placa indicava: Comedor, ou seja, local que serve refeições. As motos foram direcionadas, e logo estacionadas na frente de uma residência típica, bastante envidraçada, onde se podia ver labaredas de fogo.

É aqui, falou o Afonso. Matar a fome, disse Júlia.

O grupo ingressou o local denominado "La Estância de Ellias" que não tinha nenhum cliente, quando o casal, proprietários, disse que todos os pratos eram a base de carnes e batatas fritas. Que eram preparados a partir do pedido, logo, teríamos alguma demora.
    As diversas respostas foram positivas e todos abancaram-se tendo havido conversas animadas e risos sem que a espera programada para trinta minutos perturbasse os viajantes.
O prato, ao ser servido, foi bem especial. A carne era saborosa e as batatas eram gigantescas. Tudo ocorreu bem, exceto quando do pagamento eis que houve uma pequena discussão sobre os valores, que a proprietária incluíra a "propina" que são as gorjetas no Brasil.
Alguns pagaram a tal propina, outros não e, por fim, todos deixaram do local.

                Retomada a viagem, a tarde se transcorria, os cenários encantavam cada vez mais e houveram mais duas paradas para contemplação e registros fotográficos. Em uma destas paradas, Julia informou que a sua motocicleta houvera acusado "reserva" quanto ao combustível.
Pouco depois chegou-se a um conglomerado pequeno, a região era de Polvaredas, onde o prédio de uma guarnição militar era o mais imponente, seguido de um restaurante, onde vários carros, possivelmente turistas, se encontravam estacionados.
O grupo estacionou e coube a mim ir até as proximidades deste restaurante, de modo a indagar a respeito de um posto de combustível.
        - Depois da divisa com o Chile, em Los Andes, a uns 100 km, foi a resposta que obtive de um senhor que estava saindo do estabelecimento.
Frente a isso a solução preventiva foi reforçar o combustível na moto da motociclista.
  Em meus alforges, busquei uma mangueira para o transporte da gasolina.
    No chão, Afonso encontrou uma garrafa pet de 1 litro.
    Da moto do Paulo foram sacados algo em torno de dois litros, eis que este falara ter autonomia suficiente para a rodagem.
    Alberi se encarregou, sob vários olhares, de fazer a sucção e depois o assopro na operação combustível.
Guarnição Militar

Restaurante

         Operação gasolina para Júlia


        Seguiu-se em frente, no entanto, duas coisas foram extremamente notadas: o gelo estava por todos os lados e a velocidade empreendida era altíssima. Alberi que liderava naquele momento, mantinha o punho cerrado.
Ao redor, as coisas voavam e rapidamente passavam, assim como os dois pontos turísticos listados para visitação: a Ponte Inca e o Parque Provincial do Aconcágua, dois km de distância um do outro, depois de termos percorrido 24 km.
Cheguei a acelerar bastante para alcançar o líder, quando então, parados, avisei que havíamos cruzado pelos locais turísticos.
    - Não vimos nenhuma placa.
    - Havia alguma indicação
    - Era ali?
Depois de diálogos monossilábicos, ficou acertado que quando do retorno de Santiago, se faria a parada a esses dois pontos visitação.
    Serpenteando muitas paisagens geladas, o grupo passou por diversos e belos túneis, para depois, em 19 km lograr o maior deles, o Túnel Cristo Redentor, local das divisas da Argentina com o Chile.

        Chegava ao fim o Giro Andino de Motos em solo argentino.
Neste trajeto de ida, foram rodados  1.560 km
Posto de Controle antes da divisa entre os países

A ultima montanha argentina na Cordilheira

Território Chileno




Fotos: Gilda Valdameri
           Julia  Schnaider

Texto: Gilberto Cesar






                         Obstáculos, são desafios nas mais diversas formas;   Para superá-los, é mister haver-se da humildade paciência e resistência.
                                                                                Gilberto Cesar